21 jun, 2019 - 11:19 • Liliana Carona
Rio de Mel, fica a cinco quilómetros de Palhais. Por ali já houve muito mel, muitas crianças e muita vida, contam os mais velhos.
“Se der duas voltas à aldeia, vai ser difícil encontrar mais alguém para entrevistar”, sorri António Santos, 89 anos, que não nega ter ficado descontente com a notícia de mais um encerramento na freguesia: o jardim de infância vai mesmo fechar portas.
Em Rio de Mel, a porta do jardim de infância ainda se abriu à nossa presença, mas professora e auxiliar não foram autorizadas a prestar declarações. Seguimos para ouvir a população. Armando Loureiro, 68, já viu fechar a escola primária há cerca de dez anos e, agora, o fecho do jardim de infância rouba-lhe a alegria dos dias. “Se as coisas não melhorarem, isto fica deserto, os mais jovens saem à procura de emprego, os velhos acabam, está tudo fechado. A malta não gostou, mas ninguém se opôs e agora não temos cá ninguém. Acho mal, gostávamos de ter cá as coisas, a população fica mais pobre, trazia mais vida. Fica-se aqui sem ninguém, sem escola, sem nada”, desabafa.
Armando há muito que não tem filhos a estudar, mas João Silva, 41 anos, tem o filho, de quatro anos, no jardim de infância de Rio de Mel. Enquanto trabalha no campo, está sempre de olho no pequeno, mas a vida vai mudar.
“Acho mal fechar, o jardim foi feito cá na terra, era para continuar, mas os que têm as divisas é que sabem. Ele deve ir de autocarro, mas ainda não sei o futuro. Era de continuar o jardim de infância”, diz, visivelmente desorientado.
Opinião diferente tem o presidente de Câmara de Trancoso, Amílcar Salvador, argumentando que os três jardins de infância não reuniam condições para mais um ano letivo. “Estes jardins de infância estavam a funcionar em instalações rudimentares e deficitárias. Nem refeitórios, nem bibliotecas, nem recreios cobertos tinham e, por isso, vamos concentrá-los todos em Palhais, num novo centro escolar”, revela.
O Centro Escolar da Ribeirinha, em Palhais, é inaugurado esta sexta-feira. Foi edificado em pouco mais de um ano, num terreno cedido pelo coronel Orlando de Campos Sobral.
O projeto de 640 mil euros foi elaborado pelos técnicos da câmara, candidatado a fundos comunitários, tendo a autarquia gasto pouco mais de 100 mil euros. A nova escola surge para dar resposta às freguesias mais longínquas da sede de concelho: Torre Terrenho, Sebadelhe da Serra, Rio de Mel, Vila Novinha, Castanheira, entre outras.
“Tem biblioteca, cozinha, recreio coberto, coisas que estas crianças nunca tiveram. Espaços e alimentação adequada sem apanharem frio ou chuva, esta escola tem capacidade para 60 a alunos, mas deveremos ter entre 25 a 30 alunos”, refere o autarca Amílcar Salvador. Descontentamento ou alegria pelas alterações, bom era que não faltasse de futuro, o mais importante: as crianças. “Grande é a poesia, a bondade e as danças, mas o melhor do mundo são as crianças”, conclui o autarca.