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Convenção Nacional BE

Crescer ou não crescer, eis a questão

10 nov, 2018 - 00:22 • Susana Madureira Martins

O Bloco de Esquerda realiza este fim de semana a Convenção Nacional onde vai definir a estratégia do partido para o ciclo eleitoral de 2019 e o pós-acordo parlamentar com o PS.

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O que vai fazer o Bloco de Esquerda no ciclo eleitoral de 2019? Refazer o acordo parlamentar com o PS? E qual poderá ser a tendência nas legislativas? Crescer e aumentar o eleitorado?

Algumas respostas poderão ser dadas já este fim de semana na Convenção Nacional do partido, que vai realizar-se, como já é habitual, no pavilhão municipal do Casal Vistoso, em Lisboa.

Para o dirigente bloquista e ex-deputado Luís Fazenda as contas são simples. “O Bloco de Esquerda está numa dinâmica de afirmação e isso prenuncia um crescimento eleitoral”, afirma, acrescentando: “aqui e ali há pessoas que se inclinam para votar no Bloco de Esquerda e que não o fizeram antes e isso é uma adesão à prática política que temos seguido no Parlamento”.

E que eleitorado é esse que o partido vai ter nas legislativas de 2019? Para o dirigente bloquista “há um pouco de tudo”. Luís Fazenda conta com “novos eleitores que, entretanto, chegaram à idade de votar e haverá eleitores que provêm de outros sectores políticos, dos abstencionistas, eventualmente de outros ângulos da vida política portuguesa”.

Mas poderá não ser assim tão simples. O politólogo António Costa Pinto considera que o Bloco de Esquerda “é um partido cuja contaminação eleitoral com o eleitorado do PS é muito significativa”, e que “evidentemente” o partido “terá que desenhar uma estratégia política para este ano no sentido de manter ou até aumentar o seu eleitorado”. O que “não vai ser fácil”, avisa.

E porquê? Em conversa com a Renascença, António Costa Pinto explica que os acordos parlamentares à esquerda “introduziram uma incerteza à esquerda do espectro político” e os dados indicam que “o PS tem aumentado as suas intenções de voto” e que o Bloco “só tem a ganhar se se demarcar da prática ou de alguma prática do PS, convencendo o eleitorado de que muitas das medidas dos últimos quatro anos só foram possíveis graças ao Bloco de Esquerda”.

Para Costa Pinto “a grande incerteza de 2019 é se algum eleitorado que já votou PS e que já votou Bloco de Esquerda, perante o sucesso destes acordos parlamentares, não tenderá a fazer um discreto regresso ao PS e aí sim, isso será prejudicial ao Bloco”.

O investigador acrescenta que o grande desafio deste partido está em optar entre “reforçar a condição de partido de protesto ou participar numa coligação com o PS e transformar-se naquilo que poderia ser um Partido Socialista de esquerda”.

Para Luís Fazenda essa nem sequer é uma escolha, mas uma questão de equilíbrio. A política do Bloco tem sido “maximizar o acordo político feito com o PS, apoiando o seu governo minoritário e ao mesmo tempo não perder o pé da rua”, ou seja, “não perder os sentimentos das emoções dos vários grupos sociais”, com Luís Fazenda a acrescentar que é “esse todo” que “vai fazendo um portal de avanço político do Bloco de Esquerda”.

É o balanço de tudo isto que vai estar em causa na Convenção Nacional. E o dirigente bloquista faz um balanço positivo da liderança de Catarina Martins, garantindo que “a direção do Bloco de Esquerda tem estado coesa e unida” e que é assim “que se vai manter”, sendo que “a convenção certamente é uma montra para se apreciar esse fator que tem sido essencial na dinâmica política” do partido”.

Será então uma convenção calma e sem as convulsões do passado? Luís Fazenda explica que “não há convenções calmas, nem outras irrequietas” e que “as convenções vão refletindo as novas tomadas de decisão, os debates internos e externos, sobretudo os debates externos, cada vez mais porque a sociedade é cada vez mais exigente, os apelos dos trabalhadores e trabalhadoras exigem cada vez mais respostas elaboradas sobre múltiplos problemas”.

