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Escrever para os jovens “é uma grande responsabilidade”

11 jun, 2019 - 08:20 • Ângela Roque

Professora e cronista, Marta Arrais fala à Renascença do novo livro feito em conjunto com Emanuel António Dias. ‘Com o Coração nas Mãos’ reúne 52 reflexões, que os dois escreveram para o site iMissio, um projeto de evangelização na internet.

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“Este livro oferece essencialmente tempo e espaço para que as pessoas possam pensar sobre coisas que normalmente não têm muito tempo para pensar no dia a dia, refletirem sobre o que pode não estar a correr muito bem nas suas vidas, e talvez aqui encontrem um ponto de partida para melhorar a partir do que leem. No fundo, é um convite”, começa por explicar à Renascença Marta Arrais. Com apenas 33 anos acaba de lançar um novo livro de crónicas, desta vez em conjunto com Emanuel António Dias, de 25.

Os dois jovens escrevem no site iMissio, um projeto de evangelização na internet, que começou em 2012. “Começou por ser uma coisa de amigos, que queriam partilhar algumas coisas, ideias sobre o voluntariado. Acabou por crescer de uma maneira que nós deixámos de controlar, mas de uma forma muito boa”, conta Marta, que não esconde o orgulho de ali ser cronista.

“Tem sido muito importante. Costumo dizer que o iMissio foi um ponto de partida para tudo o que está a acontecer agora. Sem ele não existiriam estes livros”, afirma, numa referência ao primeiro que lançou, ‘Descalça as tuas feridas’, em que também reuniu várias das suas crónicas. No mais recente, ‘Com o coração nas mãos’, que vai ser apresentado dia 15, na Feira do Livro de Lisboa, estão 52 reflexões, “uma para cada semana do ano”, explica.

Através do iMissio, o que escrevem chega sobretudo aos jovens, mas não só. “É engraçado, temos feedback das várias idades. Há pessoas mais velhas que se identificam muito e que encontram nos textos uma forma de pensar nas suas vidas, e nos dizem frases como 'era mesmo isso que eu estava a precisar de ler hoje'. É muito interessante”, conta Marta, que valoriza também a forma como os mais novos reagem ao que lêem. “Fazem coisas que nos surpreendem em absoluto, como agarrarem nas várias crónicas, imprimirem, e fazerem o seu próprio livro pessoal. Também há grupos de jovens que meditam naquelas crónicas e naqueles textos. Usam isto para crescer na fé, e para caminhar como grupo. São duas abordagens muito interessantes”, diz.

Mas, é importante que estas reflexões estejam agora também em livro? Marta não tem dúvidas que sim. Para além de ser uma forma de “chegar a mais gente”, as crónicas quando estão todas juntas acabam por “ter mais impacto”.

“Inspiro-me nos pequenos detalhes”

Professora num colégio em Lisboa, Marta Arrais tem feito voluntariado, em Portugal e no estrangeiro, com as irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus e com os irmãos de São João de Deus, que trabalham na área da saúde mental. A experiência que lhe “mudou a vida”, também a ajuda quando tem de escrever, mas diz que se inspira sobretudo no que vive e partilha no dia a dia.

“Encontrar material para escrever todas as semanas é um desafio muito grande, e acabo por me inspirar em pequenos detalhes, em pequenos pormenores, em conversas que tenho com os meus amigos, com outras pessoas, e penso 'este era um bom tema para desenvolver como crónica'. E então, agarro nisso e penso sobre isso”, conta.

A experiência de docente também ajuda, porque sabe o que preocupa os mais novos, e como comunicar com eles. Mas, é fácil escrever para os jovens? “Eu acho que é fácil, mas ao mesmo tempo é uma grande responsabilidade, porque hoje têm toda uma série de apelos ao nível tecnológico, ao nível social, e quase nos passam a ideia de que não precisam de ler nada para pensar. Mas, não é bem assim”, diz Marta Arrais, que garante que os jovens se interessam e são capazes de reflexões mais sérias, sobre a vida, sobre Deus, sobre os sonhos e o futuro. “Eles interessam-se, sim, e acabam por nos surpreender e por nos ensinar muito sobre como podemos valorizar aquilo que é simples”.

A experiência com o iMissio tem mostrado que é importante que haja autores católicos, jovens, a escrever sobre temas relacionados com a fé e a espiritualidade, com uma linguagem que todos entendam, e sobretudo com que os jovens se identifiquem. “Se não houver uma linguagem que seja a linguagem da vida, a linguagem de todos os dias, é natural que os jovens não se identifiquem tanto. Se não falarmos daquilo por que passam, se for um tipo de texto com o qual não se identificam, que não tenha a ver com o contexto deles, claro que não vai fazer sentido. Por isso, o mais fácil é ser simples, optar por uma linguagem clara”, explica.

Alguns textos podem ser vistos como orações. “Alguns grupos de jovens, com quem contacto mais de perto, usam as crónicas para rezar, ainda que as minhas não sejam construídas com esse propósito - as do Emanuel são mais - mas é engraçado ver como num texto que não fala propriamente de Deus, diretamente, eles encontraram nessas palavras uma forma de rezar. É muito interessante”.

Sobre o título escolhido para o livro, ‘Com o coração nas mãos’, Marta Arrais explica que foi para “mostrar às pessoas que escrevemos com o coração”.

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