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Dia Nacional do Não Fumador

Quer deixar de fumar? "É mais fácil do que se está à espera”

17 nov, 2018 - 09:12 • Marta Grosso

Dois ex-fumadores partilham a sua história com a Renascença e deixam dicas para quem está a pensar dar o passo.

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"Quando for papá também vou fumar." Foram estas palavras, proferidas pelo filho de 5 anos, que levaram Miguel Teixeira a avançar para uma vida sem fumo.

“Foi um marco grande. Já tinha pensado em deixar de fumar, mas nunca tinha tentado e quando ouvi aquilo foi um alerta: tenho de fazer alguma coisa à minha vida”, conta à Renascença.

Miguel Teixeira é piloto e tem 30 anos. Começou a fumar aos 13, 14 anos e gostou logo. “Gostei e gosto", diz. Depois retifica: Gostava...” A verdade é que há momentos em que ainda lhe custa não acender um cigarro. Sobretudo estiver frio e sol – os dias em que Miguel mais desfrutava dos cigarros. "Isto agora ia saber-me mesmo bem”, pensa nessas alturas.

“Apetece-me fumar e custa-me”, admite. “Mas depois passo e o cheiro já é coisa que me começa a fazer um bocado de confusão, o que é bom.”

Há três semanas que Miguel Teixeira não fuma. “Sinto-me bem. Estou orgulhoso. Principalmente, estou orgulhoso de estar a conseguir”, diz. "Não está a ser fácil, mas é mais fácil do que estava à espera. Pode parecer parvo, mas é assim.”

“Larguem que não é assim tão difícil”

O conselho é de Maria Amélia Costa. Há dois anos que pensava deixar o tabaco, mas só o conseguiu quando lhe foi dito que poderia ter de ser operada a um peito.

“Fui falar com a médica de família para me receitar alguma coisa”, revela. Deixou de fumar com a ajuda de medicação, já lá vão quase seis meses.

“Não foi tão difícil como eu estava à espera”, reconhece. E a suspeita de doença só fez com que se decidisse mais rápido. Isso e o facto de ter perdido um cunhado quatro meses depois de lhe ter sido diagnosticado um cancro no pulmão. “Isso também conta muito. Acho que ainda foi motivo maior.”

Durante cerca de 35 anos, Amélia fumou sete a oito cigarros por dia. Contas feitas terá fumado mais de 102 mil cigarros. O receio de não conseguir largar e depois ficar a fumar mais inibia-a de tentar deixar o vício.

“Tenho pessoas amigas que tentaram largar e largavam durante algum tempo e depois, quando voltavam, começavam com o dobro dos cigarros, a fumar sempre muito mais. Eu, como nunca fui uma grande fumadora, tinha medo de começar a fumar mais”, conta à Renascença.

Hoje, meio ano depois de ter parado, já não sente qualquer vontade de pegar num cigarro, nem sequer quando está perto de pessoas que fumam.

“Uma passada firme”

Para combater frustrações, quer Miguel Teixeira quer Maria Amélia Costa aconselham o fumador a fazer uma preparação mental antes de avançar.

“Tenham noção de que vos vai apetecer muito e de que não vão poder fumar”, alerta o piloto. É importante que “seja uma passada firme e não um ‘deixa lá ver o que é que isto vai dar’", acrescenta.

Para tal, é importante a mentalização, caso contrário “leva àquela frustração de tentar deixar de fumar duas ou três vezes e não conseguir – ‘não dá e vou fumar a vida toda’”.

“Acho que é preciso a pessoa mentalizar-se bem antes de começar a deixar de fumar, pensar bem no que vai acontecer, quais as consequências, quais vão ser os pontos maus”, reforça.

Para Maria Amélia, “a pessoa tem mesmo de querer”. Depois disso, garante, é fácil.

Mas tanto trabalho e esforço compensam? Miguel Teixeira responde sem hesitações: “Sim, acho que vale muito a pena.”

Sozinho ou acompanhado?

Quer Miguel quer Maria Amélia recorreram a consultas especializadas para conseguirem largar os cigarros. Consultas como as de Rui Alves, especialista em medicina geral e familiar em Lisboa, que acompanha quem quer deixar de fumar.

Na sua opinião, o acompanhamento médico é fundamental no processo, “porque faz-se uma programação muito mais adequada à patologia”.

“Algumas destas pessoas querem deixar de fumar porque têm uma doença. Têm tosse, porque se cansam, porque têm falta de ar, porque acham que tomar a pílula e fumar aumenta os derrames...", explica o médico à Renascença. "É importante que a pessoa possa discutir todas estas questões do risco de fumar para a sua saúde.”

Depois de uma conversa sobre o estilo de vida de cada doente, “o grande objetivo é ver como mudar alguma coisa”, sendo certo que não se pretende “mudar tudo de uma vez”.

Dados da Direção-Geral de Saúde (DGS) apontam que sete em cada 10 fumadores querem deixar de fumar. Contudo, apenas 5% têm êxito sem ajuda médica. De acordo com a presidente da Associação de Internos de Medicina Geral e Familiar da Zona Norte, Ana Patrícia Dias, todos os anos 35% dos fumadores tentam deixar o vício, mas a taxa de sucesso é reduzida.

Em Portugal, há quase dois milhões de fumadores. Com ou sem médico, a motivação pessoal para deixar de fumar é fundamental para o início de um processo de desabituação tabágica e abandono permanente do hábito com sucesso.

A DGS sugere 15 passos para deixar de fumar. Aqui ficam alguns:

  • Faça uma lista dos motivos que justificam a decisão de deixar de fumar
    • Por exemplo: poupar dinheiro, mais saúde e ar mais saudável, melhorar o aspeto da pele, evitar doenças graves
  • Identifique as situações em que costuma e mais gosta de fumar (deste modo, poderá preparar-se com antecedência para as enfrentar no futuro)
  • Prepare-se para a mudança: leia os motivos que o levam a deixar de fumar, procure atrasar o primeiro cigarro da manhã, espace o intervalo entre cada cigarro, por exemplo.
  • Não pense que nunca mais vai voltar a fumar; pense no dia de hoje e nas vantagens de não fumar
  • Aumente o nível de atividade física – por exemplo, começando a andar mais a pé
  • Melhore a alimentação e coma várias vezes ao dia, mas pouco
  • Guarde num local visível o dinheiro que teria gasto para comprar tabaco

Consulte aqui o guia completo da DGS.

Comentários
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  • João Oliveira
    18 nov, 2018 Lisboa 08:26
    É verdade que a nicotina mata de overdose e o álcool também... E também é verdade que a planta mais versátil do mundo foi proibida a nível mundial com um grande empurrão dos Americanos, graças a Deus os Uruguaios, os Canadianos e os Norte-Coreanos não vão em conversas Americanas neste momento. Com este tema, tive de voltar novamente ao tema da Cannabis pois se ela nunca tivesse sido proibida e estigmatizada como foi, a saúde Humana estaria bem melhor. Este fim de semana de 17 e 18 de Novembro de 2018 está a realizar-se uma segunda edição da CannaDouro. A Feira Internacional do Cânhamo no Porto. Na Alfândega do Porto. Onde se tenta pôr a planta no lugar certo... que é na terra!
  • Policarpo Guedes
    17 nov, 2018 Porto 14:51
    Deixar de fumar é facílimo. Já o fiz por 14 vezes.

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