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​Da psicologia à produção de fumeiro. Chique e moderno, a partir do tradicional

24 jan, 2019 - 11:44 • Olímpia Mairos

Quando se viu sem emprego, Vera Pinto, de Chaves, resolveu criar uma cozinha regional. Hoje vende fumeiro para todo o país e até para o estrangeiro. Na opinião do autarca de Chaves “o rural pode ser chique e moderno”.

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O sonho de Vera Pinto, natural de Curalha, no concelho de Chaves, era ser psicóloga. E para o concretizar estudou e licenciou-se. Só que a falta de oportunidades de emprego na região trocou-lhe as voltas.

Sem emprego, Vera Pinto sonhou, então, um modo de vida diferente e pensou em lançar-se na criação de uma cozinha tradicional para produzir fumeiro na sua terra. “A minha mãe já fazia fumeiro para casa, já era tradição na nossa família. Aproveitei a ideia e lancei um desafio a mim mesma e criei a cozinha”, conta a empreendedora à Renascença.

O investimento foi significativo. Passados três anos ainda não está totalmente amortizado, mas Vera diz que a aposta que fez está a “valer a pena”. “É já um trabalho para todo o ano, embora o ponto alto seja durante o inverno”, conta.

A cozinha regional chama-se “Delícias Transmontanas” e ali são confecionadas alheiras, linguiças, salpicões, sangueiras, mouras, chouriços de cabaça com e sem sangue, butelos e presuntos. Tudo seguindo a tradição e obedecendo às regras de segurança e higiene. “Cada vez mais as pessoas gostam de coisas de qualidade e é nisso que apostamos. É tudo feito artesanalmente, desde os cortes das carnes, o tempero, o enchimento”, diz.

Também em termos de secagem dos produtos há cuidados que não são descurados. “Nós apostamos no calor da brasa de lenha de carvalho e do carvão vegetal e não no fumo, porque este é que é prejudicial à saúde. O fumeiro seca lentamente e apenas com o calor das brasas”, explica Vera.

Os produtos são vendidos em Chaves, a clientes privados e restaurantes, e envia também para o resto do país, através dos CTT, e para a Suíça e França, por transporte rodoviário. O produto que tem mais saída são as alheiras. É também o produto mais barato. Um quilo custa 10 euros. Já o salpicão, o “preferido dos emigrantes”, é vendido o quilo a 30 euros.

Vera Pinto, atualmente com 35 anos, conta com a ajuda da mãe e, quando o trabalho aumenta, tem mais duas senhoras a apoiá-la. O objetivo é fazer crescer o negócio e criar alguns postos de trabalho.

A “Delícias Transmontanas” é uma das 19 cozinhas tradicionais licenciadas no concelho de Chaves e a marcar presença na feira “Sabores de Chaves”, que se realiza entre 1 e 3 de fevereiro e que conta com a presença de 51 expositores de venda de produtos alimentares, enchidos e artesanato.

Chique e moderno, a partir do tradicional

O presidente da Câmara Municipal de Chaves, Nuno Vaz, apresenta a feira como a “grande montra dos produtos de Chaves, do cabaz e dos saberes de Chaves”.

“É uma oportunidade para mostrar, sobretudo a quem nos visita, que Chaves tem grandes pergaminhos em produtos excecionais e que Chaves é um concelho com dinâmica agrícola, ligada aos produtos locais, que o município quer incluir numa proposta turística integrada”, acrescenta.

O autarca acredita que a valorização dos produtos locais pode conduzir a novas oportunidades para os jovens e levar à criação de novos negócios que possam funcionar como complemento à economia familiar.

“Queremos dizer que este estigma que o rural tem não faz sentido nos dias de hoje e que pode ser novo, pode ser chique e moderno”, apostar nos produtos regionais, afirma Nuno Vaz. A ideia é “valorizar os produtos, olhar de forma diferente e mostrar que é possível fazer coisas inovadoras e chiques com o tradicional”, detalha.

E, nesse sentido, o autarca manifesta disponibilidade da autarquia em “ajudar técnica e até financeiramente” aqueles que se queiram “abalançar em projetos desta natureza, por exemplo, ligados à transformação do porco”.

No certame “Sabores de Chaves” vão estar à venda, para além do fumeiro (alheira, linguiça, salpicão, chouriços variados), o presunto, o pastel e o folar de Chaves, o pão centeio, os vinhos, o mel e compotas. Durante os três dias de evento, os restaurantes terão na sua ementa pratos típicos da região.

Além da mostra, degustação e venda de produtos, a autarquia associa ao evento um cartaz de animação, que contempla concertos com os grupos Evil Mary e Sangre Ibérico. É, no entender de Nuno Vaz, uma “tripla combinação”, feira, gastronomia e animação, que visa atrair os visitantes ao concelho.

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