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​ÉVORA

O adeus a D. Maurílio, o arcebispo que tinha um diário

22 mar, 2019 - 20:35 • Rosário Silva

Foi uma despedida emocionada, entre cristãos, amigos, familiares, muitos sacerdotes, vários bispos portugueses e o cardeal patriarca de Lisboa. Núncio apostólico leu uma mensagem do Papa.

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O adeus a D. Maurílio, o arcebispo que tinha um diário - Reportagem de Rosário Silva

Mais de mil pessoas disseram, esta sexta-feira, o último adeus ao arcebispo emérito de Évora, D. Maurílio de Gouveia, falecido na última terça-feira, dia 19 de março, aos 86 anos.

Foi uma despedida emocionada, entre cristãos, amigos, familiares, muitos sacerdotes, vários bispos portugueses e o cardeal patriarca de Lisboa.

O núncio apostólico em Portugal também marcou presença. D. Rino Passigato foi portador de uma mensagem de condolências assinada pelo secretário de Estado do Vaticano, o cardeal Pietro Parolin, em nome do Papa Francisco, que concedeu uma “consoladora bênção apostólica” aos que “choram” a partida de D. Maurílio.

Já antes o cardeal patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, tinha recorrido ao Papa Francisco para qualificar D. Maurílio de Gouveia: “um bispo próximo, com cheiro a ovelhas, como gosta de dizer o Papa Francisco”.

“É um homem conciliar” e “um bom exemplo da geração dos bispos do Concilio Vaticano II e da sua aplicação subsequente”, sublinhou.

Na homilia, durante a missa exequial, também o arcebispo de Évora salientou o lado próximo do prelado, recordando que “percorreu quase por três vezes a arquidiocese”, sempre procurando “ler os sinais dos tempos”.

D. Francisco Senra Coelho evidenciou, ainda, a sua “capacidade de diálogo, a empatia com todos, ricos e pobres, crentes e não crentes”.

“Fica-nos gravado a profundidade do seu olhar e a bondade do seu sorriso”, acrescentando que, para ele, “ser pastor era estar com o povo de Deus”.

O diário espiritual de D. Maurílio

D. Maurílio de Gouveia escrevia todos os dias no seu diário. Segundo D. Francisco Senra Coelho, era uma atitude inerente à sua personalidade, de “homem exigente que não convivia bem com o fútil, com o banal, uma pessoa de reflexão”.

Na homília, o arcebispo de Évora surpreendeu ao ler uma das páginas deste diário, datada de 29 de junho de 2018, dia em soube que estava doente.

Escreveu, então, D. Maurílio: “hoje, inicio um novo ciclo na minha existência sobre a terra. Um ciclo que será o último nos planos da Providência divina. É que ontem foi-me comunicado o resultado dos exames médicos que diagnosticaram um cancro no pâncreas. Em breve estarei na Eternidade. Confiante na misericórdia do Pai, no coração de Jesus Cristo, no amor do Espírito Santo, começo a subida do Calvário. Sou fraco, mas conto com a força que me vem da Santíssima Trindade. Terei a meu lado a minha querida Mãe, Maria Santíssima (…) A notícia ao tornar-se conhecida constituirá um choque para muitos amigos, familiares e outros. Peço ao Senhor, a graça de ser testemunho claro, simples e firme da minha fé na vida eterna”.

Palavras “repassadas de fé, de esperança e de compromisso com os homens na dádiva da sua vida que ofereceu pela Igreja, pelo Papa e por esta arquidiocese”, diria depois D. Francisco Senra Coelho.

Mais de mil pessoas, após a missa na Sé, percorreram também as ruas da cidade, num cortejo fúnebre, que transportou os restos mortais de D. Maurílio de Gouveia para a Igreja do Espírito Santo, onde está agora tumulado numa das capelas laterais, no Panteão dos Arcebispos.

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