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Cáritas de Vila Real

+Social-E7G. Não é código, é meio caminho andado para a inclusão e a coesão social

19 mar, 2019 - 14:18 • Olímpia Mairos

O projeto serve 60 crianças em três bairros de Vila Real. O entusiasmo dos utentes permite medir o sucesso: "quando esteve fechado foi uma seca".

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Cáritas de Vila Real desevolve projeto de inclusão social. Reportagem de Olímpia Mairos
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É na cave de um dos prédios do bairro da Telheira, em Vila Real, que funciona o Projeto +Social-E7G, integrado no Programa Escolhas, que ambiciona potenciar a inclusão social de crianças e jovens de bairros vulneráveis de Vila Real.

No total são 60 as crianças abrangidas pelo projeto, que engloba os bairros de Araucária, Norad e Telheira.

No bairro da Telheira o espaço que acolhe as crianças, cerca de 30, é amplo e está bem apetrechado, com material de apoio ao estudo, de diversão e entretenimento. É uma espécie de ATL onde as crianças são apoiadas no estudo e se podem divertir e estabelecer relações de amizade.

“Aqui faz-se um trabalho diário, um acompanhamento que é feito no final das aulas, para dar apoio às crianças com os trabalhos que têm que fazer para a escola e desenvolver outras atividades que permitem reforçar todo o aspeto da cidadania, da aquisição de competências em vários domínios”, explica à Renascença o presidente da Cáritas de Vila Real, Henrique Oliveira.

O objetivo do projeto é promover o desenvolvimento pessoal, social, cognitivo, moral, bem como a consciencialização dos direitos, deveres cívicos e comunitários das crianças e jovens.

Cabe à instituição da Igreja a gestão do projeto que é promovido pela autarquia de Vila Real e envolve muitas parcerias com outras instituições da cidade e do concelho, para dar apoio e acompanhamento às crianças dos bairros mais desfavorecidos da cidade.

“A Cáritas coordena, mas o papel das outras instituições é fundamental, sem eles não se conseguiria fazer o trabalho que está a ser desenvolvido”, realça o presidente da instituição. Um trabalho que é reconhecido pela autarquia de Vila Real, pelos pais das crianças e pela comunidade em geral.

A vereadora da Coesão Social e Igualdade, Eugénia Almeida, destaca os passos dados no âmbito do “projeto essencialmente voltado para os bairros sociais e para o desenvolvimento das capacidades das crianças e jovens, o público alvo, mas também o desenvolvimento das suas próprias famílias”.

“É um projeto que nos é muito querido porque tem um grau de abrangência num território bastante elevado, desde a Araucária, aqui à Telheira, ao bairro Norad, é basicamente uma circular da cidade de Vila Real”, acrescenta.

“Igualdade vê-se não só no género, mas na coesão social”

O projeto de intervenção social tem-se constituído num “fator de igualdade social”, afirma a vereadora, explicando que “a igualdade vê-se em todos os campos, não só no género, mas na coesão social. E quando nós temos uma sociedade mais coesa, com certeza temos uma sociedade mais igual. E é isso que nós pretendemos, que o nosso território seja coeso, igual, onde todos se sintam felizes a viver nele”.

À medida que a conversa se desenvolve vai-se percebendo que o +Social é a menina dos olhos de Eugénia Almeida. É a própria que o admite, ao partilhar que lhe “é particularmente querido”. “E ver na Rádio Renascença o reconhecimento e a importância que estão a dar ao nosso projeto, deixa-me mesmo muito, muito feliz, não apenas por mim, enquanto vereadora, mas por todos aqueles que já usufruíram deste projeto, não só dos meninos e das famílias, mas também dos técnicos que muito têm dado ao projeto”.

Nos bairros onde o +Social se desenvolve há algumas famílias problemáticas, casos de violência, de negligência parental, alcoolismo, toxicodependência, muitas famílias no Rendimento de Inserção Social. O trabalho das quatro técnicas não se limita, por isso, às crianças. Estende-se às famílias e à comunidade. É um trabalho em rede, procurando envolver todos os parceiros na busca de soluções para os problemas.

A coordenadora do Projeto +Social-E7G, Raquel Amaro, conta à Renascença que “todos contribuem, com aquilo que têm para dar, no combate à desigualdade, à discriminação, ao absentismo escolar com vista à inclusão social”.

Nos três bairros, o projeto abrange cerca de 60 crianças, dos seis aos 25 anos. Em tempos letivos os espaços dedicados às crianças estão abertos das 15h às 19h, em tempos de férias funcionam todo o dia.

“As crianças vêm todos os dias. Aqui fazem os trabalhos de casa, têm artes plásticas, fazem desporto, desenvolvem trabalhos sobre igualdade, fazem voluntariado e em tempo de férias as atividades são muito mais diversificadas até porque passam praticamente o dia connosco”, explica a coordenadora.

