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Paulo Morais: "Os partidos do sistema já mostraram que não sabem dar conta do recado"

18 mai, 2019 - 10:56 • Eunice Lourenço

Paulo Morais lidera a lista do Nós, Cidadãos e apresenta-se como uma alternativa ao centro, que luta contra a corrupção e tem preocupações ambientais.

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Com uma imagem há vários anos ligada à luta contra a corrupção, Paulo Morais foi candidato presidencial em 2016, ultrapassando os 100 mil votos (2,16 por cento). Se repetir o número pode ser eleito para Bruxelas na lista do partido Nós Cidadãos que, em segundo lugar, tem José Inácio Faria, eleito há cinco anos na lista do Movimento Partido da Terra (MPT)

Qual é a orientação, em matéria europeia, do Nós Cidadãos?

Destacaria três marcas. Uma é, claramente, o combate à corrupção e o combate pela transparência na União Europeia e na sua relação com os países. Não permitiremos que os fundos europeus que são canalizados para os vários países e em particular para Portugal, em vez de se destinarem ao progresso, ao desenvolvimento e à qualidade de vida sejam canalizados para alimentar um enorme carrossel de corrupção como aconteceu em Portugal.

Nesse aspeto, os deputados portugueses têm uma triste experiência de ter verificado que muitos dos fundos que deveriam ter sido devidamente aplicados, foram aplicados em corrupção no Fundo Social Europeu, no Feoga, e nas parcerias público-privadas rodoviárias. Tudo isso são obras feitas com fundos europeus, passando pela Ponte Vasco da Gama, pelo Euro 2004, pela Expo 98. Por isso, o combate à corrupção na transferência de fundos europeus para os países será um dos nossos combates. Não permitiremos mais que os fundos europeus sejam transferidos de forma opaca e alimentando este carrocel da corrupção.

Essa imagem do combate à corrupção está muito ligada ao seu percurso...

Essa é a luta de uma vida.

Acha que tem como que um lastro de combate à corrupção que o ajuda nesta campanha?

Acho que sim. As pessoas conhecem-me, conhecem a natureza das minhas ideias, a convicção que tenho a defendê-las. Penso que isso é um ativo importante para a candidatura.

Uma segunda marca é, claramente, a questão ambiental. Aliás, somos herdeiros da candidatura anterior, onde está o eurodeputado José Inácio Faria, que trabalhou nos últimos cinco anos no Parlamento Europeu e irá continuar a trabalhar nas questões ambientais e na área da saúde. Defendemos o cumprimento dos acordos de Paris, a descarbonização da economia, a reutilização, que é fundamental em toda a Europa e, em particular, em Portugal. Espero que em Portugal não continue a acontecer o que hoje acontece: os cidadãos utilizarem para lavar os carros ou regar os jardins a mesma água que usam para beber, água potável.

Um dos primeiros pontos da agenda do novo parlamento europeu serão os problemas climáticos e nós lá estaremos para defender os cidadãos na defesa do planeta, até porque não há planeta b, mas também em questões que têm a ver com a saúde, com os medicamentos. Quando voltar ao Parlamento Europeu a permissão sobre utilização ou não de glifosatos e outros produtos votaremos seguramente contra porque estamos a favor de uma agricultura biológica e natural, contra produtos químicos usados de forma massiva, estamos na defesa dos cidadãos, do ambiente.

Estão em concorrência direta com o PAN?

Não sei com quem estamos em concorrência direta, mas esta é uma marca desta candidatura. O número dois da lista que encabeço foi considerado um dos três deputados do Parlamento Europeu na defesa da interconexão entre o ambiente e a saúde.

E há uma terceira marca que é a proximidade com os portugueses. Instituiremos o gabinete do eurodeputado em Portugal e funcionará como a provedoria dos cidadãos nacionais. Pelo facto de serem europeus. os portugueses, têm um conjunto de direitos que habitualmente não exercem. Muitos que nos ouvem não sabem que um cidadão português, pelo facto de denunciar uma situação irregular numa câmara ou numa direção geral, não pode ser perseguido porque há hoje uma diretiva de proteção de denunciantes. No nosso gabinete funcionaremos como verdadeiros provedores dos cidadãos portugueses garantindo-lhes os direitos que a cidadania europeia lhes confere.

Para além da experiência eleitoral como candidato presidencial em 2016 é um conhecedor do sistema eleitoral. Que expetativa tem de conseguir ser eleito. Quanto é que é preciso?

Infelizmente, como vai votar muito pouca gente, qualquer grupo de 80 ou 90 mil eleitores elege um deputado europeu. Digo isto não com grande alegria - embora saiba que pode beneficiar esta candidatura -, mas digo com alguma mágoa. Na última eleição já foi enorme e acho que agora vai ser maior.

Se, na última eleição, 120 mil votos elegiam um deputado, provavelmente na próxima eleição 80 ou 90 mil votos elegem um deputado europeu, o que acabará por favorecer forças emergentes, como é o caso do Nós cidadãos, pelo qual me candidato, mas isto é negativo para a democracia. Não vou ficar contente por ter elegido mais deputados e a democracia estar mais fraca. E o que é facto é que, hoje, queiramos ou não, a democracia em Portugal está moribunda e a culpa é dos políticos. Uma parte significativa da classe política empobreceu a democracia nos últimos 20 anos porque utilizou a política, que é uma das mais nobres facetas da vida social, para duas atividades fundamentais: arranjar negócios e permitir negócios aos financiadores dos partidos tradicionais e arranjar empregos para os seus apaniguados. Com mais empregos e tachos tem mais votos, com mais votos têm mais poder, permitem mais negócios, arranjam mais dinheiro e depois fazem campanhas de maior dimensão e conseguem mais apaniguados. Temos que quebrar este ciclo vicioso.

