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Papa rejeita discursos que semeiam "medo, ódio e conflito", perante clero marroquino

31 mar, 2019 - 11:33 • Aura Miguel , em Marrocos, com Inês Rocha e Agência Ecclesia

Francisco agradeceu aos responsáveis católicos por escolherem o diálogo em vez do ódio, e lembrou que os cristãos não precisam de ser muitos, mas "significativos".

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Papa rejeita discursos que semeiam "medo, ódio e conflito", perante clero marroquino

O Papa Francisco encontrou-se este domingo com os sacerdotes, religiosas e consagrados que acompanham os católicos em Marrocos, país com 99% de muçulmanos, e disse que a sua ação não se mede por números, mas pela capacidade de diálogo, rejeitando qualquer manipulação das diferenças.

“Não com a violência, não com o ódio, nem com a supremacia étnica, religiosa e económica, mas com a força da compaixão espargida para todos os homens na Cruz. Esta é a experiência vivida pela maior parte de vós”, declarou, na Catedral de Rabat, no segundo dia da sua viagem ao país do norte de África.

Francisco agradeceu a Deus pelo povo católico de Marrocos, “pelo que tendes feito, encontrando diariamente no diálogo, na colaboração e na amizade os instrumentos para semear futuro e esperança. Assim, desmascarais e conseguis pôr a descoberto todas as tentativas de usar as diferenças e a ignorância para semear medo, ódio e conflito. Porque sabemos que o medo e o ódio, alimentados e manipulados, desestabilizam e deixam espiritualmente indefesas as nossas comunidades”.

Para o Papa, os cristãos não precisam de ser muitos, mas significativos e com capacidade de ser “o fermento das bem-aventuranças e do amor fraterno”. Francisco considera que o proselitismo - o empenho de tentar converter uma ou várias pessoas em prol de determinada causa, doutrina, ideologia ou religião - "leva sempre a um beco sem saída" e que o importante é "o nosso modo de estar com Jesus e com os outros".

“Penso que a preocupação surge quando nós, cristãos, somos atormentados pelo pensamento de que só seremos significativos se constituirmos a massa e ocuparmos todos os espaços”, alertou o Papa.

"O problema não está no facto de sermos pouco numerosos, mas de sermos insignificantes, tornarmo-nos sal que já não tem o sabor do Evangelho, ou uma luz que já nada ilumina”, disse Francisco, lembrando que "ser cristão não é aderir a uma doutrina, a um templo, ou a um grupo étnico; ser cristão é um encontro. Somos cristãos, porque Alguém nos amou e veio ao nosso encontro, e não por resultado do proselitismo".

Francisco comparou a minoria católica a “um pouco de fermento que a mãe Igreja quer misturar com uma grande quantidade de farinha, até que toda a massa se levede”.

Perante membros do clero e dos institutos religiosos presentes nas duas dioceses marroquinas, o Papa cumprimentou e beijou a mão, em sinal de respeito, ao religioso mais idoso presente em Marrocos, o padre Jean-Pierre Schumacher, de 95 anos, um dos dois sobreviventes da comunidade de Tibhirine, na Argélia, onde sete monges trapistas foram sequestrados e mortos, em 1996; os religiosos foram beatificados em dezembro de 2018, por decisão de Francisco.

Na sua intervenção, o pontífice evocou os “irmãos e irmãs cristãos que escolheram permanecer solidários com um povo até ao dom da própria vida”.

Assim, desmascarais e conseguis pôr a descoberto todas as tentativas de usar as diferenças e a ignorância para semear medo, ódio e conflito. Porque sabemos que o medo e o ódio, alimentados e manipulados, desestabilizam e deixam espiritualmente indefesas as nossas comunidades”.

O Papa cumprimentou ainda a irmã Ersillia Mantovani, missionária italiana, de 97 anos de idade.

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