Dos problemas da crianças às famílias e aos parceiros

Raquel Amaro explica que o que se “pretende é que as crianças tenham uma visão real da sociedade, que trabalhem as competências que têm, que tenham uma mente aberta sobre tudo e principalmente que se tornem cidadãos exemplares, que consigam cativar os pais e envolvê-los no projeto”. E muitas vezes chegam às famílias e aos problemas concretos através das partilhas que as crianças fazem.

“Nós damos conta quando eles estão mais em baixo ou querem dizer alguma coisa. As crianças costumam partilhar os problemas. E partir daí é possível chegar à família e envolver os parceiros que trabalham connosco na ajuda aos pais”, explica, sublinhando que procuram “estabelecer uma relação de confiança com os pais, porque só conseguimos trabalhar, se os pais confiarem em nós”.

A técnica nota que a sociedade ainda olha com alguma desconfiança para quem vive em bairros sociais, mas frisa que, aos poucos e na medida em que as atividades envolvem a comunidade, os pais e os parceiros, se “vai desmistificando essa ideia de crianças de bairros sociais”.

“As crianças quando vêm para aqui procuramos que elas não se sintam diferentes. Embora trabalhemos com crianças negligenciadas e com problemas, também temos crianças que não têm esses problemas. Aqui eles são todos iguais”, conta a coordenadora do projeto.

“É um trabalho gratificante, é uma aprendizagem constante. Eles ensinam-nos muito. Querem muito carinho, muita atenção, muito amor, mas, ao mesmo tempo, veem-nos como uma família, como um exemplo a seguir, nós somos referências para estes meninos”, observa Raquel Amaro.

“Aqui os pais sabem que estão seguros. Nota-se muito o crescimento dos meninos. Eles amadurecem no tempo que passam connosco. E de ano para ano verifica-se uma mudança de comportamentos, atitudes, maneiras de estar, de serem educados. É um trabalho muito gratificante em ver que aquilo que fazemos surte efeito”, conclui a técnica.

“É fixe. Quando esteve fechado foi uma seca”

Marcos é pai de três meninas. É alemão, vive em Portugal há cerca de 20 anos e destaca a “grande ajuda com os trabalhos de casa e as atividades que proporcionam”. “É muito importante. Ajuda muito. E gosto de vir aqui para ver o andam a fazer”, conta à Renascença.

Também Arminda Mourão, mãe de dois rapazes e uma menina, considera que o projeto desenvolve “um trabalho essencial” na medida em que ali as crianças “aprendem a ler e a escrever, estudam e divertem-se”.

“Ajuda ao crescimento porque têm pessoas adequadas e que sabem mais que os pais, porque eu tenho o 9ºano, mas muitas coisas que eles dão eu não percebo patavina e ali sabem como ajudá-los”, concretiza.

Já Lígia Andreso, mãe de um jovem de 18 anos com paralisia cerebral, destaca a possibilidade de o filho estar “entretido em vez de estar na televisão ou no telemóvel”. “Ele adora o convívio. Está ali entretido com atividades e nas férias passam a vida a passear. É uma ajuda muito grande, uma mais valia, porque sei que está com pessoas que cuidam dele e depois entregam-mo em casa”, acrescenta.


Rafaela Almeida, de 12 anos, frequenta o 7º ano. Vem ao +Social “para estudar e para brincar”. É boa aluna, não tem negativas e mal terminam as aulas apressa-se a chegar. “É fixe. Quando esteve fechado foi uma seca. Aqui não há nada que não goste. Ajudam quando temos dificuldades, brincamos e fazemos amigos”, conta à Renascença.

Alexandre, de 9 ano, está no 3º ano. Chega ao +Social todo transpirado e sorridente. Veio a correr. Depois de assinar a presença, cumprimenta os amigos. Vem “todos os dias para fazer novas amizades, brincar, fazer os trabalhos e estudar”.

Também Bruno Tunes, de 11 anos, a frequentar o 4º ano, conta que vem para “fazer os trabalhos de casa, estudar, brincar com os amigos, fazer novas amizades”. De entre as muitas coisas que já aprendeu, retém que “não se deve gozar com as outras pessoas porque somos todos diferentes, mas todos iguais”.

O Tiago, de 7 anos, já fez os trabalhos de casa e entretém-se a jogar bilhar com um amigo. Não é de muitas conversas, mas diz que vem “todos os dias” e gosta muito de “brincar e estar com os amigos”.

Marta Marinho, de 10 anos, também gosta de “brincar e aprender coisas novas” e conta à Renascença que “é bom vir aqui e ter ajuda nos estudos, porque em casa os meus pais não saberiam ajudar nos trabalhos de casa”.

O Projeto +Social-E7G, em Vila Real, é gerido pela Cáritas da diocese e quer continuar a dar especial realce à igualdade de oportunidades e à coesão social, bem como à intervenção junto das famílias mais desfavorecidas, com vista a dotá-las de competências necessárias para que, autonomamente, possam adotar um modo de vida favorável à construção do seu próprio projeto de vida.

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