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Trump assina decreto a reconhecer soberania de Israel sobre Montes Golã

25 mar, 2019 - 16:17 • Filipe d'Avillez

Ordem executiva pode ser contestada judicialmente, mas é sobretudo um gesto simbólico de apoio a Netanyahu, que enfrenta eleições a 9 de abril.

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Donald Trump assinou esta segunda-feira um decreto presidencial, conhecido nos EUA como ordem executiva, que reconhece os Montes Golã como território israelita.

A medida, concretizada durante uma visita do primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu aos Estados Unidos, representa uma importante vitória para Israel no palco internacional, mas Washington continua a ser o único país a reconhecer a anexação dos Montes Golã - que sob o direito internacional são parte integrante da Síria.

Numa conferência de imprensa conjunta, esta segunda-feira à tarde, Netanyahu fez rasgados elogios a Trump, sublinhando o que diz ser o "direito histórico" de Israel sobre os Montes Golã, conquistados depois de uma "guerra justa de legítima defesa".

"Em dois gloriosos dias os soldados israelitas - incluindo o meu irmão - libertaram os Montes Golã", disse o primeiro-ministro, "mas seriam precisos quase 50 anos até que essa vitória militar se traduzisse numa vitória diplomática", afirmou, em referência ao gesto de Trump, a quem comparou com grandes líderes históricos amigos de Israel, incluindo o Rei Círo, da Pérsia, Lord Balfour e o Presidente Truman.

Trump deu indicações de que iria reconhecer a anexação na passada sexta-feira, dizendo num tweet que "chegou a hora" de os Estados Unidos o fazerem.

O território em questão fica na fronteira entre a Síria e Israel e, à luz do direito internacional, é território sírio. Israel ocupou os Montes Golã depois da guerra de 1967 e tentativas posteriores por parte da Síria para os reconquistar falharam.

Em 1981 Israel anunciou a anexação formal da faixa de território, algo que a comunidade internacional sempre recusou, até esta segunda-feira.

O decreto judicial de Donald Trump tem o poder de lei, mas pode ser contestado judicialmente ou revogado por um futuro presidente. Logo, a medida está a ser entendida mais como um ato simbólico dos Estados Unidos, de apoio a Israel e especificamente a Netanyahu.

O primeiro-ministro de Israel tem usado a imagem de Trump na sua campanha para as eleições de 9 de abril e o reconhecimento americano da anexação dos Golã será usado como um trunfo eleitoral.

A Síria reagiu de imediato ao decreto de Trump, dizendo que este constitui um ataque à sua soberania e integridade territorial.

A importância dos Montes Golã

À primeira vista, com cerca de 40 quilómetros de extensão, por 12 de largura, o território dos Montes Golã pode não parecer importante. Mas tal não é verdade.

Os Montes Golã têm uma importância militar estratégica, tratando-se de território elevado com visão tanto sobre Israel como sobre a Síria. Por isso Israel não quer largar mão deles.

Para além disso, trata-se de uma faixa de terreno extremamente fértil, com vastos recursos de água. Um terço de toda a água de Israel vem dos Montes Golã, o que é importante, sobretudo no Médio Oriente.

Por fim, sondagens recentes revelam a possibilidade de existirem grandes depósitos de petróleo, o que é particularmente significativo, tendo em conta que Israel não tem praticamente reservas petrolíferas.

O que dizem os habitantes?

Cerca de 45 mil pessoas vivem nos Montes Golã. Destes, uns 20 mil são israelitas que habitam colonatos edificados por Israel desde que anexou a área. Mas a maioria dos habitantes, cerca de 25 mil, são membros da comunidade etno-religiosa drusa.

Os drusos dos Montes Golã ainda se consideram sírios e rejeitam a identidade israelita, apesar de haver drusos também a viver em Israel, que aceitam e servem o Estado judaico, com particular destaque para as Forças Armadas.

Neste caso, contudo, os drusos têm-se manifestado contra o reconhecimento de Donald Trump, exibindo símbolos sírios e até imagens do Bashar al-Assad.

[Notícia atualizada às 16h44]

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