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André Ventura. "Queremos mostrar que este sistema já não serve"

24 mai, 2019 - 18:04 • Eunice Lourenço

André Ventura diz que a União Europeia só se mete no que não interessa às pessoas e quer um referendo em Portugal sobre o regresso da prisão perpétua.

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Foi candidato à Câmara de Loures pelo PSD. Depois, criou um novo partido – o Chega – sendo agora cabeça de lista às eleições europeias pela coligação Basta, que inclui o Partido Popular Monárquico (PPM) e o Partido Cidadania e Democracia Cristã (PPV/CDC). É candidato a Bruxelas, mas trocaria o lugar por um assento em São Bento se fosse eleito nas legislativas.

Qual a principal mensagem que esta coligação pretende trazer a esta campanha?

O nosso grande objetivo é fazer abalar o sistema. Temos tocado em muitos assuntos europeus, mas queremos sobretudo mostrar aos portugueses que este sistema já não serve. Por isso é que dizemos Basta!

Quando fala em sistema que já não serve, em termos europeus, o que é que isso significa? Sair da UE, mudar as instituições...?

Sair da UE, ou mesmo do euro, no contexto em que estamos, seria catastrófico para Portugal. Está-se a ver com os ingleses. Só a extrema-esquerda é que defende a saída do euro, mais ninguém.

A grande necessidade que temos é de mudança interna dentro da UE. Vou dar um exemplo: sempre que houve violação das regras do défice por Portugal, Espanha ou Itália, houve sanções ou advertências, mas quando França tem o mesmo problema deixa-se passar sem qualquer advertência. Não podemos ter uma Europa a quatro, cinco ou seis velocidades, em que uns podem fazer tudo e outros não podem fazer nada.

Na verdade, o que está em causa nesta UE é muito simples: mete-se em tudo, desde a colher de pau ao tamanho do frasco do iogurte, e não se mete em coisas verdadeiramente importantes. Por exemplo, quem vive ao pé da fronteira paga o IVA a uma taxa e do outro lado já paga mais baixo.

A questão tributária ainda é considerada uma questão de soberania e não há impostos europeus...

... o que nos leva a pensar que as prioridades da União Europeia não foram bem conseguidas, porque tocaram em tudo o que não interessa às pessoas, e em tudo o que verdadeiramente interessa, como a segurança, impostos, representatividade, disseram "vai para lá". As pessoas foram tolerando a questão europeia por causa dos fundos.

"Quem fala em mais taxas devia ser multado"

Vou dar também o exemplo da Justiça. A UE fez várias apostas em branqueamento de capitais, fraude fiscal, mesmo ao nível penal, que era uma matéria tradicionalmente de soberania; ninguém se preocupou muito porque está em causa dinheiro. Porque é que nunca fez o mesmo no combate à pedofilia, por exemplo? As crianças não são importantes? Uma das grandes características da pedofilia é ser transnacional, é conseguir aproveitar a mobilidade entre os Estados. Isto leva-nos a pensar que se a UE, se não quer agir no crime, não quer agir nos impostos, então quer agir em quê?

Há uma ideia em relação ao Chega e a esta coligação de que são nacionalistas e soberanistas, mas o que me está a defender é o contrário, defende que a UE se meta mais na vida das pessoas...

Somos claramente por uma Europa de nações, mas não no sentido saudosista, é no sentido de respeitar povos e culturas que não têm dez dias, nem 80 dias, têm 800 anos. Agora, se existe uma UE e queremos um mercado livre, então que exista para o que interessa às pessoas. As eleições europeias não interessam a ninguém porque as pessoas olham para Bruxelas como algo distante, que não tem nada a ver com a vida delas. Mesmo a questão da islamização e da imigração islâmica, isso seriam questões que a UE devia tratar e não o faz. As prioridades estão todas trocadas.

Em relação às migrações, em que têm tido posições mais polémicas, o que é que defende?