Assim, as “convenções são ocasiões de reflexão sobre isso onde democraticamente se confrontam opções diferentes”, diz o bloquista, acrescentando que sejam “elas mais confrontacionais ou menos, isso é pouco importante, o que importa é que funcione a democracia de um partido”.

O caso Robles

E que efeitos eleitorais terá o caso que envolveu o ex-vereador do Bloco de Esquerda na câmara de Lisboa e que renunciou ao mandato depois da polémica comum imóvel em Alfama?

Para Luís Fazenda este “caso foi resolvido e outros que, eventualmente, possam aparecer vão beneficiar da jurisprudência que o Bloco de Esquerda fez acerca dele”, com o dirigente bloquista a acrescentar que “não é por haver um ou dois percalços que se interrompe uma caminhada, e ela tem vindo a ser respeitada pelas eleitoras e pelos eleitores” e que “não vale a pena fazer paralelos com outros partidos, que nem faz muito sentido”.

Colocámos a mesma questão ao politólogo António Costa Pinto? Que efeitos nas legislativas poderá ter este caso? Estará já dissipado e ninguém se lembrará? O académico considera que “evidentemente, poderá existir alguma contaminação em relação ao caso Robles nas eleições legislativas, mas não é de crer que seja muito significativo”.

Porquê? Costa Pinto considera que o caso será ativado, mas não será pela mão do PS que “tem todo o interesse em afirmar-se em 2019, não propriamente com base na crítica aos seus parceiros de acordo parlamentar - quer o Bloco, quer o PCP” e que a ativação do caso pela direita “não vai fazer o Bloco perder votos”.

Trata-se mais uma vez, diz, “do desafio da partilha da governação, porque o caso Robles foi um caso que teve a influência que teve porque ao nível municipal, neste caso em Lisboa, o Bloco de Esquerda se transformou num partido de governação, a nível municipal, reproduzindo justamente uma mini-coligação tendo em vista os resultados eleitorais em Lisboa”, tendo, por isso, “uma enorme penalização simbólica”.

Temas “fraturantes” de volta

Com as eleições legislativas à porta alguns temas que têm marcado esta última fase da legislatura e que, entretanto, foram sendo chumbados pelo Parlamento, casos da legalização da morte assistida, ou mais recentemente o fim das touradas, poderão estar de volta durante a campanha.

Luís Fazenda não o esconde: “O Bloco de Esquerda é igual a si próprio.” O partido, diz, coloca “uma ênfase grande naquilo que é uma evolução numa agenda de direitos humanos, numa agenda de direitos civis” e essa “é a sua agenda de sempre e ela vai manter-se”, e reforça: “o Bloco não abdica de nada da sua agenda, muito pelo contrário, vai preenchendo cada vez mais a sua agenda.”

O dirigente bloquista explica ainda que “já lá vai o tempo em que diziam que as causas fraturantes tinham acabado” e que para o partido “elas nunca foram fraturantes, foram sempre uma agenda civil, e as agendas de direitos civis são sempre infinitas”.

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  • Cidadao
    10 nov, 2018 Lisboa 11:16
    Tenho aqui umas "causas fracturantes" para vocês, BE: rever a Legislação Laboral que a Troika cá deixou com o apoio do governo da Ditadura PSD-CDS-Cavaco Silva, nacionalização das empresas nacionais estratégicas criminosamente alienadas ao desbarato a estrangeiros que agora controlam sectores fundamentais, elaboração de Legislação que permita demitir de imediato e responsabilizar não "politicamente" mas judicialmente, governos e respectivos ministros que se venha a apurar mintam na campanha eleitoral para ganharem eleições e depois apareçam com um programa de governo que é tudo menos o que apresentaram em campanha Eleitoral, e já agora impeachment do Presidente da República se este, tal como Cavaco Silva, deixar de ser o garante da Constituição, para ser uma espécie de ministro-sem-pasta do governo em funções, normalmente da cor política dele. Só nestes exemplos, já têm muitos temas fracturantes, e que dizem bem mais aos portugueses, que os "vossos" habituais temas fracturantes ...

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