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​Vila Nova da Rainha continua triste um ano após a tragédia

11 jan, 2019 - 22:38 • Liliana Carona

Incêndio durante torneio de sueca na associação local fez 11 mortos e mais de três dezenas de feridos. A ferida ainda está aberta. “As festas de agosto, por exemplo, não aconteceram, não havia alegria. Ainda não há condições psicológicas".

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Vila Nova da Rainha um ano depois. Reportagem de Liliana Carona

Continua de portas fechadas a sede da Associação Recreativa de Vila Nova da Rainha, no concelho de Tondela, onde 11 pessoas morreram no dia 13 de janeiro do ano passado. Uma fita negra à porta do edifício indica que o luto ainda não passou. O trágico incêndio que deflagrou na associação recreativa de Vila Nova fez ainda mais de três dezenas de feridos e um luto que parece não ter cura. Tudo está como há um ano.

Ainda não tinham passado três meses dos incêndios de outubro que deixaram um rasto de destruição por todo o concelho de Tondela, e Vila Nova da Rainha, chorava novamente.

A limpar as feridas, teve que lidar com outro incêndio imprevisível. Uma salamandra, terá sido a causadora do fogo que deflagrou na sede da associação local, gerando um ambiente de pânico e sufoco que causou a morte de mais de uma dezena de pessoas e muitos feridos.

Um ano depois, sem disposição e sem vontade de falar, os habitantes de Vila Nova da Rainha não querem sequer recordar o dia 13 de janeiro de 2018. O secretário da junta, Miguel Pacheco, da União de Freguesias de Mouraz e Vila Nova da Rainha observa uma aldeia triste.

“Não digo moribunda, mas triste, para quem frequentava os torneios, sabia que era tudo família, a outra associação da freguesia também está destruída desde os incêndios de 2017, não temos nenhuma associação na povoação, Gândara e Vila Nova da Rainha estão destruídas”, lamenta.

Era o maior torneio anual de sueca do concelho, que decorria há já 20 anos na Associação Recreativa de Vila Nova da Rainha, fundada em 1979. Este sábado é dia de torneios de sueca, noutras associações do concelho. E sobre a mesa, as cartas e as memórias que não se apagam.

Miguel vai participar, mas não esconde os receios. “Ao chegarmos vamos pensar se acontecer alguma coisa, para onde podemos fugir, temos que ter essa capacidade de análise”.

Jorge Dias, o presidente da Associação Recreativa de Vila Nova da Rainha, com 150 sócios, confessa que ainda não há condições psicológicas para um virar da página.

“As festas de agosto, por exemplo, não aconteceram, não havia alegria. Ainda não há condições psicológicas. Começámos a fazer a limpeza, e vimos que tem que ser tudo demolido, temos que arranjar forças psicologicamente para começar a fazer as coisas, e que saia a decisão do Ministério Público, andaram cá a fazer as perícias”, conta à Renascença, o responsável da associação, vestido de preto e visivelmente angustiado. “Todos os anos em que se realizavam os eventos, aquelas pessoas participavam sempre, fazem parte de nós”.

Este domingo, há missa de homenagem às vítimas, às 15h00, e uma romagem ao cemitério. Em Vila Nova de Rainha os rostos e as poucas palavras dos 300 habitantes denunciam que o trauma ainda não passou.

“Penso sempre que se eu tivesse lá estado, podia ter feito sempre mais qualquer coisa, mas isso pensarão todos”, considera Miguel Pacheco, da junta local.

“A tragédia que ocorreu no ano passado em Vila Nova da Rainha aconteceu no concelho de Tondela, mas poderia ter acontecido em qualquer ponto do país”, realça o vereador da Câmara Municipal de Tondela, Miguel Torres que revela que o município solicitou à ANPC, - Autoridade Nacional de Proteção Civil, ajuda na identificação de entidades certificadas para fazer o levantamento das condições de segurança contra incêndios em edifícios.

Foram identificadas quatro empresas e distribuídas entre elas a visita a 103 edifícios sede de associações. Destas 103 vistorias, resultaram protocolos com 71 coletividades, num valor que ronda os 400 mil euros de investimento por parte do município tendo em vista a realização dos trabalhos identificados nos relatórios realizados.

Ou seja, diz o vereador “cada coletividade tem uma equipa de engenharia certificada associada que executa as obras de acordo com o orçamento e as verbas são transferidas para as associações mediante a apresentação da despesa. Nestes 71 edifícios há casos muito diversos, com orçamentos que rondam os mil euros, mas outros que chegam aos 15 mil euros”, conta Miguel Torres.

Outra das medidas a implementar tem que ver com um manual de procedimentos entregue à coletividade em que são identificados os responsáveis e os procedimentos a adotar em caso de emergência. Estima-se que todo o processo esteja concluído no primeiro semestre deste ano.

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