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Exonerações após assalto a Tancos inseriram-se em “estratégia de comunicação”

11 jan, 2019 - 00:55 • Lusa

A revelação avançada pelo coronel Ferreira Duarte na comissão parlamentar de inquérito.

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O coronel Ferreira Duarte revelou esta quinta-feira que o ex-chefe do Estado-Maior do Exército (CEME) lhe disse que a decisão de o exonerar, em julho de 2017, fazia parte de uma "estratégia de comunicação" para mostrar a transparência da instituição.

Numa "conversa privada" no dia 3 de julho de 2017, o general Rovisco Duarte, ex-CEME, "pediu desculpa pelo impacto que a decisão teve nas famílias" [dos coronéis exonerados], explicou que foi uma "decisão dele que fez parte de uma estratégia de comunicação externa", para garantir a transparência e o prestígio da instituição.

O coronel de Infantaria Ferreira Duarte respondia ao deputado do CDS-PP António Carlos Monteiro na comissão parlamentar de inquérito ao furto de Tancos, noticiado em 29 de junho.

O militar era à altura do furto o comandante do Regimento de Infantaria n.º 15, de Tomar, uma das unidades responsáveis por fornecer militares para a vigilância dos paióis nacionais de Tancos e foi, com outros quatro comandantes, exonerado pelo ex-CEME no dia 01 de julho e nomeado para as mesmas funções no dia 18 seguinte.

O coronel, atualmente a frequentar o curso de promoção a general, revelou o conteúdo da conversa mantida com Rovisco Duarte após o presidente da comissão de inquérito, o deputado Neto Brandão, ter explicado que devia responder à questão do deputado António Carlos Monteiro por se relacionar com matéria factual e não da reserva da vida privada.

Segundo o coronel Ferreira Duarte, o general Rovisco Duarte telefonou-lhe a comunicar a decisão antes de a anunciar na televisão, no dia 01 de julho e, no dia 03, tiveram uma conversa na qual o ex-CEME lhe explicou os motivos da decisão.

"E eu compreendi", disse, admitindo "impactos na vida familiar", mas frisando acreditar que a decisão "foi tomada em consciência".

O general CEME "pediu desculpa pelo impacto que a decisão teve nas famílias, o que teve... e que foi uma decisão dele que fez parte de uma estratégia de comunicação externa, que prestigiava a instituição", referiu, para adiantar: "Por razões de clareza" e de garantias "de transparência" na "postura do Exército" enquanto decorressem os três inquéritos que mandou abrir internamente na sequência do furto.

Perante as declarações do coronel Ferreira Duarte, o deputado António Carlos Monteiro questionou se face ao furto o comando do Exército não estaria mais preocupado com a imagem do que com o furto.

"Não acredito que a preocupação tenha sido a imagem. (...) Eu entendi que a exoneração era para ajudar a mostrar que a investigação era completamente transparente", acrescentou.

Mais à frente na audição, com várias perguntas sobre as exonerações, o coronel disse que a "exoneração não é uma punição", sendo antes "uma figura que existe e é perfeitamente normal".

E sobre a questão da imagem na gestão dos acontecimentos, o coronel disse que "não partilha da perceção" de que a condução do caso ao nível do comando do Exército tivesse sido feita a pensar "na imagem".

"A imagem é importante, mas não conseguimos criar imagem se não formos credíveis, é muito importante que se acautele a credibilidade", declarou, sublinhando acreditar que esta é também a visão dos oficiais com quem aprendeu.

Questionado sobre as demissões apresentadas por dois generais na sequência das exonerações dos cinco coronéis, o então comandante das Forças Terrestres, António Menezes, e o general Calçada, o coronel Ferreira Duarte afirmou que nunca lhes perguntou os motivos.

"São dois brilhantes generais que nós temos pena que se tenham ido embora, é a minha opinião pessoal, pela sua experiência e capacidade de comando. Mas não podemos fazer nada quanto a isso", referiu.

O furto do material militar, entre granadas, explosivos e munições, dos paióis de Tancos foi noticiado em 29 de junho de 2017.

O caso do furto de armas em Tancos ganhou importantes desenvolvimentos em 2018, tendo sido detidos, numa operação do Ministério Público e da Polícia Judiciária, sete militares da Polícia Judiciária Militar (PJM) e da GNR, suspeitos de terem forjado a recuperação do material em conivência com o presumível autor do roubo.

Entre os detidos está o diretor da PJM e um civil (que já foi militar), principal suspeito da prática do furto, encontrando-se ambos em prisão preventiva, num caso que levou à demissão de Azeredo Lopes do cargo de ministro da Defesa e cujas implicações políticas levaram à criação de uma comissão parlamentar de inquérito.

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