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Sabia que o guarda-redes menos batido em Espanha é português?

21 mar, 2019 - 13:00 • Sílvio Vieira

João Costa aceitou o convite do Cartagena para jogar na terceira divisão espanhola. Parecia um passo atrás, mas, na realidade, estão a ser dois em frente. Depois de um ano lesionado, de uma experiência difícil no Gil Vicente, o guarda-redes do FC Porto mostra que está aí "para as curvas". E a curva, neste momento, é só no sentido ascendente.

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João Costa está a jogar na terceira divisão espanhola, pelo FC Cartagena, mas o impacto que está a causar é de primeira. O guarda-redes português tem a média mais baixa de golos sofridos, por jogo. Ultrapassa todos os nomes que surgem nas balizas dos grandes e supera, também, os concorrentes que competem ao seu nível.

Em 24 jogos, João sofreu 11 golos, sendo uma peça fundamental na equipa que lidera a sua série na 2ª divisão B e que está na luta pela subida à II Liga espanhola. Em entrevista à Renascença, o guarda-redes, que mantém contrato com o FC Porto, manifesta natural felicidade pelo reconhecimento do trabalho que está a realizar. Sublinha, contudo, o desejo de que em Portugal olhassem para o que está a fazer a ficassem com uma panorâmica de um jogador com qualidade e que, apesar das adversidades, nunca desiste.

"Demonstrei tudo em campo nos jogos em que tive oportunidade e fico muito feliz. Não há nada melhor do que toda a gente dizer que o trabalho está a ser bem feito. O que mais gostaria em Portugal é que não olhassem para o João como um jovem que estava a dar passos para trás e ficou esquecido, mas como um jovem que nunca desistiu e que ainda está aqui para as curvas", apela, num alusão ao seu percurso.

João Costa fez quase toda a formação no FC Porto e em paralelo representou os escalões jovens da seleção nacional. Com Nuno Espírito Santo integrou o plantel principal do FC Porto, mas nessa época sofreu um duro revés. Uma lesão grave no joelho esquerdo afastou-o da competição durante um ano. Quando regressou, na temporada passada, foi cedido ao Gil Vicente, da II Liga, mas o clube acabou por descer. Este conjunto de episódios fazia com que este fosse um ano decisivo para o guarda-redes, agora com 23 anos.

A decisão

Com contrato com FC Porto até 2020, João Costa tinha de decidir que rumo dar à sua carreira. Surgiram algumas propostas e duas delas de clubes da terceira divisão de Espanha. Curiosamente, dois clubes rivais: UCAM Murcia e FC Cartagena.

"Depois de uma época que não correu como eu estava à espera [no Gil Vicente], estava a analisar os convites que tinha. Primeiro recebi a proposta do Murcia, que pediu ao meu colega Iker [Casillas] para falar comigo e, depois, o meu agente [Hélio Martins] apresentou-me a proposta do Cartagena. Eu avaliei e optei pelo Cartagena, porque tinha melhores condições e o projeto era muito maior", conta João Costa, nesta conversa com a Renascença.

O guarda-redes reconhece que "não foi fácil", mas experiência no Gil Vicente acabou por suavizar a mudança. "Claro que no início metemos tudo em causa, porque estava habituado a um grande nível [no FC Porto], depois fui para o Gil Vicente e a dimensão dos clubes não é comparável, mas consegui adaptar-me rapidamente. Do Porto para o Gil Vicente não foi fácil, mas essa experiência acabou por ajudar e as condições e o projeto que me apresentaram aqui também ajudaram. Vir para a terceira divisão espanhola parece que as coisas estão a andar para trás, mas a verdade é que aprendi que é ao contrário. Estamos a dar um passo, supostamente, atrás, mas para dar dois, ou três, à frente. E é isso que está a acontecer no Cartagena", observa.

Os conselhos de Casillas

As palavras de Iker Casillas também ajudaram a tomada de decisão de João Costa. O guarda-redes espanhol informou o companheiro de balneário, no Porto, sobre a qualidade e as condições da terceira divisão em Espanha.

"Ele disse-me que a terceira divisão daqui não tem nada a ver com a terceira em Portugal. Disse-me que havia condições fantásticas a nível de treino e disse-me para não ter medo de vir para cá. Garantiu-me que seria um bom passa para eu depois subir de nível", recorda João, que ficou amigo do ídolo Iker.

Casillas, que acaba de renovar pelo FC Porto, foi companheiro do português no Dragão e é o seu grande conselheiro: "Foi o maior aconselhador que eu podia ter e foi ele que me deu conselhos na etapa mais difícil da minha carreira".

À espera do FC Porto, mas com porta aberta em Espanha

Emprestado ao Cartagena até ao final da temporada, João Costa deverá depois apresentar-se no Porto para definir o seu futuro. Com mais um ano de contrato com os dragões, o jogador assume que gostaria de ter uma nova oportunidade no "clube do coração". "Trabalhei para isso entre os 8 e os 22 anos e se isso suceder estarei pronto", garante, reconhecendo que tem em Casillas, Vaná, Fabiano e Diogo Costa concorrentes de grande qualidade.

Se a oportunidade de ficar no Dragão não se verificar, João tem a convicção de que já abriu uma porta para continuar em Espanha e sente confiança para abraçar outro desafio: "Estarei pronto para qualquer desafio noutro nível aqui em Espanha, em Portugal, ou seja onde for. Tenho noção de que tenho porta aberta [em Espanha]".

O plano imediato passa por subir o Cartagena à Liga Adelante, a segunda liga espanhola, depois "logo se vê o que acontece".

Sonho da seleção nacional

Internacional pelas seleções jovens de Portugal, João Costa alimenta o sonho de representar a equipa principal e define esse como um objetivo a alcançar na carreira: "Espero um dia fazer parte da seleção A, voltar à seleções de Portugal, porque vestir aquela camisola é um grande orgulho. É para isso que também vou trabalhar todos os dias".

O guarda-redes, de 23 anos, lança candidatura para Fernando Santos avaliar, enquanto mostra valor em Espanha, no Cartagena.

João Costa é o guarda-redes com média de golos sofridos mais baixa em território espanhol e chegou a estar sete jogos consecutivos sem sofrer golos. Formado no FC Porto, e com contrato com os dragões, o jogador espera festejar duplamente no final da época: promoção do Cartagena à segunda liga espanhola e título de campeão nacional do FC Porto.

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