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Pasta de dentes, perfumes e esponjas. O trabalho do "Cientista do Ano" na primeira pessoa

09 jan, 2019 - 14:36 • Marta Grosso , Miguel Coelho

Nuno Maulide é português e foi distinguido com o prémio de "Cientista do Ano", na Áustria. Na Manhã da Renascença, explicou o que contribuiu para a distinção.

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Sabia que a química orgânica faz parte do seu quotidiano? “Não é possível imaginar o seu dia-a-dia sem dezenas de momentos em que a química orgânica está a intervir”, afirma Nuno Maulide, o português de 39 anos considerado o "Cientista do Ano", na Áustria.

“Quando se levanta de manhã e toma o seu duche; quando lava os dentes, a pasta de dentes tem compostos orgânicos. Depois, se puser uns cremes, tem compostos orgânicos; se usar um perfume, tem compostos orgânicos; se tiver uma dor de cabeça e tomar um comprimido, tem compostos orgânicos”, explica Maulide, em conversa na Manhã da Renascença.

Nuno Maulide é professor catedrático na Universidade de Viena desde 2013 e tornou-se no primeiro português e o primeiro químico a receber aquela distinção, destinada a distinguir investigadores que “têm dado contributos notáveis para a ciência e para a divulgação junto do grande público, contribuindo para o aumento da cultura científica dos cidadãos”, explica o comunicado sobre o prémio.

“A distinção é, em parte, pelo trabalho científico que tenho realizado aqui, na área da química, mas sobretudo também pela propensão que eu tenho para tentar fazer divulgação científica, comunicar com a sociedade em geral e, no fundo, explicar às pessoas para que é que serve a química, quais são as virtudes da química e um bocadinho para que é que serve a investigação que nós fazemos”, explica na Renascença.

“Nuno Maulide é um cientista que se dedica de forma muito eficaz e empenhada na divulgação do seu trabalho”, afirma Eva Stanzl, a presidente do Clube de Jornalistas de Ciência e Educação da Áustria, que atribuiu o prémio.

Mas, afinal, o que faz Nuno Maulide?

“Trabalhamos na chamada Química Orgânica - a área da química que se dedica a tentar fabricar moléculas novas, desenvolver novas reações para fazer os compostos que são essenciais para a vida como a conhecemos”, começa por dizer.

“A química orgânica está presente todos os dias, até em muitas coisas de que a pessoa não se dá conta. Por exemplo, a proteção das culturas agrícolas e o aumento do rendimento agrícola, que é essencial para poder providenciar alimentação para toda a sociedade, depende essencialmente do desenvolvimento de moléculas orgânicas que agem como proteção das colheitas”, aponta.

Mas como? “Quando se fabrica um composto orgânico, no fundo, põem-se duas moléculas na mesma sala e tenta-se convencer as duas moléculas a reagir. Geralmente gera-se a molécula de interesse, mas também alguns produtos secundários, que não interessam. Temos de desenvolver reações em que não haja produtos secundários”, começa por explicar.

Nuno Maulide faz depois uma comparação humorística com as relações humanas, dizendo que “nós, os químicos orgânicos, consideramo-nos pessoas com poder de persuasão num domínio submicroscópico: pomos coisas minúsculas a reagir da maneira que nós queremos”.

Em qualquer processo, pretende-se que o ambiente saia ileso de quaisquer malefícios. “Temos neste momento projetos em que tentamos fabricar compostos isolados a partir de esponjas marinhas E em que seria preciso matar não sei quantas esponjas para conseguir extrair um miligrama. Muito mais interessante é ser capaz de fazer em laboratório um grama sem ter de prejudicar ninguém, nenhuma esponjinha”, exemplifica.

Todos menos Marcelo

Desde que foi conhecida a notícia do prémio, Nuno Maulide já recebeu vários telefonemas e felicitações. Entre elas, não está a do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

“Não, ainda não me ligou”, afirma na Manhã da Renascença. “Quem me ligou foi o ministro da Ciência austríaco, logo no próprio dia, a dar os parabéns em pessoa. Também me ligou o comissário europeu Carlos Moedas e o Presidente da República austríaco até escreveu um tweet a dar os parabéns”, revela.



Nuno Maulide já foi distinguido com três bolsas do Conselho Europeu de Investigação. O seu trabalho de investigação pode ser visto nas redes sociais, no Twitter, no Facebook e na internet em geral.

“Vamos tentando comunicar com o público. Também no Youtube, há uns vídeos interessantes – estão em alemão, mas estamos a trabalhar numas traduções”, avança o cientista português, que foi escolhido por cerca de 150 membros do Clube austríaco de Jornalistas de Ciência e Educação.

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