03 abr, 2019 - 16:17 • Filipe d'Avillez
A violência na Nigéria continua a provocar centenas de mortes entre cristãos e muçulmanos.
Os conflitos assumem contornos complexos de natureza inter-religiosa e interétnica e colocam frente a frente os fulani, que são na maioria muçulmanos e pastores e os adana, que são na maioria cristãos e agricultores.
As alterações climáticas e demográficas têm levado a um aumento de situações em que fulani e adana entram em conflito, com os primeiros a procurar zonas de pastoreio para o seu gado e a entrar em territórios tradicionalmente pertencentes aos adana. O fator religioso não parece ser o motivo principal da violência, mas sim uma agravante.
Num relatório enviado à fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), o padre William Kaura lamenta que uma sucessão de ataques nas últimas semanas “reduziram muitas aldeias a escombros e elevaram o nível da crise humanitária para uma extrema gravidade”.
O sacerdote, que trabalha na diocese de Kaduna, que é uma das que mais tem sido afetada pela violência, diz que a violência exercida pelos fulani é impressionante. “Nem os animais matam as pessoas assim”, escreve, sublinhando que o cuidado dos feridos e das vítimas está a ser assumido exclusivamente pelas comunidades cristãs, enquanto as autoridades nada fazem.
Embora a maior parte dos atos de violência tenham sido praticados por muçulmanos contra cristãos, também tem havido episódios de represálias. Num caso recente membros da comunidade adana mataram 130 fulanis.
A violência já levou à fuga de cerca de 10 mil pessoas das suas casas.
Segundo a AIS, no espaço de poucos dias dois padres foram raptados. Um, John Bako Shekwolo, está desaparecido, mas outro, Clement Ugwu, acabou por ser encontrado morto.
A Nigéria é o país mais populoso de África e em termos religiosos divide-se mais ou menos a meio entre o norte muçulmano e o sul cristão. Nas zonas onde existe mais mistura entre as duas comunidades a violência inter-religiosa é comum.