14 mar, 2019 - 12:48 • Filipe d'Avillez
Morreu esta quinta-feira o cardeal Godfried Danneels, da Bélgica. Tinha 85 anos.
Danneels era arcebispo emérito de Bruxelas, a diocese mais importante da Bélgica, tendo apresentado a sua demissão aos 75 anos, viu esta ser aceite pelo Papa Bento XVI em 2010.
O Papa Francisco já enviou ao seu sucessor, o cardeal Jozef De Kesel, um telegrama em que apresenta condolências pela morte de Danneels, que classifica como um "zeloso pastor, ao serviço da Igreja".
"Atento aos desafios da Igreja contemporânea, o cardeal Danneels, também participou ativamente em vários sínodos, incluindo os de 2014 e 2015, sobre a família", diz ainda Francisco.
"Peço a Cristo, que triunfou sobre o mal e a morte, que o acolha na sua paz e alegria" conclui o Papa, oferecendo uma especial bênção apostólica a todos os que participarem na celebração do funeral.
Enquanto bispo, Danneels comprometeu-se com o movimento ecuménico e foi mesmo uma das figuras que tornou possível a visita do Papa João Paulo II à comunidade de Taizé, em 1986.
Num país que tem das leis mais liberais sobre temas fraturantes, incluindo o aborto e a eutanásia, o cardeal defendeu publicamente as posições da Igreja. Sobre a eutanásia disse num programa de televisão que a sua liberalização era uma "escolha entre duas civilizações, uma de pessoas que exercem, ou querem exercer, controlo total sobre si mesmos e outra em que ainda existe espaço para um Deus e aquilo que transcende o homem".
Caso de abusos sexuais
O episcopado do cardeal não foi isento de polémicas. A Bélgica foi um dos países europeus que foi duramente atingido pela crise de abusos sexuais praticados por membros da Igreja e o próprio cardeal seria acusado mais tarde de ter encoberto um caso de abusos praticados por um padre, que entretanto tinha sido nomeado bispo.
O bispo Roger Vangheluwe admitiu a Danneels que tinha tido uma relação com um menor, mas aparentemente Danneels não insistiu na sua resignação nem tomou qualquer medida imediata para que o assunto fosse investigado. Mais tarde os dois bispos encontraram-se com a vítima, sobrinho de Vangheluwe, e com a sua família, mas a forma como Danneels conduziu a reunião foi muito criticada na opinião pública.
O bispo Vangheluwe acabou por só apresentar a sua demissão depois de todos os bispos belgas terem recebido um email a denunciar os seus atos. Danneels apareceu mais tarde diante de uma comissão parlamentar em que negou que alguma vez tivesse encoberto casos de abusos sexuais, insistindo que a Igreja tinha de ser firme.
A presença de Danneels nos sínodos sobre a Família, por escolha direta do Papa Francisco, foi muito criticada, sobretudo nos setores mais conservadores da Igreja, e por grupos de vítimas de abusos sexuais.
[Notícia atualizada às 13h13]