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Porque é que falar da morte assusta?

20 fev, 2019 - 06:28 • Ângela Roque

O congresso internacional "A Morte: Leituras da Humana Condição" decorre entre 21 e 24 de fevereiro, em Guimarães. A iniciativa é do Instituto de Estudos Avançados em Catolicismo e Globalização.

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Por medo, ou preconceito, pouco ou nada se fala sobre a morte no espaço público, mas faz parte da condição humana.

“É um tema de que as pessoas têm algum receio, e que de alguma maneira está escondido. Mas todos vamos morrer e todos nos confrontamos com a morte de pessoas que amamos, portanto é um tema que tem de ser pensado e refletido. Foi isso que nos levou a propô-lo como tema do congresso”, explica à Renascença Maria José Figueiredo, da comissão organizadora do congresso internacional "A Morte: Leituras da Humana Condição", que decorre entre 21 e 24 de fevereiro, em Guimarães.

Só oradores serão mais de 160, nacionais e estrangeiros, das mais diversas áreas, divididos pelas quatro sessões plenárias, dez mesas redondas e 23 painéis temáticos.

“Quisemos convocar pessoas dos mais variados caminhos da reflexão, umas de natureza académica, outras de natureza mais prática, relacionadas com o seu trabalho direto, para refletirem em conjunto e enriquecerem-se com as perspetivas umas das outras”, diz a responsável, que dá exemplos das várias áreas abrangidas: “Temos pessoas da psicologia, das ciências da educação, da literatura... Mas temos também pessoas da área da comunicação, das ciências médicas, da filosofia, da teologia, das artes, do urbanismo e do ambiente, do desporto, militares. Será uma gama muito variada de contribuições.”

Alguns oradores foram convidados, outros ofereceram-se para participar, o que prova o interesse que o assunto desperta. “O programa é muito vasto, mas ainda ficaram muitas coisas de fora. Ficámos surpreendidos com bastantes propostas que nos foram feitas, que já não foi possível integrar, porque o programa já estava muito grande. É um assunto que dá pano para mangas, e portanto uma primeira conclusão é esta, a de que há muitíssimo interesse em debater este tema”, sublinha Maria José Figueiredo.

Reconhecendo que falar da morte e do sofrimento é um debate fundamental, ainda mais numa sociedade envelhecida, na qual as questões da eutanásia, cuidados paliativos e estatuto do cuidador informal estão na ordem do dia, Maria José Figueiredo espera que a reflexão que vai ser feita também seja útil para quem tem de tomar decisões no plano político.

“Queremos que seja útil e estamos seguros de que vai ser. O Instituto está no espaço público precisamente com esse objetivo, de dar a oportunidade às pessoas de pararem um bocadinho no bulício do seu dia-a-dia e poderem refletir em conjunto, de áreas muito variadas, e depois que isso tenha impacto na vida prática. Queremos que depois dessa reflexão saiam soluções, no caso concreto deste tema, as sociedades ocidentais estão bastante envelhecidas, e corremos o risco de nos esquecer dessas pessoas que nos permitiram ser o que nós somos hoje e portanto é crucial que voltemos os nossos olhos para elas.”

A iniciativa é organizada pelo Instituto de Estudos Avançados em Catolicismo e Globalização, mas houve uma preocupação especial de integrar entre os participantes crentes e não crentes. “A nossa ideia é acolher todas as pessoas que queiram refletir connosco seriamente, sem nenhum entrave do ponto de vista das suas convicções, e temos muito interesse em fomentar os aspetos da espiritualidade, que a religião seja valorizada”, explica.

A importância da espiritualidade nos cuidados de saúde, a educação para a morte e para o luto, ou a forma como a morte é tratada na literatura (incluindo a infantil) e nos media são apenas algumas das perspetivas da reflexão que vai ser feita.

O humorista Ricardo Araújo Pereira, o prior da Comunidade Monástica de Bose, Luciano Manicardi, o jurista Jorge Bacelar Gouveia, a cantora de flamenco Victoria Cava, os médicos Isabel Galriça Neto e António Maia Gonçalves, e o bispo de Bragança, D. José Cordeiro, estão entre as largas dezenas de oradores deste encontro sobre ‘A Morte: Leituras da Humana Condição’, que vai decorrer em Guimarães, de 21 a 24 de fevereiro, com o apoio da autarquia local.

Na sessão de abertura, estará o arcebispo de Braga, diocese a que Guimarães pertence. As conclusões serão partilhadas num livro com as atas do Congresso.

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