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João Vasconcelos, o otimista que acreditava no homem acima das máquinas

26 mar, 2019 - 14:43 • Filipe d'Avillez

João Vasconcelos era um otimista e era assim que via a polémica em que esteve envolvido, das viagens ao Euro, pagas pela GALP. “Finalmente consigo ir buscar a minha filha à escola”.

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  • João Vasconcelos, que morreu na noite de segunda para terça-feira, aos 43 anos, acreditava na tecnologia e nos benefícios que trazia para o mundo, mas acreditava sobretudo na humanidade.

    Em novembro de 2018, o então já ex-secretário de Estado esteve na Renascença a convite do comendador Marques Correia, para uma conversa bem-disposta sobre a sua vida e a sua paixão pela tecnologia e a indústria. Lembramos agora algumas declarações.

    João Vasconcelos não disfarçou a sua profunda crença na tecnologia e na indústria. “A indústria é algo fundamental na economia de um país. O desenvolvimento económico que tem por base a indústria é um desenvolvimento económico muito mais sustentável que qualquer outro setor, vê-se isso no mundo.”

    “Os países em que a indústria tem maior peso no PIB são países com desenvolvimento muito diferente, muito mais sólido, com melhores empregos, mais bem pagos, mais bem remunerados, é de longe o setor que melhor transforma conhecimento e ciência em produtos e serviços. A indústria, quando se consegue colocar lá tecnologia, inovação, arte, cultura, criatividade, é um motor poderosíssimo de desenvolvimento de um país”, disse.

    E esta crença mantem-se inabalável, mesmo perante a ameaça de essa mesma tecnologia vir a substituir a mão-de-obra humana. “Eu acho que os robôs podem e devem substituir-nos em tudo aquilo que farão melhor que um ser humano. O que é interessante é que sempre que se mete um software, computador ou robô a fazer alguma coisa, descobrimos que há outras funções que só um ser humano pode fazer.”

    “Este é o momento da humanidade com mais introdução de tecnologia no dia-a-dia. Na maneira como fazemos coisas, como nos relacionamos. E nunca houve tanta gente a participar em feiras, em festivais de música ao vivo, nunca houve tanta gente a consumir música, cultura, cinema. Está-se a valorizar a natureza e tudo o que tem sentimento e emoção de uma maneira histórica.”

    “Sempre que se produz em massa um mesmo produto com robos, abre-se uma enorme oportunidade de mercado para coisas feitas pelo homem. Coisas que transmitem sentimento, coisas que tenham emoção, criatividade. Sempre que se aumenta a tecnologia valoriza-se tudo o que tem toque humano”, insistiu João Vasconcelos.

    Política, a atividade superior

    Durante a conversa, o comendador Marques Correia perguntou diretamente se, quando aceitou o convite da GALP para acompanhar os jogos da seleção no Euro, tinha noção de que estava a colocar a sua carreira política em risco. Vasconcelos respondeu de forma sincera.

    “Era um comportamento vigente. Comigo foram dezenas de figuras públicas. Era normal. Agora há uma opinião diferente, a sociedade olha para isto de maneira diferente. Felizmente os comportamentos vão evoluindo e temos de nos adaptar a eles”, disse, sublinhando que apoia tudo o que contribua para credibilizar a política.

    “É muito necessário tudo o que ajude a credibilizar a política, porque para mim a política é a atividade superior, a atividade máxima em que um ser humano pode participar. Acho que influenciar os destinos da tua comunidade, poderes contribuir para melhorar a vida da comunidade em que te inseres, é o máximo que um ser humano pode fazer.”

    João Vasconcelos mostrava-se assim grato. Grato por ter tido a oportunidade de servir o país enquanto político, e pela oportunidade que teve de recomeçar depois de sair do Governo. “As coisas boas acontecem. Eu sou um otimista. A minha mulher, a minha família, os meus amigos mais próximos ficaram muito contentes com essa viagem. Finalmente vou buscar a minha filha à escola, e consigo fazer trabalhos de casa com ela. Finalmente tenho uma remuneração de acordo com o que trabalho e com o que mereço, e por isso há coisas que vêm por bem.”

    “Ainda bem que aconteceu quando tinha 41 anos, porque me permite recomeçar e fazer outros desafios", conclui.

    Para terminar, o ex-secretário de Estado, que foi responsável por trazer a Web Summit para Portugal, deixava um conselho a todos os que o ouviam. “Todos devemos tentar ser empreendedores, pelo menos uma vez na vida. Se não funcionar, não funcionou... Não tem mal nenhum.”

    Velório quarta-feira de manhã na Basílica da Estrela, Lisboa

    O velório do ex-secretário de Estado da Indústria João Vasconcelos decorre na quarta-feira de manhã na Basílica da Estrela, em Lisboa, celebrando-se uma missa de corpo presente.

    Fonte do PS informou a agência Lusa que, depois do velório e da missa de corpo presente, pelas 12h00, o corpo de João Vasconcelos sairá de Lisboa com destino a Gafanhão, Castro Daire, distrito de Viseu, onde decorrerá o funeral.

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