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Autarca de Borba sabia há quatro anos que Estrada Nacional 255 estava em perigo

23 nov, 2018 - 15:53 • Tiago Palma

Há relatos de que o corpo da segunda vítima já terá sido descoberto na pedreira, mas informação ainda não foi confirmada oficialmente.

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Tragédia em Borba. Marinha dá apoio a buscas na pedreira
Tragédia em Borba. Marinha dá apoio a buscas na pedreira

O presidente da Câmara de Borba sabia, pelo menos desde 2014, que a Estrada Nacional 255 estava em perigo, mas desvalorizou os alertas.

É o que avança a SIC Notícias esta sexta-feira à tarde, com base numa ata da assembleia municipal a que a estação televisiva teve acesso, onde se prova que António Anselmo, ao contrário do que garantiu no rescaldo do incidente de segunda-feira, já tinha sido informado dos riscos que a estrada apresentava, não tendo, contudo, tomado qualquer medida para prevenir acidentes.

Não foi ainda confirmado pelas autoridades, mas vários canais avançam que poderá ter sido já sinalizado, com recurso a cães pisteiros das equipas cinotécnicas da GNR que estão a auxiliar nas buscas, o local onde se encontra soterrada a segunda vítima da derrocada na pedreira de Borba.

No entanto, a confirmação da presença do corpo (junto à retroescavadora na qual a vítima trabalhava) e posterior retirada deste poderá ainda demorar, uma vez que a remoção dos escombros, nomeadamente rochas de maior dimensão (um trabalho apenas iniciado esta quinta-feira) poderá agravar a instabilidade dos taludes e provocar novos aluimentos de terras.

Segundo as autoridades, o colapso de um troço de cerca de 100 metros da estrada terá arrastado para dentro da pedreira contígua, com cerca de 50 metros de profundidade, uma retroescavadora e duas viaturas civis, um automóvel e uma carrinha de caixa aberta.

As buscas por estas viaturas e respetivos ocupantes prossegue, a partir desta sexta-feira com o apoio de um sonar da Marinha e uma terceira bomba de drenagem.

Segundo o comandante distrital de Operações de Socorro de Évora, José Ribeiro, a operação de drenagem "está a correr dentro daquilo que era estimado", mas o volume de água dentro dos poços da pedreira é "muito grande". Já segundo a Proteção Civil, com a instalação da terceira motobomba deverá ser possível retirar 500 mil litros de água por hora.

Na terça-feira à tarde foi retirado o corpo de um de dois mortos já confirmados, havendo ainda três pessoas dadas como desaparecidas.

Investigadores já tinham detetado dilatação de fissuras este ano

Um grupo de investigadores detetou, este ano, em dois levantamentos, a dilatação de fissuras e escorrimento de águas nas pedreiras onde ocorreu o deslizamento de terras e colapso de uma estrada em Borba, segundo o historiador Carlos Filipe. "O talude não estava bem, porque as fissuras encontravam-se a dilatar e havia escorrimento de humidades, águas provenientes, provavelmente, das valetas da própria estrada", revelou hoje à Lusa o investigador e historiador Carlos Filipe.

O mesmo responsável referiu que as valetas da via "deviam estar a remanescer toda a quantidade de água para as massas que estavam por detrás dos blocos", indicando que se desconhecia a composição dos materiais. A situação, disse, foi vista em fevereiro deste ano e há cerca de um mês, no âmbito do projeto "Património e História da Indústria dos Mármores", desenvolvido, desde 2012, pelo Centro de Estudos de Cultura, História, Artes e Património (CECHAP), de Vila Viçosa.

Segundo o investigador e historiador, o projeto contou também com a participação de especialistas de outras áreas de especialidade, como história, património e arqueologia, e envolveu "muitas fotografias, cartografia e georreferenciação". "Hoje, temos uma noção clara do risco que ali se estava a correr", realçou Carlos Filipe, do CECHAP e que integra o projeto, mas vincou que a equipa não tinha "a capacidade de determinar" a existência de um perigo real.

"Não somos de geologia, nem da engenharia, mas, de qualquer das formas, era um caso que merecia uma atenção permanente", assinalou, observando que "a largura da via correspondia ao talude da pedreira".

Carlos Filipe defendeu que "ninguém pode dizer que desconhecia, pelo menos, na especialidade, a realidade daquele lugar", alegando que a situação "encontrava-se assim há mais de 40 anos" e estava descrita no Plano Regional de Ordenamento do Território da Zona dos Mármores (PROZOM). Esse plano estudou essa zona "como nenhum outro lugar em Portugal e todos os estudos do subsolo, incluído as vias, estão nos relatórios que passaram por todas as entidades", acrescentou.

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  • Filipe
    23 nov, 2018 évora 18:35
    É fácil de imaginar só numa pedreira onde o proprietário compra o terreno e a seguir esburaca até quase 100 metros por 300 ou 400 largura , imaginem cada metro cúbico de mármore que lá falta e o LUCRO até ao abandono , pagando mal aos empregados como sempre . As pedreiras em Portugal são como o petróleo .

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