02 abr, 2019 - 10:52 • Filipe d'Avillez
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“Se já o escutaste, não importa, eu quero recordar-to: Deus ama-te. Nunca o duvides, suceda o que te suceder na vida. Em qualquer circunstância, tu és infinitamente amado”.
É assim que o Papa começa o quarto capítulo da sua exortação apostólica sobre os jovens “Cristo Vive”, que foi divulgada esta terça-feira pelo Vaticano.
Depois de mais de 70 páginas marcadas por um tom mais formal, e com muitas citações do documento final do sínodo e de outras publicações da Santa Sé, o Papa parece libertar-se e fala cara-a-cara com os jovens a quem se dirige, usando um estilo emocionado e cativante.
“A experiência de paternidade que tiveste talvez não tenha sido a melhor, o teu pai da terra talvez fosse distante e ausente ou, pelo contrário, dominador e absorvente. Ou então, pura e simplesmente, não foi o pai de que tu precisavas. Não sei”, escreve Francisco, antes de convidar os jovens a procurar essa referência em Deus. “Ele te sustentará com firmeza e, ao mesmo tempo, sentirás que Ele respeita até ao fundo a tua liberdade.”
Recorrendo a passagens bíblicas, o Papa elenca diversos trechos que descrevem o amor de Deus pelos homens e depois conclui que “Para Ele és realmente valioso, não és insignificante, és importante para Ele, porque és obra das suas mãos. Por isso te presta atenção e te recorda com carinho”.
“Tenta ficar um momento em silêncio, deixando-te amar por Ele. Tenta silenciar todas as vozes e gritos interiores e fica por um instante nos seus braços de amor”, diz Francisco, acrescentando que a Deus “não o incomoda que lhe apresentes as tuas interrogações, aquilo que o preocupa é que tu não fales com Ele, não te abras, com sinceridade, ao diálogo com Ele”
Depois o Papa passa à “segunda verdade” que quer transmitir aos jovens: “Cristo salva-te”, dizendo que “Os seus braços abertos na Cruz são o sinal mais precioso de um amigo capaz de chegar até ao extremo”.
“Olha a sua Cruz, agarra-te a Ele, deixa-te salvar”, diz, “e se tu pecas e te afastas, Ele volta a levantar-te com o poder da sua Cruz”.
Esta é uma verdade que atribui a todos um valor infinito. “O seu perdão e a sua salvação não são uma coisa que comprámos ou que tenhamos de adquirir com as nossas obras ou com os nossos esforços. Ele perdoa-nos e liberta-nos de graça. A sua entrega na Cruz é uma coisa tão grande que nós não podemos nem a devemos pagar, só temos de recebê-la com uma gratidão imensa e com a alegria de termos sido tão amados antes ainda de o podermos imaginar.”
“Jovens amados pelo Senhor, quanto valeis vós, se fostes redimidos pelo sangue precioso de Cristo!”
E, por fim, a terceira verdade que dá atualidade às restantes: Ele vive. “Ele vive! Devemos voltar a recordá-lo com frequência, pois corremos o risco de tomar Jesus Cristo apenas como um bom exemplo do passado, como uma recordação, como alguém que nos salvou há dois mil anos. Isso não nos serviria de nada, deixar-nos-ia iguais, não nos libertaria. Aquele que nos enche com a sua graça, aquele que nos liberta, aquele que nos transforma, aquele que nos cura e nos consola é alguém que vive. É Cristo ressuscitado”.
"Deixa-te enamorar"
Francisco desafia então os seus leitores a fazerem um exercício mental. “Contempla Jesus feliz, transbordante de júbilo. Alegra-te com o teu Amigo que triunfou. Mataram o santo, o justo, o inocente, mas Ele venceu. O mal não tem a última palavra. Na tua vida, o mal também não terá a última palavra, porque o teu Amigo, que te ama, quer triunfar em ti. O teu salvador vive.”
E, alcançada esta verdade, há que a transmitir aos outros, conclui Francisco. “Se conseguires apreciar, com o coração, a beleza deste anúncio e te deixares encontrar pelo Senhor, se te deixares amar e salvar por Ele, se travares amizade com Ele e começares a conversar com Cristo vivo sobre as coisas concretas da tua vida, será essa a grande experiência, será essa a experiência fundamental que sustentará a tua vida cristã. Essa é também a experiência que poderás comunicar a outros jovens.”
É nestas três verdades, diz o Papa, que os jovens poderão encontrar a resposta para os seus corações que procuram a intensidade do amor e da paixão: “Precisas de amor? Não o encontrarás no desenfreamento, usando os outros, possuindo os outros ou dominando-os. Achá-lo-ás de uma maneira que te fará verdadei-ramente feliz. Procuras intensidade? Não a viverás acumulando objetos, gastando dinheiro, correndo, desesperado, atrás de coisas deste mundo. Chegar-te-á de uma forma muito mais bela e satisfatória se te deixares impulsionar pelo Espírito Santo. Procuras paixão? Como diz aquele belo poema: Enamora-te! (ou deixa-te enamorar), porque 'nada pode ser mais importante do que encontrar Deus. Quer dizer, enamorar-se dele de uma forma definitiva e absoluta'", conclui Francisco.
[Atualizado às 11h46]