Há duas razões de fundo que presidiram ao nascimento desta candidatura que junta movimentos cívicos, cidadãos, o partido Nós Cidadãos. Todos se congregaram nesta candidatura com dois objeitos. Primeiro, ajudar a combater a abstenção: queremos pedir ás pessoas que votem, que votem, seja em nós ou não, mas de preferência em nós. Mas, para além disso, era importante que os cidadãos desesperados, desalentados com este tipo de funcionamento da política percebam que há uma alternativa sem terem de recorrer à extrema-esquerda ou à extrema-direita.

É meu entendimento que os partidos do sistema - do bloco total de interesses que se expressam no Parlamento, o PS, o PSD, O CDS, o Bloco e o PCP - já mostraram que não sabem dar conta do recado. É necessário que os cidadãos tenham uma alternativa sem terem de recorrer nem à extrema-esquerda, nem à extrema-direita. Os cidadãos sabem que têm aqui uma alternativa ao centro do espectro político e não estão a correr atrás de extremismos.

Comentários
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  • Anibal Martins
    18 mai, 2019 Lisboa 13:11
    "Albert Einstein disse uma vez, ' insanidade está em fazendo a mesma coisa repetidamente e esperando um resultado diferente, ' Ó MINHA LINDA GENTE... DESTA VEZ... VOTA DIFERENTE... VOTA INDEPENDENTE. Acorda Portugal... Juntem-se a " NÓS " ... Numa Só Voz! Independentes ao poder que se lixem os Partidos... A nossa partidocracia tem ruinado a nossa Democracia. Em Portugal a Constituição de 1976 estabeleceu uma democracia representativa, mediada pelos partidos políticos... para os partidos, amigos e familiares! Quatro décadas depois, pretende-se apurar a importância real dos Partidos. De facto, nos últimos quarenta anos os partidos praticamente monopolizaram a representação política nos diferentes níveis de governo em Portugal. No entanto, as últimas duas década foram marcadas pela alteração da competição partidária, especialmente devido à introdução de um novo partido, e à alteração constitucional de 1997, que permitiu a candidatura de movimentos de cidadãos às eleições autárquicas... mas ainda não as legislativas... Isto contribuí para colocar em questão o funcionamento dos dois maiores partidos que ocupam o poder desde 1976. Embora não seja o foco deste texto, termino esta nota com uma curta referência à importância de acabar com o monopólio dos partidos na apresentação de listas de candidatos. O monopólio político dos partidos na apresentação de candidaturas aos lugares de deputado é muito mau para a democracia. Em linguagem usada em certas correntes da economia, redunda em instituições políticas "não inclusivas" ou "extractivas" - o que mais tarde ou mais cedo corrompe também as instituições económicas, que também se tornam "extractivas" (o que se tem verificado em Portugal). Este monopólio político faz com que, em cada eleição, o grupo de cidadãos que podem ser candidatos seja artificialmente "afunilado" a grupos restritos de cidadãos "de primeira" amigos e familiares. Este "afunilamento" fere a democracia nos seus princípios fundamentais, pois uma democracia assenta nos direitos políticos dos seus cidadãos: www.facebook.com/notes/jorge-tavares/diferenças-entre-democracia-e-partidocracia/617140321704949 No sistema português, quem tem a possibilidade de ser candidato é, na prática, um privilegiado em termos de direitos de representação política. No entanto, essa selecção dos privilegiados não passa por nenhum crivo democrático...os partidos somente escolhem amigos e familiares. Notem que a "democracia interna" dos partidos não é verdadeiramente democracia, pois só está aberta a um grupo muito restrito e que apenas se representa a si próprio - uma oligarquia constituída por familiares e amigos! A nossa partidocracia tem ruinado a nossa Democracia. O que sustenta a partidocracia é o nosso sistema eleitoral. Muitos portugueses julgam que "vivem em democracia", porque têm o "voto". Mas poucos olham para o que esse voto decide: muito pouco. A verdade é que os portugueses não têm os mesmos direitos políticos que os restantes europeus. Só são "cidadãos" para pagar impostos, portagens, taxas e "rendas". Mas quando se olha para a representação política que devia ser o outro lado da moeda, constata-se que não têm nenhuma. Os portugueses não têm sequer o direito básico de cidadania que é poder escolher o candidato em que gostariam de votar para os representar no parlamento. O nosso sistema eleitoral é por vezes incluído no grupo dos "sistemas representativos" - mas isso é só por mera conveniência técnica e académica. Na prática, é um logro. Para um sistema eleitoral ser representativo, é essencial que permita uma relação directa entre as preferências dos eleitores e a ida de determinado candidato para o parlamento. Um "representante" só o é, se for escolhido pelos representados, preferido entre várias opções. É precisamente esta, a diferença entre "votar" e "eleger". No meu dicionário, um partido não é "eleito"; apenas pessoas o são. Os "cidadãos" portugueses são votantes mas não são eleitores - excepto no caso do (semi-)presidente da república - um cargo não executivo e não legislativo. O Povo vai e deve continuar a lutar contra esta partidocracia que nos nega a verdadeira DEMOCRACIA. Acorda Portugal... Juntem-se a " NÓS " ... Numa Só Voz! … Apoiamos Coletes Amarelos!

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