Não queremos uma Europa-fortaleza, não queremos fechá-la àqueles que se aproximam, não podemos fechar portas a quem foge da guerra, da perseguição religiosa, de crimes sexuais, seria contrariar a nossa própria história. Agora, também não podemos dizer "entrem, usem e abusem". Há indivíduos que tentaram pedir asilo em 14 países com identidades diferentes. Isto traz consequências para a vida das pessoas, para a segurança, para a saúde. O que defendemos é que a União Europeia tenha controlos efetivos. Tem de haver troca de informações. A Europa tem de ser solidária, mas ao mesmo tempo tem de ter controlo nas fronteiras, senão deixa de ser Europa e passar a ser um espaço completamente aberto. Para vir viver dos nossos impostos, já temos cá muitos, não precisamos de mais.

Ainda voltando à questão dos impostos: PS e PSD assinaram um acordo sobre a criação de taxas europeias O que pensa sobre isso?

Esta ideia de que resolvemos problemas de ambiente taxando ainda mais os portugueses é um ultraje. Os nossos impostos não podem servir para salvar bancos ou para pagar a quem não quer fazer nada. Já estamos rodeados de impostos, há portugueses que pagam mais de 50% de impostos sobre o rendimento. Quem fala em mais taxas devia ser multado.

O cabeça de lista do PNR acusa o Basta de ser uma cópia descarada do PNR. O que lhe responde?

Os outros partidos, desde que começou esta campanha, preocuparam-se todos muito com o Chega e com o Basta. Isso é medo porque nós dizemos verdades.

É comentador da CMTV e conhecido benfiquista. Sente que é mais reconhecido por ser comentador e que isso pode favorecê-lo ou, pelo contrário, é desfavorável?

Quando o dr. Marcelo Rebelo de Sousa se candidatou a Presidente da República, tinha sido comentador 20 anos e ninguém se preocupou muito. Agora, desde que começou esta campanha, o André Ventura não pode estar na televisão, não pode escrever no jornal, está a aproveitar o Benfica ... Já era comentador e cronista antes de ser político, não é um 'hobby', é a minha vida profissional. Não sei se é positivo ou negativo, é o que é.

A questão da pena de morte e da prisão perpétua é uma questão que lhe ficou colada. O que é que defende e para que crimes?

Desde a campanha de Loures que houve uma tentativa muito grande da esquerda e até de alguma direita de me colar à pena de morte, de dizer que eu defendia a pena de morte. Num debate na TVI, na altura, disse foi que há democracia onde existe pena de morte. É um facto. Disse também, na altura, que não me chocava que, em alguns casos, existisse. Nunca disse que era favorável e sempre disse até que era contra a ideia de pena de morte porque é irreversível, porque não permite qualquer reversibilidade em caso de engano ou de uma total recuperação do individuo.

Outra coisa é termos a Justiça que temos hoje, as penas que temos hoje. Tivemos uma mulher que matou a filha e a deu de comer aos porcos e saiu da cadeia ao fim de oito ou nove anos. Não há país da Europa que não se ria disto. Quem me diz que isto não merece prisão perpétua?!

Aqui ao lado, em Espanha, há prisão perpétua. Estou convencido de que no dia em que tivermos um referendo sobre isto - e nós haveremos de fazê-lo - mais de 60% das pessoas vai apoiar. O que defendemos é a prisão perpétua, que seja revista de 25 em 25 anos para casos em que o indivíduo, ao fim de 25 anos, seja de facto uma pessoa diferente e tenha assumido a culpa e os seus erros - para crimes de homicídio em primeiro grau, para violadores em série...

Se for eleito para o Parlamento Europeu, vai ocupar o lugar ou vai candidatar-se a deputado na Assembleia da República em outubro?

Vou ocupar o lugar. Não lhe posso dizer como vão ser as eleições legislativas, porque o Chega foi aprovado há pouco tempo, vamos ter o nosso primeiro congresso em junho e é daí que sairá o candidato ás eleições legislativas. Não me quero excluir, nem apontar já nenhum nome. Assumirei o meu mandato no Parlamento Europeu, mas não escondo que estou-me nas tintas para as regalias que existem. A mudança tem de ser feita aqui e, portanto, se algum dia tiver de escolher entre o Parlamento nacional e o Parlamento Europeu, os portugueses podem estar certos de que escolherei o Parlamento nacional, porque é aqui que as coisas mudam.
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