Emissão Renascença | Ouvir Online
A+ / A-

​Na Europa “é o tempo de agir”, diz Mário Centeno

02 jun, 2019 - 21:35 • Maria João Costa

O ministro das Finanças e presidente do Eurogrupo participou na apresentação do livro "A Europa não é um pais estrangeiro" do economista José Tavares, editado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos. Ouviram-se protestos.

A+ / A-

O termómetro estava acima dos 30 graus, mas Mário Centeno não bebeu a água que tinha em cima da mesa. Perante a plateia que foi assistir ao lançamento do livro “A Europa não é um país estrangeiro”, do economista José Tavares, na praça da Fundação Francisco Manuel dos Santos, na Feira do Livro de Lisboa, o ministro das Finanças e presidente do Eurogrupo foi uma espécie de entrevistado do seu amigo e autor do ensaio.

No rescaldo das eleições europeias, Mário Centeno começou por fazer de analista e afirmar que, hoje, a Europa encontra-se, “do ponto de vista económico e financeiro, numa posição absolutamente invejável face ao resto do mundo”.

Na leitura do presidente do Eurogrupo, este é, contudo, “o momento de agir, porque a Europa tem todos os instrumentos económicos, financeiros, sociais e culturais para poder reagir aos desafios que se colocam.”

Um dos desafios foi trazido à conversa por José Tavares. O economista da Universidade Nova quis falar sobre os nacionalismos que, segundo o seu olhar, são uma “caixa de pandora difícil de fechar”.

Mário Centeno assumiu logo que essa era “a pergunta mais difícil da tarde”. Numa plateia onde estava sentada a ex-ministra da Educação Maria João Rodrigues, Centeno começou por dizer que “a Europa das nações é uma Europa de paradoxos”. No olhar do presidente do Eurogrupo, há no entanto uma explicação para o surgimento dos nacionalismos que é quanto “os políticos tentam fazer diferenças pequenas grandes para criar espaço para si próprios. É assim que nascem comícios de indivíduos a lutar pelo seu nacionalismo que juntam diferentes nacionalismos no mesmo palco”.

As palavras de Mário Centeno foram interrompidas por uma popular que, no meio da feira, ao passar e ver o ministro das Finanças gritou: “ladrões”. Mas o político continuou a falar para acrescentar que “a Europa existe e só pode ser pensada a partir das suas nações e da sua diversidade. Essa diversidade é criativa e não deve ser restritiva”.

O presidente do Eurogrupo foi trazendo à conversa muita da sua experiência lá fora. Mário Centeno diz que há uma palavra essencial para a atuação política que é “tempo”, referindo que “quando os políticos se tornam ansiosos e perdem a paciências” as “respostas são incompletas e muitas vezes erradas” face aos problemas reais que a Europa enfrenta. “Este é o tempo para agir de forma estrutura, porque as questões que enfrentamos são complexas”, conclui Centeno.

Numa altura em que os Estados-membros debatem a questão do seguro europeu de depósitos, o responsável do Eurogrupo diz que é um “debate que não podemos atropelar”, esclarecendo assim a necessidade de este levar tempo.

Desigualdade e distribuição são dois problemas da Europa

Ao lado do seu amigo, José Tavares, Mário Centeno mostrou-se um otimista, mas com reservas. “A Europa hoje está num dos melhores momentos económicos e sociais”, afirmou o governante para logo de seguida levantar o véu de uma das feridas. “Há um problema grande que é a desigualdade” disse Centeno que acrescentou uma espécie de mea culpa: “Talvez não tenhamos trabalhado o suficiente em termos de distribuição”.

Para Mário Centeno, no entanto, “as nações são a vida da Europa e não o empecilho da Europa” e é nesse sentido que deve seguir a atuação. José Tavares levantou então a questão da solidariedade para dizer que “ainda há um longo caminho para que os alemães se sintam solidários com os portugueses”.

No entender deste economista que também é escritor e que assina com o pseudónimo José Gardeazabal, “o desafio é fazer com as outras políticas o que se fez com a do euro”, mesmo que isso signifique que “alguns têm de perder”.

Centeno, que disse discutir com Tavares qual deles é o mais europeísta, defendeu que “no projeto europeu somos todos beneficiários líquidos”. As palavras de Centeno voltaram a ficar marcadas pelos gritos da mesma popular que ao passar de novo pela praça da Fundação Francisco Manuel dos Santos continuou a protestar de viva vós, desta vez contra “a burguesia” e “as fronteiras abertas”.

De outras fronteiras falou Mário Centeno, as que poderão surgir na Europa com o Brexit. Na opinião do responsável do Eurogrupo, “a Europa vai perder, mas eles vão perder muito mais”. Centeno acha que o Reino Unido já percebeu que vai perder por isso é que “o processo político não tem sido linear”.

Mário Centeno considera que com o Brexit, a Europa “vai perder diversidade e uma visão muito importante sobre o processo de construção europeia”.

O titular da pasta das Finanças fala mesmo numa “alteração estrutural” e numa “perda” a partir da qual a Europa terá de se construir. Centeno disse ainda que os atuais Estados membros têm de “contribuir para que o processo seja pacífico, mas haverá um período que se vai refletir na Europa com o redesenho das relações económicas.

Numa tarde em que pela praça iam passando também alguns escritores a caminho das suas sessões de autógrafos, ouvimos Mário Centeno afirma em jeito de conclusão que “a Europa é um espaço de Nações e é assim que deve ser entendida, mas às vezes há uns que querem ir mais depressa. Se abdicamos da reflexão, isso é pronuncio de más decisões”, explicou Centeno.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

Destaques V+