Emissão Renascença | Ouvir Online
A+ / A-

Em Lisboa, o Campo das Cebolas agora tem nome de Nobel. Mas nem todos estão a favor

10 dez, 2018 - 14:44 • Tiago Palma

Quando se assinalam os 20 anos da entrega do Prémio Nobel da Literatura a José Saramago, a Câmara Muncipal de Lisboa atribriu-lhe o nome de um largo no Campo das Cebolas, em Alfama. Mas a oposição critica a escolha do local e o “quero, posso e mando” da autarquia.

A+ / A-
Largo Saramago PEÇA

Quem passar mais apressado ou distraído pelo reabilitado Campo das Cebolas, em Alfama, não reparará por certo na mudança. Mas a placa foi descerrada esta segunda-feira: “Largo José Saramago. Escritor, Prémio Nobel da Literatura 1998”. No ano em que se assinalam duas décadas da entrega do Prémio Nobel da Literatura ao escritor falecido em 2010, a Câmara Municipal de Lisboa decidiu atribuir-lhe o nome de um largo a poucos metros da Casa dos Bicos, edifício onde está sedeada a Fundação José Saramago.

O socialista Pedro Delgado Alves, presidente da Junta de Freguesia do Lumiar e membro da Comissão Municipal de Toponímia que “unanimemente” deu parecer positivo à atribuição do nome de Saramago ao largo, garante que a decisão é já “antiga”, faltando apenas, no entretanto, escolher o espaço adequado.

E explica à Renascença como se procede à escolha: “É preciso esperar pelo menos cinco anos sobre o falecimento antes de atribuir o topónimo. Depois, a Comissão [Municipal de Toponímia], que tem representantes de universidades, da Sociedade Portuguesa de Autores ou do Gabinete de Estudos Olisiponenses, avaliará a valia histórica e o impacto da personalidade na cidade. É emitido um parecer e, depois, há um exercício de procurar um arruamento. Nem sempre é fácil. Porque a cidade cresce mas não cresce tanto quanto a necessidade de novos arrumamentos para batizar. O que às vezes se tenta fazer é identificar espaços que podem já estar na malha consolidada da cidade e que poderão ser redestacados, autonomizados sem prejudicar as pessoas, não obrigado a mudança de moradas, ou descaracterizar um local que é já conhecido por uma designação”.

Delgado Alves lembra que, escolhido um arruamento, "a decisão definitiva é da Câmara”. “Haverá sempre o risco de alguém não concordar, e as razões são de cada um, mas não há uma fórmula que satisfaça toda a gente em todos os casos. É assim com a atribuição de nomes em todas as cidades do mundo. O que importa é que o processo seja participado. Neste caso, o 'impulso' até veio da própria Assembleia Municipal. É frequente, quando a Assembleia aprova votos de pesar, que também sugira à Comissão [Municipal] de Toponímia e à Câmara a atribuição do nome", garante.

Mas a decisão não agradou a todos. À Renascença, vereador centrista João Gonçalves Pereira, e mesmo lembrando que Saramago é “uma personalidade que em termos edeológicos está muito longe do CDS”, garante que o partido não se opõe a qualquer tipo de homenagem ao escritor. Opõe-se, sim, ao local escolhido.

E critica o “quero, posso e mando” da autarquia. “A Câmara vem dizer que não havia nenhum nome atribuído àquele espaço. Mas aquele é o Campo das Cebolas. E, portanto, parece-nos que não faz sentido atribuir o nome de José Saramago. Nós não temos nenhuma reserva relativamente a Saramago. E na reunião de Câmara onde foi decidido isto, havia uma outra iniciativa a lembrar precisamente a importância dele, que sugeria atribuir o nome de Saramago a um equipamento cultural ou educativo. Para nós fazia muito mais sentido. Mas a ser atribuído a uma praça, que não seja uma praça que ficará para sempre conhecida por Campo das Cebolas. Infelizmente há aqui uma espécie de quero, posso e mando de Fernando Medina, que de uma forma um bocadinho autocrática vai tomando essas decisões sem ouvir nada nem ninguém”, lamenta o vereador do CDS.

Pedro Delgado Alves reforça que o Campo das Cebolas se manterá onde está, com a mesma designação que tinha.

"Era preciso, à semelhança do que se fez noutros sítios da cidade, escolher um espaço que tivesse uma ligação simbólica à personalidade, neste caso através da Fundação José Saramago, que tem ali sede [na Casa dos Bicos]. Mas o Campo das Cebolas continua a existir do outro lado, a nascente. Não há, por exemplo, alteração de moradas. As moradas que existiam no Campo das Cebolas continuam a ser no Campo das Cebolas, como é o caso do Instituto Nacional da Propriedade Industrial. O objetivo é sempre não obrigar a que todo um arruamento tenha essa carga burocrática [de alterar morada]”.

O mesmo é reafirmado à Renascença por Miguel Coelho, presidente da Junta de Freguesia de Santa Maior.

"Não penso que no país os Nobel da Literatura se encontrem aí ao virar da esquina. E faz todo o sentido, num momento em que há uma grande tendência para desvalorizar a cultura, que uma parte do Campo das Cebolas – que não perde o nome – se passe a chamar Largo José Saramago. É preciso entender que o Campo das Cebolas não deixa de existir, como a Praça do Areeiro não deixou de existir por ser Praça Francisco Sá Carneiro, ou o Largo do Caldas não deixou de existir por ser Largo Adelino Amaro da Costa. As pessoas usam indistintamente as duas nomenclaturas. Não me parece que haja alguma conflitualidade. Há o Campo das Cebolas e uma parte do Campo das Cebolas é o Largo José Saramago. É normal e um motivo de orgulho", explica.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

  • 11 dez, 2018 01:00
    Por favor ! nao esgotem o nome do saramago!
  • Moura
    10 dez, 2018 Mouros 21:04
    😂😂😂 O campo das cebolas transformado em praça de sarabagos!!😂😂😂
  • António dos Santos
    10 dez, 2018 20:48
    Os atrasados mentais da CM Lisboa e o Governo, não têm um pingo de dignidade, ao prestarem vassalagem a um traidor de Portugal. Que passou a vida a dizer mal de Portugal e a apelar para passarmos a ser uma província de Espanha. Não esquecer que o Nobel que recebeu, foi dado por cunhas e não pela qualidade literária. Nem sabia escrever português. As cinzas dele só estão a poluir Lisboa!!!

Destaques V+