09 abr, 2019 - 22:36 • Tiago Palma
Volte-face. Mais um. Depois de a Câmara dos Comuns ter aprovado, esta terça-feira, a lei que autoriza (na verdade, obriga) a primeira-ministra Theresa May a solicitar à União Europeia uma extensão do Artigo 50.º e consequente (assim pretendem os britânicos) adiamento do Brexit até dia 30 de junho – evitando uma saída já a 12 de abril –, depois de May se ter hoje desdobrado em reuniões (em Berlim, primeiro, com a chanceler alemã Angela Merkel, e em Paris, logo em seguida, com o Presidente francês Emmanuel Macron) em busca de apoios para trazer da cimeira especial do Conselho Europeu de amanhã uma extensão do Brexit, parece que, no último esforço, tudo acabou por ruir.
Segundo avança o Guardian na noite desta terça-feira, os líderes europeus deverão rejeitar este pedido de adiamento curto, optando, antes, por sugerir aos britânicos uma extensão maior, preferencialmente até março de 2020 ou, no mínimo, até ao final deste ano.
Uma ideia, aliás, que Donald Tusk, o presidente do Conselho Europeu, já havia deixado no ar durante a tarde, quanto a imprensa começou a fazer circular a carta-convite que este dirigiu aos líderes da UE para a cimeira especial de amanhã. Nela, Tusk sugere que “conceder tal extensão [até 30 de junho] aumentaria o risco de uma série contínua de curtas extensões”. “Isso, por seu lado, iria quase certamente ofuscar os trabalhos da União Europeia nos próximos meses", conclui o presidente do Conselho Europeu.
Tusk considera, por isso, que os líderes da UE a 27 deverão, sim, discutir uma extensão alternativa, mais longa do que aquela pedida por May, “que duraria apenas o tempo necessário, não mais de um ano”.
O Guardian teve entretanto acesso a um draf da cimeira de quarta-feira, podendo ler-se no documento que, caso a extensão (e nunca a curta) seja aceite, exige-se ao Reino Unido “o compromisso de agir de maneira construtiva e responsável ao longo deste período”, bem como o “dever de cooperação sincera”, esperando a UE que os britânicos “cumpram esta obrigação do tratado [extensão] de uma forma que reflita a sua situação como Estado-membro” e que se “abstenham de qualquer medida que possa comprometer a realização dos objetivos da União”.
O mesmo é dizer que o Reino Unido terá sempre que participar nas eleições europeias (que se realizam entre 23 e 26 de maio), eleger deputados e participar nos planos de longo prazo da UE, bem como em nomeações e decisões orçamentais.
A questão que agora se coloca é: resistirá Theresa May a mais um derrota humilhante? A resposta é uma incógnita, mesmo falando-se de uma primeira-ministra que resistiu, até agora, a três rejeições do seu acordo no Parlamento, bem como a uma moção de censura, em dezembro último, do próprio partido.
Certo parece ser que os deputados não pretendem uma Brexit sem acordo, pois sabem que uma saída desordenada acarretaria o risco de uma longa recessão.