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Não é possível discutir o emprego no Mediterrâneo sem falar de migrações

02 abr, 2019 - 08:00 • Ana Carrilho

Os ministros do Emprego de 43 países da União para o Mediterrâneo reúnem-se nos próximos dois dias em Cascais para discutir “Emprego, Competências e Oportunidades para todos”.

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Apesar de não constar da agenda oficial, o tema das migrações vai fazer parte de todas as discussões da reunião dos ministros do Emprego de 43 países da União para o Mediterrâneo (UfM). O encontro decorre nos próximos dois dias, em Cascais, sob o tema “Emprego, Competências e Oportunidades para todos”.

O ministro português Vieira da Silva preside à conferência e, em declarações à Renascença, admite que migrações e emprego estão associados. “Por um lado, a União Europeia precisa de ter mercados inclusivos, precisa de migrantes e de mercados de trabalho disponíveis para os integrar. Do outro lado – dos países do sul do Mediterrâneo e em que há situações políticas, económicas, sociais e culturais diversas – entra a dimensão do investimento, das trocas comerciais e da criação de condições para fortalecer os mercados de trabalho. Por si só, nenhum consegue; trabalhar em conjunto poderá gerar resultados mais positivos”, explica o ministro.

Desta quarta Conferência UfM vai sair a Declaração de Lisboa. O texto final ainda não está concluído mas Vieira da Silva refere algumas prioridades. A generalização de uma dinâmica de criação de emprego, com combate à informalidade e “formalização” na linha do conceito de Trabalho Digno definido pela Organização Internacional do Trabalho e a valorização do mercado de trabalho inclusivo.

Mas, para o ministro do Trabalho, o ponto mais relevante tem a ver com a educação e a formação profissional. E confessa esperar que nos próximos três anos se venham a estabelecer instrumentos de cooperação mais práticos, que possam ajudar a que estas prioridades se concretizem.

Ainda não se sabe onde terá lugar mas já está prevista a realização da quinta Conferência UfM sobre o Emprego em 2022.

União para o Mediterrâneo: 43 países e tantas diferenças

Da União para o Mediterrâneo fazem parte 43 países: os 28 da União Europeia e outros 15 do Sul do Mediterrâneo; a Síria está suspensa desde 2011.

Da Argélia, Mauritânia ou Marrocos, até à Suécia e Finlândia as realidades são muito diferentes. E em geral, os países do Sul do Mediterrâneo têm mais problemas: rendimento per capita consideravelmente mais baixo, taxas de desemprego altas, com os jovens a dobrar ou a triplicar a taxa dos trabalhadores adultos, falta de competências profissionais e muitas dificuldades para a integração das mulheres no mercado de trabalho.

Nalguns países, os governos têm vindo a investir na educação, mas a criação de emprego ainda não é compatível com as necessidades de trabalho para tantos jovens. Por exemplo, na Argélia, a viver uma crise económica, mais de metade dos 42 milhões de habitantes tem menos de 30 anos e quase um terço não tem emprego. Os estudantes são quase dois milhões e têm liderado a contestação a regime argelino.

No Egito, a taxa de desemprego ronda os 9%, mas os jovens ainda continuam a ser os mais sacrificados. Ainda assim, depois das revoltas, o país assinou um pacto de 10 mil milhões de euros com o FMI com o objetivo de estimular o crescimento da economia e reduzir o desemprego.

As diferenças mais flagrantes registam-se entre Israel e a Palestina, os dois vizinhos em guerra permanente. Cerca de 28% dos palestinianos não têm emprego; na Faixa de Gaza, a taxa ultrapassa os 43%. Do outro lado da fronteira, com pouco mais de 3%, Israel tem uma das taxas de desemprego mais baixas a nível global.

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