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FITEI 2019

Teatro para construir "pontes" com o Brasil e "corrigir assimetrias" em Portugal

15 mai, 2019 - 16:34 • Redação

42.ª edição do Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica arrancou a 8 de maio e prolonga-se até dia 25 com eventos no Porto, Matosinhos, Gaia e Viana do Castelo.

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Em marcha desde 8 de maio, naquela que é já a sua 42.ª edição, este ano o Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica (FITEI) tem um foco especial em artistas brasileiros. Em parceria com o DDD – Dias da Dança – o objetivo é promover espetáculos e artistas de vários países, não apenas de Portugal e do Brasil, mas também do Chile e da Argentina. E com os artistas lusos, desta vez o FITEI quis dar palco a companhias instaladas fora de Lisboa e do Porto.

"O FITEI tem esta obrigação de olhar para as companhias que estão fora dos grandes centros urbanos e culturais" para "corrigir assimetrias", defende Gonçalo Amorim.

Em entrevista à Renascença, o diretor artístico do festival, que este ano se prolonga até 25 de maio com eventos no Porto, Matosinhos, Gaia e Viana do Castelo, adianta que o foco no Brasil tem como objetivo "criar pontes" artísticas entre os dois países, sobretudo dado o momento de tensão que se vive no Brasil e que levou alguns dos artistas convidados a expressarem "a sua angústia" face aos cortes orçamentais na Cultura e Educação decididos pelo Governo de Jair Bolsonaro.

"É um momento difícil para estes artistas e queremos dar-lhes visibilidade aqui no Porto", explica Gonçalo Amorim. É, em parte, por isso que o FITEI decidiu dar espaço a peças de artistas do outro lado do Atlântico, "uma forma muito vibrante de reagir" aos acontecimentos recentes em terras de Vera Cruz. Essa reação fica a cargo de companhias que, garante o diretor artístico do festival, se distinguem pela "qualidade artística e performativa".

As peças em cena relacionam-se com questões de “diversidade, afropolitismos e diversidade de género”, como é o caso de “Preto”, uma peça afetada pelo racismo e não sobre o racismo em si, ou “Colônia”, que usa a colonização não para se vitimizar, mas para se afirmar.

“Teatro português ou Teatro em Portugal?”

Já esta quarta-feira, estreia no Palácio do Bolhão uma "História Ilustrada do Teatro Português", uma peça de artistas portugueses, escrita por João Telmo para contar "a história de uma entidade abstrata que se chama teatro português", explica à Renascença o diretor Martim Pedroso.

Marina Albuquerque dá corpo a essa entidade, personificando-a num contexto muito particular: o facto de o teatro em Portugal nunca ter tido uma escola, explica o diretor, torna o teatro nacional “mais livre” na sua busca por vários estilos.

Para João Telmo, não se trata de um espetáculo só baseado em “factos reais”, tem também aspetos ficcionados. "Tentámos desprender-nos do peso de isto ser uma história fidedigna", explica o guionista à Renascença.

Isto porque, ressalta, "o teatro português não tem uma exatidão cronológica". Há, inclusivamente, acontecimentos que tiveram de ser apagados de forma a que a peça não durasse "uma decalogia".

A falta de uma escola e as várias falhas cronológicas na História do teatro português, que terá começado há cerca de 20 séculos, traz uma questão final à peça: “Será que temos Teatro Português ou Teatro em Portugal?”

Até 25 de maio, ensaiam-se respostas a esta e a outras perguntas, com espetáculos e exposições de artistas como Márcio Abreu, Grace Passô, André Guerreiro Lopes, Renato Livera e Luciana Lara. Todos são uma estreia no país ou na região.

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