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Opinião de Francisco Assis

"O espaço público europeu é ainda muito incipiente"

19 mai, 2019 - 22:11 • Francisco Assis (Eurodeputado do PS e comentador Renascença)

Apesar de semi-ausente a Europa, contudo, acaba por estar sempre presente. Ela está lá. Nos interstícios das palavras e na gestão dos silêncios. No que se propõe e no que se recusa. No que se proclama e no que se vitupera. Na verdade, nada do que é nacional escapa hoje ao horizonte europeu.

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Uma semana decorrida de campanha eleitoral e a Europa continua, aparentemente, muito distante do debate político português. Vários factores concorrem para que assim suceda: a proximidade das eleições legislativas que impele a uma nacionalização do confronto; a vertigem pela actualidade e pela superficialidade que domina a maior parte do tratamento jornalístico; a atracção por uma retórica sensacionalista de cunho mais emotivo do que racional; a natural propensão para a abordagem de assuntos mais próximos do quotidiano dos cidadãos no intuito de lhes despertar interesse eleitoral.

Diga-se em abono da verdade que foi sempre assim nas nossas eleições europeias e as coisas não se passarão de modo muito diferente nos outros países. É que a acrescentar aos motivos acima enunciados há uma razão de fundo para que o debate se processe, sobretudo, em torno de temas nacionais. O espaço público europeu é ainda muito incipiente e, por isso mesmo, a esfera nacional permanece como o campo inevitável de acolhimento da discussão democrática.

Apesar de semi-ausente a Europa, contudo, acaba por estar sempre presente. Ela está lá. Nos interstícios das palavras e na gestão dos silêncios. No que se propõe e no que se recusa. No que se proclama e no que se vitupera. Na verdade, nada do que é nacional escapa hoje ao horizonte europeu. Sabem-no os candidatos e não o ignoram os cidadão. E, por isso mesmo, é bem provável que estejamos perante um curioso fenómeno de codificação e de correspondente descodificação do discurso político. No fundo, os portugueses percebem muito bem o que cada força partidária pensa e propõe no plano europeu.

Não posso deixar de enunciar uma pequena nota crítica final. Tem havido excesso de ataques pessoais neste processo eleitoral. Isso é condenável por várias razões e incompreensível se tivermos em consideração a indiscutível qualidade política dos candidatos em liça. Conheço-os a quase todos e garanto que são dos melhores que existem na nossa vida pública.

O autor escreve segundo a antiga ortografia

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