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Conferência Renascença/Randstad

​Mais do que destino de férias, Portugal deve vender-se como sítio “onde vale a pena estar”

18 jun, 2019 - 16:49 • Cristina Nascimento

Ideia foi defendida pelo antigo secretário de Estado Adolfo Mesquita Nunes numa conferência promovida pela Renascença e Randstad sobre “A Marca Portugal – um valor com futuro”. A dificuldade de reter e recrutar talentos por parte das empresas foi um dos problemas apontados.

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O antigo secretário de Estado do Turismo Adolfo Mesquita Nunes defende a ideia de que a marca Portugal deve apostar em vender-se como um “território onde vale a pena estar”.

“Devemos deixar de olhar para a marca Portugal como um destino turístico, porque isso está ultrapassado. Nós não nos queremos vender como um destino turístico, mas como um território onde vale a pena estar, seja para estudar, seja para viver, trabalhar, testar, seja para nos isolar”, diz Adolfo Mesquita Nunes, um dos oradores da conferência promovida pela Renascença e Randstad sobre “A Marca Portugal – um valor com futuro”.

O ex-dirigente do CDS teve uma das intervenções mais críticas da conferência. Num dos momentos considerou que “é uma mentira que as pessoas queiram acabar com a burocracia”. Toda a gente pede mais burocracia diariamente, não sabe é que o pede. A sociedade pede mais qualidade e segurança. Se formos ver a burocracia em Portugal quase toda é sustentada na ideia de garantir a qualidade e garantir a segurança”, diz Mesquita Nunes, dando depois um exemplo de quando foi governante.

“Fui secretário de Estado Turismo. Chego tenho uma secretária vazia. A primeira pressão é para eu fazer uma lei”, garante.

Mesquita Nunes considerou ainda que “Portugal tem um problema sério e grave com o talento, mérito e esforço”. Segundo o antigo governante este “é um problema cultural”. “Nós não gostamos de quem se destaca e queremos evitar que alguém se destaque”, afirma.

“Vir para Portugal é como ir para África, é vir em missão”

Nesta conferência foi possível ouvir o testemunho de cinco cidadãos comuns que partilharam a sua experiência de viver e trabalhar em Portugal. Um dos testemunhos ouvidos foi de Diana Prata, neurocientista do Instituto de Biofísica e Engenharia Biomédica da Universidade de Lisboa. Diana Prata esteve 12 anos fora e resolveu voltar para Portugal, com a ajuda de alguns programas europeus.

Chegada a Portugal, reconhece que “há uma vontade do Estado em trazer-nos para cá, mas o terreno não está fértil para trazermos coisas inovadoras”. No entanto, refere, “cá há muito por fazer”. “Vir para Portugal é como ir para África, é vir em missão, é vir para fazer coisas”, diz.

A questão da exportação de cérebros portugueses, o regresso a Portugal e a retenção de talentos foi um dos temas que esteve quase sempre presente ao longo da conferência. José Miguel Leonardo, diretor executivo da Randstad Portugal, abriu a conferência reconhecendo que "é cada vez mais difícil recrutar os talentos que as empresas necessitam".

Na mesma linha, Inês Veloso, também da Randstad, revelou os dados de um estudo que avaliam se Portugal é ou não um destino de trabalho. As conclusões não são animadoras: de acordo com a OCDE, Portugal não fica bem colocado nos três critérios avaliados - salários, estabilidade e qualidade do ambiente de trabalho.

Sejam quais forem as visões todos parecem estar de acordo que Portugal tem a ganhar com “dar mundo” aos seus alunos e profissionais. Nesse sentido, Rita Batista Marques, presidente da Portugal Ventures, lançou uma ideia: promover um “Erasmus” dos alunos do ensino profissional no ensino superior e dos trabalhadores da Função Pública nas empresas.

Estratégias para o futuro de Portugal

Mas afinal por onde devem passar as apostas de Portugal? O turismo não é consensual. “Turismo, já chega”, diz Sara Serrão, investidora em pequenos projetos turísticos no Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina.

Sara Serrão garante que “até no sudoeste alentejano já não se consegue cumprir a promessa que se apresenta a quem os procura”. “É uma invasão brutal, muito mais no verão, como é óbvio”, descreve. Sara Serrão garante que como está, está na medida certa: “temos os turistas certos, que vêm apreciar o que temos, pessoas com poder de compra, que vêm em épocas habitualmente mais baixas, está tudo certo”.

Já o mar parece ser um setor que ainda não está suficientemente explorado, advertem alguns oradores da conferência e há quem avance outro setor: a energia sustentável.

Desta conferência, destaque ainda para outro apelo específico que se fez ouvir. Stephan de Morais, da Indico Capital Partners, defende uma reformulação da legislação laboral para acomodar as diversas realidades empresariais.

“Há um país mais tradicional, com fábricas, negociação coletiva, etc... mas depois há um país que é feito de PME’s, empresas dinâmicas que não se coadunam com este tipo de realidade”, diz.

Apelo à criação de um Museu das Descobertas

De bloco de notas em punho durante toda a conferência esteve Pedro Lomba, antigo secretário de Estado adjunto e dos Assuntos Parlamentares. Coube a este convidado a tarefa de encerrar a conferência, desafiando-o a destacar algumas das ideias e mensagens que mais reteve.

No entanto, Pedro Lomba foi mais longe e lançou alguns reptos, um deles muito concreto: “parece-me inexplicável que em 2019 não haja em Portugal um Museu das Descobertas”. Lomba considera que o tempo dos Descobrimentos faz parte da “marca Portugal” e, por isso, defende que seria obrigatório existir um espaço dedicado a este tema.

Outra urgência assinalada por Pedro Lomba passa pelo dia-a-dia de quem vive em Portugal. “Tive de ir renovar o meu cartão de Cidadão a Almada porque, perto da minha área de residência, só conseguia marcar vaga para daqui a uns meses. Não podemos ter um discurso para os estrangeiros e ter outro para os que vivem cá”, rematou.

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