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World Wide Fund for Nature

WWF. Famoso grupo de conservação da natureza suspeito de financiar milícias acusadas de homicídio e tortura

04 mar, 2019 - 13:50 • Tiago Palma

A World Wide Fund for Nature é acusada de financiar e armar vários grupos paramilitares acusados de tortura, violação e assassinato em pelo menos seis países de África e da Ásia. Agora, demarca-se das acusações e promete investigar.

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A reportagem de investigação do BuzzFeed, conduzida por Tom Warren e Katie Baker, prolongou-se por um ano e levou os dois jornalistas a seis países diferentes, maioritariamente em África, mas igualmente na Ásia, países nos quais a World Wide Fund for Nature, ou WWF, uma das mais importantes organizações não-governamentais de conservação da natureza, financia milícias paramilitares que deveriam combater a caça furtiva.

Deveriam, mas nem sempre o fazem. É isso que conclui, depois de mais de uma centena de entrevistas realizadas e milhares de documentos consultados, a investigação do BuzzFeed, publicada esta segunda-feira.

Segundo os jornalistas, não é apenas com apoios monetários que a organização apoia estas milícias que trabalham sob a designação de “guardas florestais” em diversos parques naturais dos dois continentes; aponta o Buzzfeed que a WWF paga-lhes salários, oferece treino militar, distribui alimentação, mas distribui igualmente equipamento e… armamento. Mais: estas milícias têm, segundo a mesma reportagem, autorização da WWF para disparar, indiscriminadamente, sobre toda e qualquer pessoa que trespasse as fronteiras dos parques enquanto decorrem missões contra a caça furtiva.

Não obstante, a acusação mais grave que recai sobre a organização e as milícias paramilitares por ela financiadas diz respeito a vários crimes de violência (agressões com bastões de bambu e até catanas), violação sexual e assassinato de vários locais.

O BuzzFeed relata, como exemplo, a história de Shikharam, um agricultor nepalês capturado pelas milícias e enjaulado durante quase uma semana no Parque Natural de Chitwan. Não foi apenas enjaulado, foi torturado – uma das técnicas de tortura vulgarmente utilizadas é o “waterboarding”, ou afogamento simulado. O agricultor acabaria por morrer.

Os três responsáveis pela sua tortura foram detidos e acusados deste crime. A defesa afirmava que Shikharam ajudara o filho a ocultar um chifre de rinoceronte no quintal de casa. Mas o chifre do animal nunca foi encontrado e, depois da pressão da WWF sobre o Governo nepalês, as acusações acabariam por cair.

Dos acusados, um deles foi contratado em seguida pela organização, enquanto um segundo receberia uma distinção honorífica pelos serviços prestados em nome da conservação animal.

O caso de Shikharam ocorreu em 2006. Mas não é um caso isolado. As acusações de violência e tortura contra as milícias apoiadas pela WWF sucedem-se. Em 2017, os “guardas florestais” de uma reserva natural nos Camarões foram acusados de torturar uma criança de 11 anos na presença dos pais – que apresentaram uma queixa formal à WWF, sem, contudo, obterem até hoje resposta.

A organização não-governamental rejeitou participar na reportagem e, em comunicado, já veio garantir que “qualquer abuso dos direitos humanos é totalmente inaceitável” e não pode ser “justificado em nome da conservação [animal]”. No mesmo documento, a WWF informa que já solicitou uma investigação independente às acusações agora conhecidas. “Vemos esta investigação como uma responsabilidade urgente da nossa parte.”

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