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Mercado de Transferências

A janela de inverno aos olhos de um empresário. "O mercado de verão começa já hoje”

01 fev, 2019 - 20:15 • Inês Braga Sampaio

Jorge Teixeira conta à Renascença como viveu o último dia do mercado de transferências de janeiro, que na sua opinião nem devia existir. O empresário elogia o novo paradigma do futebol português e elege o campeão do mercado.

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O mercado de transferências de inverno não é tão agitado como o de verão, contudo, também movimenta milhões de euros. Os clubes fazem reajustes e compensam o que perdem, enquanto os jogadores têm a oportunidade de sonhar com um destino mais apetecível. Quem satisfaz os desejos de uns e de outros, muitas vezes, são os empresários.

Para Jorge Teixeira, o mercado de inverno “começou mais cedo, logo no início de janeiro”. O agente tratou da transferência de Nildo Petrolina do Desportivo das Aves para o Al Taawoun, da Arábia Saudita.

“Era uma proposta que tínhamos quando faltavam dois, três dias para fechar o mercado de verão. O Aves, muito bem, não tinha tempo para se precaver e inviabilizou a venda do Nildo. Agora, foi feito com tempo e também dando tempo ao próprio Desportivo das Aves para arranjar uma solução para a venda do Nildo”, refere Jorge Teixeira, em entrevista à Renascença. O mercado de inverno “correu bem”, mas o empresário não se livrou do sempre agitado último dia.

A transferência de Diogo Santos do Santa Clara para o Académico de Viseu “é uma situação que não estava muito pensada”, embora tinha sido resolvida a tempo. “Houve a necessidade de movimentar o Diogo e conseguimos fechá-lo às oito e pouco da noite. As últimas horas foram tranquilas”, garante.

Apesar do planeamento, há muitos negócios que só ficam fechados à última hora. "Os imprevistos fazem parte”, refere Jorge Teixeira.

“Todos os anos dizemos que temos de precaver este tipo de transferências mais cedo, mas todos os anos é igual. Este último dia movimenta sempre 20, 30 jogadores em todas as equipas e em todo o mundo”, acrescenta.

Um novo paradigma no mercado português

A nível geral, Jorge Teixeira observa uma mudança de paradigma no futebol português, com aproximação “ao que se passa lá fora”: os clubes grandes compram cada vez mais aos clubes ditos pequenos.

“Neste capítulo, o FC Porto foi aquele que foi mais atrevido, mais audaz, com a contratação do Fernando Andrade ao Santa Clara, do Manafá ao Portimonense, do Loum ao Moreirense. E é bom. Paralelamente a isso, as equipas pequenas começam a transferir jogadores também com mais frequência. Há uns anos comprava-se muito mais fora do que cá. Temos de olhar mais para nós e para a qualidade das nossas equipas. O nosso futebol tem tudo para evoluir cada vez mais. É um sinal de vitalidade as nossas equipas comprarem umas às outras. O recurso fica cá. Claro que vai haver sempre transferências internacionais, mas é bom ver que as equipas começam a arriscar mais no nosso mercado”, afirma.

Jorge Teixeira gosta de ver exemplos como os de Soares e Marega, jogadores que “evoluíram nos clubes ditos pequenos e chegam a um clube grande e tornam-se mais-valias”.

Por outro lado, um caso como o de Shoya Nakajima, transferido do Portimonense para o Al Duhail, do Catar, “não é normal acontecer”. O caminho normal é o jogador ser comprado por um grande português e, depois, vendido para um clube estrangeiro “ainda maior”.

“O normal da transferência será esse, mas vejo com excelentes olhos e que haja muitas mais dessas transferências para os clubes. Ainda bem que aconteceu, é bom para os nossos clubes e vai ajudar o Portimonense e outros, no sentido de reinvestir no nosso campeonato”, frisa o agente.

O campeão do mercado nacional

Perante tudo o que foi referido, Jorge Teixeira escolhe o FC Porto como o campeão do mercado de inverno. Os dragões “foram pontuais e cirúrgicos e avaliaram aquilo que conheciam”. E, claro, o fator Pepe.

“Pepe é um jogador que o Porto bem conhece e que é importante para a mística e para a dinâmica do próprio clube. A nível nacional, penso que o FC Porto foi o campeão de transferências”, nomeia.

A nível internacional, Jorge Teixeira escolhe o Barcelona, que “contratou alvos que já eram falados anteriormente”, como o médio holandês Frenkie De Jong, e que, no geral, “reforçou-se bem”.

Isto, num mercado de inverno que “não foi muito feroz”. “Foram questões pontuais e sem o volume de outros anos”, refere Jorge Teixeira, que aponta o Fair Play financeiro da UEFA, que “vai condicionando cada vez mais”, como possível “culpado”.

De qualquer forma, o empresário sublinha que o mercado de inverno “é um mercado menor”.

“Não sou grande fã, pela instabilidade que cria a todos. Quando esta janela abre, 90% dos jogadores tem uma expectativa de que algo mude. São 30 dias em que, na cabeça de todos os profissionais – jogadores, treinadores, dirigentes, agentes –, há uma instabilidade grande e muitas das vezes isso reflete-se no resultado. Na minha opinião, se se pudesse eliminar este mercado, não se perderia nada. Mas é um mercado que existe e que seguramente vai existir sempre”, reconhece Jorge Teixeira, que já deixou janeiro para trás, literal e figuradamente:

“Para mim, hoje, começa já o mercado de verão.”

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