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Trump-Rússia

"Oh meu Deus, isto é terrível. É o fim da minha presidência"

18 abr, 2019 - 16:31 • Redação

Leia aqui as partes mais explosivas do "relatório Mueller" sobre a investigação às suspeitas de conluio entre Trump e a Rússia, divulgado esta quinta-feira com algumas partes censuradas.

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Eis os pontos mais sensíveis do chamado "Relatório Mueller", um documento de 448 páginas compilado pela equipa do procurador especial Robert Mueller com as conclusões da sua investigação ao alegado conluio entre a Rússia e a equipa de campanha de Donald Trump para garantir a eleição do empresário nas presidenciais de 2016.

  • Quando Jeff Sessions, à data procurador-geral dos EUA (cargo correspondente ao de ministro da Justiça), disse ao Presidente que o Departamento de Justiça ia nomear um procurador especial para investigar as suspeitas de conluio, Trump exclamou: "Oh meu Deus, isto é terrível. É o fim da minha presidência. Estou tramado."
  • Ao contrário do que William Barr, o procurador-geral dos EUA (cargo correspondente ao de ministro da Justiça), divulgou esta quinta-feira, ao negar que Trump tenha cometido qualquer obstrução à Justiça no decorrer da investigação de Mueller, no relatório (onde se detetaram 10 episódios de possível obstrução) Robert Mueller descreve “evidências sobre as ações e intenções do Presidente” que poderiam resultar em atividade criminosa. “Mesmo este relatório não concluindo que o Presidente cometeu um crime, também não o exonera”, lê-se.

  • Tal como o procurador-geral William Barr, também o Presidente dos EUA, através do Twitter, já veio garantir que “não há conluio [com a Rússia] nem há obstrução à Justiça”, lembrando que “acabou o jogo para os 'haters'”, leia-se, democratas. No entanto, e pese embora não aponte, de facto, conluio, o relatório de Mueller fala de “numerosos contactos” entre a campanha de Trump e a Rússia. “Embora tenham sido identificados numerosos contactos entre indivíduos com ligações ao Governo russo e indivíduos ligados à campanha de Trump, não foram encontradas provas suficientes de um eventual crime”, lê-se. A investigação de Mueller revela igualmente que “em alguns casos, a campanha [de Trump] foi recetiva” às ofertas do Kremlin, esperando ser “beneficiada eleitoralmente com informações roubadas e liberadas através de esforços russos”.

    O procurador-especial lembra, como exemplo da aproximação entre as partes, a reunião, a 9 de junho de 2016, entre o filho mais velho de Trump, Donald Trump Jr., e a advogada russa Natalia Veselnitskaya, com o objetivo de recolher informações danosas para a reputação de Hillary Clinton. No entanto, refere o relatório, esta informação “não é suficiente” para avançar com uma acusação de violação da lei do financiamento de campanhas. Certo é que, e o relatório também o diz, quando o Presidente dos EUA soube que Robert Mueller investigava esta reunião, o próprio Donald Trump deu “ordem” para que ninguém do seu circulo próximo “divulgasse publicamente informações” sobre o que lá sucedera e se conversara. A ex-diretora de comunicações de Trump, Hope Hicks, ter-lhe-á respondido que “o e-mail que agendou a reunião de 9 de junho foi ‘muito mau’ e a história seria ‘maciça’”, lê-se no relatório hoje tornado público. Em resposta a Hicks, Trump pediu-lhe (à diretora mas também ao genro, Jared Kushner) que “deixasse o assunto em paz”.

    Noutra parte do relatório é referido também que foi o próprio Trump pai que impediu o filho, Trump Jr., de divulgar um comunicado que este se prepararia para fazer à comunicação social e onde admitiria que o que pretendia com a reunião era obter mais informações sobre Hillary Clinton. A parte referente aos objetivos da reunião foi eliminada do comunicado. “Em muitas ocasiões, o Presidente deu ordens aos seus assessores para que não tornassem público o conteúdo dos e-mails relacionados com a reunião na Trump Tower, sugerindo que não haveria forma de estes serem tornados públicos e recomendando que se limitasse o número de advogado com acesso aos mesmos”, lê-se.

  • O célebre “quem não deve, não teme” não se aplicará ao Presidente norte-americano. É que apesar de ter declarado a derrota dos ‘haters’ democratas em todo este processo, apesar de os seus advogados já terem esta quinta-feira declarado “vitória total” sobre aqueles [é implícita a referência a Robert Mueller e ao ex-diretor do FBI James B. Comey] que elaboram um “esquema para fazer descarrilar” Trump, no relatório percebe-se que o Presidente tentaria, por todos os meios, demitir Mueller.

    A referência é a 17 de junho de 2017, dia em que Trump “chamou Donald McGahn [seu antigo conselheiro da Casa Branca] e ordenou-lhe que falasse com o procurador-geral [Rod Rosenstein] e lhe dissesse que Mueller não podia continuar à frente da investigação devido a um conflito de interesses”, reforçando Trump a Donald McGahn: “Mueller tem que sair”. Ora, o antigo conselheiro não seguiu as ordens, pediu a Trump que ligasse, ele mesmo, a Rosenstein, e face à insistência do Presidente, optaria por demitir-se, evitando um “potencial Massacre de Sábado à Noite” – numa referência à tentativa do Presidente Richard Nixon de afastar o procurador especial que investigava Watergate.

  • Muitos se questionavam sobre qual seria a razão para que o procurador especial Robert Mueller não tenha entrevistado pessoalmente o Presidente dos EUA. A resposta dá-a o próprio Mueller no relatório. E recorda que, “embora houvesse uma justificação legal para intimar Trump a comparecer a uma entrevista presencial", preferiu não o fazer porque isso atrasaria a investigação. Mais: face a tudo o que o procurador especial já havia recolhido, “havia material suficiente para entender determinados acontecimentos e avaliá-los devidamente”.

    Mas Robert Mueller enviou perguntas a Trump, mais precisamente 49 perguntas, sobre o conluio entre aqueles que lhe eram mais próximos e a Rússia, bem como sobre uma possível obstrução à justiça. Às perguntas que respondeu, o Presidente norte-americano respondeu de forma “incompleta ou imprecisa”. Àquelas a que não respondeu – “mais de 30”, diz o relatório –, optou por escrever que “não se lembra", "não tem memória" ou "não conseguiu formular lembrança independente”.
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