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Borba. "A ideia que está a passar é que isto parece o faroeste. Não é verdade”

04 dez, 2018 - 14:40 • Rosário Silva

Duas semanas depois da tragédia de Borba, empresário do setor das pedreiras, quer que a serenidade seja reposta e que seja retomada a normalidade do dia-a-dia de uma área de negócio que já viu melhores dias.

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Reportagem de Rosário Silva nas pedreiras de Borba - 04/12/2018

Duas semanas depois, concluída a operação de busca e resgate numa pedreira na estrada municipal 255, entre Borba e Vila Viçosa, na Marmetal, uma empresa sexagenária que se dedica à extração e comercialização de rochas ornamentais e industriais, é a pouco e pouco que se recupera do choque.

O aluimento de terras a 19 de novembro, fez cinco vitimas mortais, duas das quais funcionários de uma pedreira. Eram colegas de profissão de Joaquim Pereira e João Rodrigues, homens habituados à dureza da vida, mas longe de imaginarem que a tragédia chegaria tão perto.

Menos surpreendido, Luis Sotto Mayor, administrador da Marmetal, há quatro anos que tinha alertado para os perigos da estrada municipal. Agora, só quer que a normalidade regresse para continuar a gerir um negócio que já conheceu melhores dias. Os elevados custos energéticos e de transporte ou a fiscalidade, são obstáculos que os empresários vão tentando ultrapassar num mercado competitivo que continua de olhos postos no Médio Oriente.

A tragédia de Borba não veio ajudar o sector, mas na zona dos mármores têm-se a forte convicção de é preciso repor a serenidade e limpar a imagem que foi passada e não corresponde à realidade.

“Nós somos pessoas responsáveis, cumprimos a legislação, e a ideia que está a passar é que isto parece o faroeste e que anda aqui tudo a garimpar, o que não é verdade”, assegura Luís Sotto Mayor.

A reportagem da Renascença ouviu as preocupações dos empresários e dos trabalhadores da chamada zona dos mármores, e traça um retrato de um setor que têm a ambição de, até 2025, valer mais de 1% do Produto Interno Bruto (PIB ) português, em matéria de exportação.

A evolução do sector do mármore

Um estudo da Direcção-Geral de Energia e Geologia, a que a Renascença teve acesso, revela que, no período de 2010 a 2015, a atividade extrativa abrandou, devido à crise, traduzindo-se num decréscimo das quantidades extraídas de 7.107.609 milhões de toneladas, em 2010, para 4.034.586 milhões, em 2015, (-69%).

Em termos financeiros, ao ano de 2010 correspondeu um valor de 43.861 milhões de euros, passando a apenas 32.921 milhões de euros em 2015, (-25%), concluindo-se que o efeito da crise foi relativamente menos sentido no subsector do mármore.

O pico da atividade do sector, verificou-se em 2013 com um total de 427.201 milhões de toneladas extraídas, correspondendo a um total de 47.493 milhões de euros.

No Alentejo, concretamente, estão referenciadas 210 pedreiras dedicadas à extração de mármore para fins ornamentais. A grande maioria localiza-se no distrito de Évora. São 203 (97%), repartidas pelos concelhos de Vila Viçosa (119), Borba (54), Estremoz (23) e Viana do Alentejo (7).

No mesmo período e no distrito de Évora, avança o documento, verificou-se uma forte regressão das pedreiras em atividade, encontrando-se apenas 25% em laboração, o que corresponde a um total entre as 50 e as 55 pedreiras ainda ativas.

A aposta no mercado externo e os elevados custos energéticos e de transporte

Neste setor, o valor das exportações representa 75% do volume de negócios para cerca de metade das empresas. É, pelo menos, o que revela um questionário elaborado pela ASSIMAGRA, a associação que representa os industriais do sector.

Os maiores níveis de faturação situam-se em empresas de maior dimensão (45% do total), as quais asseguram, ao mesmo tempo, a extração e a transformação do mármore.

Como principal mercado exportador, destaca-se o do Médio Oriente, com relevo para a Arábia Saudita, havendo boas expectativas no incremento das vendas para os Estados Unidos da América, Espanha e o Norte de África, estando, ainda, identificada a India como mercado de bom potencial de crescimento.

Para além da concorrência italiana e espanhola nas exportações, a Turquia dada a sua proximidade com países do Médio Oriente perfila-se como uma forte ameaça às exportações.

Como obstáculos ao incremento às exportações, são por ordem de grandeza; os custos energéticos, a estabilidade politica dos países de destino (ex. Síria e Iraque), a fiscalidade e o custo do transporte.

Quanto ao mercado interno, para além da concorrência tradicional de países como a Espanha, Itália e Turquia, perspetiva-se a Grécia, assim como a cerâmica e outros mármores nacionais.

De alguma forma transversal ao tecido empresarial português, a grande maioria do mármore exportado destina-se à construção, não sendo notória a existência de cooperação entre empresas, sendo, de alguma forma, insipiente a aposta ao nível de marketing e principalmente no design: “desde que o mármore seja bom, vende sempre”.

Borba: operação de Proteção Civil em números

  • 255 (estrada municipal entre Borba e Vila Viçosa)
  • 5 vitimas mortais
  • 13 dias
  • 651 operacionais
  • 402 veículos
  • 70.000 m3 drenados (águas barrentas entre os poços das duas minas e o exterior)
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  • carlos cupeto
    05 dez, 2018 évora 16:57
    já agora gostava de saber quanto dos nossos impostos de gastou em toda esta operação?
  • Filipe
    04 dez, 2018 évora 18:50
    Todos tinham alertado ... dizem para passar a "bola" e livrar responsabilidades , também D. Afonso Henriques alertou Portugal que um dia perdia a identidade e toda a gente varreu para baixo do tapete .

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