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Visitar o Museu Grão Vasco às cegas. "É possível ver sem ver"

07 fev, 2019 - 16:30 • Liliana Carona

Já imaginou como seria visitar um museu e não poder ver as exposições porque é cego? O Museu Grão Vasco, no adro da Sé de Viseu, vai permitir, ao longo deste ano, que cegos e não cegos partilhem a mesma experiência. De espectador a ouvinte, o objetivo é tornar a cultura acessível a todos.

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Visita às cegas ao Museu Grão Vasco em Viseu. Reportagem de Liliana Carona
"Às Cegas", para experimentar até ao final do ano. Ouça aqui a reportagem

De olhos vendados, levados pela mão e escutando, não vendo, o retábulo composto por 13 pinturas com cenas do nascimento e da morte de Jesus Cristo. Só há uma voz para nos falar dos tesouros nacionais quinhentistas de Grão Vasco.

”Passamos para o último quadro, cena 14, Pentecostes, a celebração mais importante do calendário cristão”, descreve Leonor Barata, responsável pela criação artística de uma visita inesperada que procura apurar outros sentidos.

“É preciso convocar outros sentidos, tentar conhecer o museu através de outros sentidos que não a visão, lançar este desafio ao agora ouvinte, se é capaz de confiar cegamente”, explica Leonor à Renascença.

A intérprete da visita é Sara Lourenço, 86 anos, cega. Em jovem visitava o Museu Grão Vasco, no adro da Sé de Viseu. Desse tempo recorda as imagens.

Hoje, Sara integra o grupo de teatro “Dançando com a Diferença” e, como guia, mostra que os cegos podem fazer quase tudo.

“Todas as deficiências são possíveis de ultrapassar. Para mim a mensagem é que nós podemos ver sem ver. Eu ouvi a descrição do quadro e eu vi o quadro. Só pela descrição podemos ver as cenas. A gente vê com as mãos, com os ouvidos, com o olfato”, garante a guia da visita.

Henrique Amoedo, o coordenador artístico da visita, quis passar das palavras à ação na acessibilidade à cultura. O desafio, explica, passa por “transformar o conteúdo dos museus em acervos acessíveis, mas numa visita para todos".

"Todos veem sem ver", defende o responsável à Renascença. "Transformamos estes painéis em algo parecido com uma rádio novela.”

Quem faz a visita de olhos vendados ao Museu Grão Vasco pela primeira vez não deixa de ficar surpreendido. São Castro, 43 anos, garante que viu sem ver a exposição.

“Sem dúvida o cheiro, quando me colocaram a venda, e o estarmos conectados pelos cotovelos e guiarmo-nos uns aos outros pelo corpo, somos obrigados a colocar todos os sentidos em alerta", explica. "É uma visita muito interessante para qualquer faixa etária”, assegura.

As visitas às cegas ao Museu Grão Vasco estão disponíveis para todos ao longo deste ano. Às Cegas – Visita pela mão aos tesouros nacionais e acervo do Museu Nacional Grão Vasco" é um projeto do Teatro Viriato em parceria com o Museu Nacional Grão Vasco.
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