19 fev, 2019 - 07:12 • Lusa
Pelo menos 44 pessoas foram mortas por grupos de "proteção às vacas", entre maio de 2015 e dezembro de 2018, em 12 Estados da Índia, denuncia a organização não-governamental Human Rights Watch (HRW) num relatório divulgado esta terça-feira.
Esta organização de defesa dos direitos humanos indica que nesse período, cerca de 280 pessoas ficaram feridas em mais de 100 incidentes diferentes em 20 Estados.
Segundo a HRW, os ataques foram liderados pelos designados grupos de "proteção às vacas", muitos dos quais afirmaram “estar ligados a grupos militantes hindus”, que frequentemente têm ligações com o Partido do Povo Indiano (BJP, na sigla original).
O abate de vacas, animal sagrado para os hindus, é proibido em 23 dos 29 Estados da Índia e em alguns Estados a posse de carne não é permitida, explica esta ONG.
Membros do partido BJP, que chegaram ao poder a nível nacional em maio de 2014, têm usado “cada vez mais a retórica comum” que estimulou “uma violenta campanha de vigilância contra o consumo de carne bovina” na Índia, refere a HRW.
Desde 2014, vários Estados governados pelo BJP, aprovaram leis mais rigorosas para proibir o abate de vacas e adotaram políticas de proteção deste animal que os críticos consideram ser sinais populistas para promover o nacionalismo hindu.
“O aumento do nacionalismo hindu na Índia desde 2014 fomentou um clima de ódio e discriminação contra muçulmanos, 'dalits' [as castas mais baixas da sociedade indiana] e outras comunidades minoritárias, levando a um aumento dos ataques violentos contra eles em muitas partes do país, inclusive em nome da proteção das vacas”, alerta a HRW.
No relatório, a HRW apela ao Governo indiano a proteger as minorias religiosas e outras minorias e a assegurar uma investigação e um julgamento em todos os casos de violência comunitária.
A Human Rights Watch entrevistou, de junho de 2018 a janeiro de 2019, mais de 35 testemunhas e familiares de vítimas mortais pelos denominados grupos de "vigilantes pelas vacas", mais de 24 advogados e ativistas da sociedade civil que representam as famílias das vítimas, jornalistas que reportaram os crimes e ainda 10 funcionários públicos e aposentados do Governo e da polícia.