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Rocha ameaça cair na Praia Grande. Câmara de Sintra pede avaliação urgente

20 nov, 2018 - 20:40

O alerta foi lançado pelo geólogo Galopim de Carvalho. Autarquia diz que não há razões para cortar o acesso, mas será efetuada uma avaliação geológica do estratificado com "caráter de urgência".

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Um bloco na vertente das pegadas de dinossauros da Praia Grande, em Colares, ameaça ruir, pondo em risco o acesso ao areal, alertou o geólogo Galopim de Carvalho, tendo a Câmara de Sintra pedido uma avaliação urgente.

"Fizeram uma escadaria nova e, em frente a umas pegadas, há um patamar, onde as pessoas param para ver, mas na escarpa está um pedaço de camada que já está solto, com ar de estar desprendido do resto, que com uma chuvada forte pode cair", descreveu à agência Lusa António Galopim de Carvalho.

O professor catedrático jubilado pela Universidade de Lisboa, de 87 anos, visitou na semana passada com alunos e professores da Escola Básica da Sarrazola a jazida de pegadas de dinossauros da Praia Grande e ficou "com o coração ao pé da boca".

"Estive lá com um grupo de crianças e, naqueles cinco ou dez minutos, só para explicar, estava preocupado e enquanto não corri com as crianças dali para fora não descansei", contou o antigo diretor do Museu Nacional de História Natural.

“Não há razões para cortar o acesso”, diz autarquia

Uma fonte oficial da Câmara de Sintra disse à agência Lusa que técnicos do serviço municipal de Proteção Civil informaram que "não se verificam desprendimentos de inertes na escadaria e não há razões para cortar o acesso, mas considerando tratar-se de uma zona geologicamente instável será efetuada uma avaliação geológica do estratificado com caráter de urgência".

Uma avaliação que deve decorrer "ainda esta semana e por técnicos da câmara", acrescentou a mesma fonte.

No blogue "De Rerum Natura (Sobre a Natureza das Coisas)", de divulgação científica, António Galopim de Carvalho alertou no sábado que "uma parte da camada de calcário (sobrejacente à que contém as pegadas), com perto de uma dezena de toneladas, está prestes a ruir".

O geólogo avisava, no texto, para a possibilidade de ser precisamente sobre as cabeças de quem estiver no pequeno patamar, existente na escadaria de acesso à praia pelo lado de Almoçageme, que irá cair, "a qualquer momento, a dita porção de rocha".

O especialista, em declarações à Lusa, defendeu a realização de uma avaliação pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), que possui técnicos especializados "na consolidação das vertentes".

"Aquilo devia ser visto por alguém com capacidade de dizer o que ali se pode fazer. Estou convencido de que quem lá for vai dizer que tem de ser desmontado, tem de ser retirado, porque não tem conserto", advogou Galopim de Carvalho.

O geógrafo admitiu que existem casos de consolidação de blocos, mas este "não tem dimensão para suportar uma intervenção dessas", dado o peso provável de "seis ou dez toneladas".

"A camada que está para cair está por cima da camada que tem as pegadas, é um bloco superior a essa, e quando se tirar esse bloco, até aos dois metros de altura por um metro de largura, aproximadamente, deixa ver mais uma ou duas pegadas, porque está mesmo ao pé do trilho", adiantou.

A jazida de pegadas de dinossauros da Praia Grande do Rodízio data do período Cretácico, composta por marcas de animais herbívoros e carnívoros que ali passaram há cerca de 120 milhões de anos, quando a zona era uma planície litoral, algumas dezenas de milhões de anos antes da elevação da serra de Sintra.

O bloco que ameaça ruir não tem pegadas, enquanto a camada de baixo exibe vestígios fósseis de um dinossauro carnívoro, revelou Galopim de Carvalho.

O geógrafo recordou que, há alguns anos, um técnico do LNEC, Laranjeira Gomes Coelho, deu conhecimento ao Parque Natural de Sintra-Cascais (PNSC) e à Câmara de Sintra do risco de queda de blocos, mas nada se fez e, "no inverno seguinte, parte da camada caiu e a escada esteve interrompida com toneladas de pedra durante anos".

"A câmara mandou limpar aquilo e construiu um corrimão muito sólido, que torna a subida das escadas segura, só que as camadas continuam desprotegidas superiormente e, sempre que chove, a água entra nas fendas entre camadas, nas chamadas superfícies de estratificação, e elas têm tendência a escorregar e a cair", frisou.

Perante este cenário, o investigador apontou a necessidade de intervir no topo da arriba, uma vez que para "preservar as pegadas mais 30, 40 ou 100 anos têm de ser forçosamente protegidas por cima".

"A saída daquele bloco deve deixar ver mais uma ou duas pegadas da camada de baixo, porque a camada que tem pegadas não está para cair para já", reiterou.

No percurso pedonal das pegadas de dinossauros, na estrada entre Almoçageme e a Praia Grande, como a Lusa constatou, permanecem duas placas com avisos de risco de "queda de blocos" e de "acesso condicionado", aconselhando-se para que "o número de observadores no trilho não exceda as 10 pessoas".

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