31 mar, 2019 - 21:43 • Aura Miguel
No ano de 1219, em plena época das cruzadas, com o Mediterrâneo dilacerado por ódios e violência, Francisco de Assis foi ao encontro do sultão do Egipto, al-Kamil, para dialogar e procurar a paz. Oitocentos anos depois, um outro Francisco, sucessor de Pedro, faz o mesmo.
Há pouco mais de um mês, estendeu a mão ao príncipe dos Emirados Árabes Unidos, Mohamed bin Zayed, que o recebeu pomposamente e permitiu a celebração pública de uma eucaristia, até então nunca vista naquelas terras. E agora, no ancestral reino de Marrocos (cujo islão é considerado menos rígido), Francisco foi acolhido com a máxima dignidade pelo descendente do Profeta, Sua Majestade Mohamed VI.
No seu discurso perante o Rei e autoridades marroquinas, Francisco invoca o profético gesto do Santo de Assis para justificar a sua opção, pois “demonstra que a coragem do encontro e da mão estendida é um caminho de paz e harmonia para a humanidade, nas situações onde o extremismo e o ódio são fatores de divisão e destruição”.
Em ambos os países visitados pelo Papa, não há registo de católicos autóctones, mas os que lá vivem, mantêm uma vivacidade da fé que raramente se encontra na velha cristandade. A estes, o Santo Padre pediu em Rabat que estejam sempre disponíveis para o diálogo e o encontro com os muçulmanos, “não como inimigos, mas como irmãos.”
E pediu também que sejam “uma pequena porção de fermento” capaz de “levedar a massa”. Quanto tempo demora a levedar, só Deus é que sabe.