13 nov, 2018 - 08:00
Esta terça-feira, 129 anos depois de o rei Luís XVI de França ter incumbido um grupo de cientistas de desenvolver um sistema universal de medidas, o Comité Internacional de Pesos e Medidas vai estar reunido em Versalhes, França, para redefinir o quilo.
Para perceber o que está em causa, e que impacto a decisão terá (ou não) nas nossas vidas, é preciso remontar às origens desta unidade de massa universal.
Quando é que o quilo “nasceu”?
A história remonta ao final da Revolução Francesa, no século XVIII, quando ficou convencionado que um quilograma representa a massa de um decímetro cúbico de água destilada a 3,98 graus – a temperatura em que a água tem maior densidade numa atmosfera de pressão normal.
Em 1875, foi criado o Comité Internacional de Pesos e Medidas (CIPM), composto por 18 membros, para se passar a garantir a uniformidade das unidades de medida. Levou 14 anos até surgir a necessidade de se concretizar fisicamente a medida quilo, de uma forma que fosse mais simples de reproduzir – e mais fácil de explicar aos leigos.
Assim nasceu o Grande Quilo, um cilindro composto de platina (90%) e irídio (10%), com uma altura e um diâmetro de 39 milímetros. A par dele, foram feitas 40 réplicas, cujo peso, com a passagem do tempo, se foi desviando do protótipo original – um que continua, até hoje, guardado numa redoma de vidro em Paris e que é apenas retirado de 40 em 40 anos para servir de instrumento de calibração para outros pesos.
Porque é que o quilo vai mudar agora?
Hoje, os especialistas do Comité Internacional de Pesos e Medidas, onde estão atualmente representados 60 países, vão votar uma alteração à forma como o quilograma é definido indiretamente, com recurso à chamada constante de Planck, uma das constantes fundamentais da física.
Contactado pela Renascença, o físico João Fortunato, do Instituto Superior Técnico, explica que a decisão trata-se, na prática, de uma mera “atualização” da medida como a conhecemos. “A tendência é fazer depender as grandezas umas das outras e vamos tendo de adequar as medidas..”
Citado pelo jornal espanhol ABC, Peter Cumpson, especialista em sistemas microeletromecânicos, confirma que, “na realidade, não importa quanto pesa um quilo se todos trabalharmos com a mesma norma”.
O problema, aponta o especialista, “é existirem pequenas diferenças em todo o mundo", sobretudo tendo em conta que "o protótipo internacional do quilograma e as suas 40 réplicas estão a crescer a um ritmo diferente, afastando-se do original”.
Que impacto terá esta mudança nas nossas vidas?
Na prática zero. Se pesa 60 quilos, vai continuar a pesar o mesmo. O que vai acontecer é que o quilograma vai passar a ser calculado de outra forma, a partir da tal constante de Planck. Ou seja, a mudança, que entrará em vigor em abril do próximo ano, não terá efeitos no uso quotidiano da medida; só a abordagem científica é que vai mudar.
É só o quilo que vai mudar?
Não. Na reunião desta terça-feira, o comité vai igualmente rever outras três unidades: o ampere (medida da corrente elétrica), o kelvin (medida da temperatura) e o mol (medida da quantidade de substância).