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Europeias 2019

“Se todos dizem mal uns dos outros, em quem é que vamos votar?”

17 mai, 2019 - 21:58 • Eunice Lourenço

Campanha começou com muito ruído. Direita opta pelo ataque ao Governo, esquerda tenta mostrar trabalho.

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O sr. José, que a Paula Caeiro Varela ouviu em Trancoso, ainda não decidiu em quem votar. De certeza que vai votar. Por dever moral, como diz. Mas, com uma caneta do PSD numa mão e um postal do PS na outra, continua sem saber em quem. “Vem um diz mal, vem outro diz mal. Se todos dizem mal uns dos outros em quem vamos votar?”

Este bem pode ser o sentir de muitos eleitores. Isto quando sabem que há eleições europeias no próximo dia 26. Sim, há gente que ainda nem deu por isso. E muitos políticos e especialistas receiam a maior abstenção de sempre numas eleições que, tradicionalmente em Portugal, sempre tiveram uma abstenção elevada.

Vários protagonistas até consideram que estas são as eleições mais importantes desde que votamos para o Parlamento Europeu, mas não contribuíram para a mobilização. Pior, encheram a campanha de ruído, daquele ruído que só interessa aos próprios e a um punhado de politiqueiros.

Paulo Rangel a acusar Pedro Marques de só fazer campanha em espaços fechados por ter medido de sair à rua, o candidato socialista a deixar-se enredar nesse discurso e a arranjar à pressão uma voltinha pela Praça do Giraldo, em Évora. Cristas a falar da má cara de Pedro Marques que, por sua vez, tinha falado do candidato “engraçadinho” do CDS. O PSD e CDS a usarem e abusarem do tema dos incêndios para atacarem o Governo. Pedro Marques e António Costa a responderam com acusações de “campanha negra”, uma expressão que Sócrates tanto usou.

Já mais para o fim da semana, algum bom senso terá entrado nas campanhas e o ruído baixou um bocadinho. Ainda assim, como notava o Pedro Filipe Silva no São Bento à sexta -- ele que nesta semana só não foi à campanha do PS --, há uma clara diferença entre esquerda e direita nesta campanha: PSD e CDS optam pelo ataque e pela critica ao Governo e até pedem demissões de ministros, enquanto que PCP e Bloco preferem salientar o que fazem, seja a nível nacional, seja a nível europeu.

Claro que entre PCP e o Bloco também há uma espécie de rivalidade muito própria. Cada um quer mostrar mais trabalho na Europa e maior capacidade de influência cá dentro.

Nos próximos dias, os partidos da antiga coligação governamental vão como que voltar ao passado. No PSD, vão aparecer Passos Coelho e Manuela Ferreira Leite, no CDS Paulo Portas há-se participar num jantar. Ainda está para provar se valem mais ou menos votos. Por seu lado, no PS António Costa vai desaparecer da campanha segunda e terça devido a compromissos internacionais.

Ainda há uma semana para aproveitar. Se não for para discutir a Europa – esse tema tão importante, mas tantas vezes tão vago e chato – que seja pelo menos para mobilizar eleitores. É que a abstenção é mesmo o principal adversário da União Europeia e nem todos têm o sentido cívico do sr. José da feira de Trancoso, que vai votar porque sim: “Votar tenho que votar. Moralmente vou votar. “

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