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Três órgãos históricos com “pronúncia italiana” vão tocar em Évora

26 jun, 2019 - 11:41 • Rosário Silva

Depois de uma operação de restauro em Itália, os três órgãos da Igreja de S. Francisco, construídos por Oldovino, apresentam-se em concerto onde se misturam antigo e o contemporâneo para mostrar o melhor da musica policoral.

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Os três órgãos históricos da Igreja de S. Francisco, em Évora, construídos por Oldovino, vão ouvir-se num concerto a realizar a partir das 18h00 do dia 29 de junho, dia de S. Pedro e feriado municipal.

É uma espécie de celebração inaugural depois destes órgãos terem beneficiado, durante um ano, de uma grande operação de restauro, em Verona, orientada pelo organeiro italiano Michel Formentelli, em parceria com a oficina de restauro de S. Francisco.

“Sendo instrumentos italianos, era importante dar-lhes pronúncia italiana, e nada melhor do que alguém que conhecesse bem a organaria, e esta recuperação permitiu fazer algumas descobertas e que fossem utilizados materiais e técnicas antigas, respeitando a história e a sonoridade originais destes instrumentos”, explica à Renascença, o organista titular da Igreja de S. Francisco, Rafael Reis.

O organista, que acompanhou o processo, é também o mentor do concerto onde vão tocar, em simultâneo, os três instrumentos construídos no séc. XVIII pelo organeiro Pascoal Caetano Oldovino: o da Capela-Mor, o da Tribuna Real e o mais pequeno, que se encontra no transepto direito da nave e tem a particularidade de ter sido o órgão pessoal de Oldovino, deixado em testamento à igreja de S. Francisco.

O organeiro genovês chegou a Évora em 1742, pela mão de D. Frei José Maria da Fonseca e Évora, contratado, precisamente, para fazer um novo órgão para a Igreja de S. Francisco. Oldovino acabou por ficar a residir na cidade, onde montou uma oficina, tendo construído mais de trinta órgãos para todo o Alentejo.

O fulgor de três órgãos entre o antigo e o contemporâneo

Para dar expressão a tanto potencial, e por falta de fontes musicais em S. Francisco, Rafael Reis acabou por recorrer ao arquivo da Sé “para pesquisar o que temos de melhor na nossa musica policoral”, até de acordo com a prática até ao final do século XVIII, em Évora.

Tendo a possibilidade de apresentar três instrumentos, o organista culminou a sua pesquisa com a transcrição de obras que mostram o que de melhor existia na Europa em policoralidade, ou seja, a musica com vários coros que se distribui por vários espaços da igreja.

“Vamos interpretar, por exemplo, o “Ecce Nunc”, um salmo de louvor e jubilo ao Senhor, com quatro coros, quatro grupos instrumentais; um excerto da obra “Miserere” de José António dos Reis, a três coros; e uma musica muito interessante, até vanguardista para a época, de André Rodrigues Lopo, para dois coros”, salienta.

“Queremos dar uma pequena cor daquilo que se fazia na altura, mas como é uma inauguração, digamos assim, vamos dar voz, naturalmente, aos órgãos a solo, em diálogo e aos três em simultâneo”, acrescenta Rafael Reis, lembrando que a musica contemporânea também vai estar presente através de Eurico Carrapatoso.

“É um dos nomes mais importantes, atualmente, da composição em Portugal e acolheu muito bem o nosso convite, escrevendo duas obras propositadamente para este concerto e que vamos poder ouvir dia 29 de junho”, assegura o organista.

Apesar de estar na linha da frente da organização, Rafael Reis não quer perder a oportunidade de sentar-se “no órgão pessoal do Oldovino”, por isso o concerto vai ser dirigido pelo maestro Octávio Martins.

Cerca de meia centena de pessoas estão envolvidas na apresentação deste trabalho, “um longo trabalho de pesquisa”, que o musico, deseja, “seja meritório e que eu esteja à altura de tão importante função”.

O concerto do próximo sábado marca o arranque do Ciclo de Concertos de Órgão de Igreja de S. Francisco que acontece entre os meses de julho e novembro em alguns concelhos do Alentejo: Évora, Alvito, Arronches, Almodôvar, Sousel e Elvas.

A paróquia de S. Pedro de Évora (Igreja de S. Francisco), a Direção regional de Cultura do Alentejo, os municípios envolvidos e as respetivas dioceses, são os parceiros desta iniciativa que arranca no sábado, dia 29 de junho, dia de S. Pedro e data em que a cidade de Évora celebra o seu feriado municipal.

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  • Manuel da Costa
    30 jun, 2019 Sydney 05:01
    Mais uma vez aqui fica demonstrado, não haver organeiros portugueses a quem um Restauro pode ser confiado, desde 1974. Organeiros estrangeiros são solicitados, e consultantes acreditados nesta matéria, parece que ignorados!

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