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​Netflix desvaloriza concorrência da Apple e da Disney. “Estamos focados em criar um grande valor”

07 nov, 2018 - 16:12 • Inês Rocha

O administrador da Netflix responsável pela área da produção, Greg Peters, em Lisboa para a Web Summit, desvaloriza, em entrevista à Renascença, a concorrência emergente no mercado das plataformas de “streaming”.

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O administrador da Netflix responsável pela área da produção, Greg Peters, garante, em entrevista à Renascença, que a sua empresa não está preocupada com a concorrência emergente.

Numa altura em que o mercado do entretenimento e do cinema vive uma mudança de paradigma, com “players” de peso na indústria cinematográfica a entrar no mercado das plataformas de “streaming” de vídeo, Greg Peters, em Lisboa para a Web Summit, diz que a entrada da Apple e da Disney no mercado é sinónimo de “mais opções para o consumidor e para os criadores”, o que é “ótimo”.

O foco, para a maior plataforma mundial de “streaming”, está na qualidade e na produção de conteúdo original mais diversificado, em várias línguas, para tornar a plataforma mais global.

Greg Peters foi um dos oradores convidados da Web Summit, onde anunciou o lançamento de dois novos filmes: um espanhol e outro norueguês. O responsável da Netflix lembrou ainda que, nas próximas semanas, irão estrear novas séries produzidas na Polónia, Itália, Alemanha, França e Turquia.

Primeiro foi a Amazon a lançar uma plataforma de “streaming” que já concorre com a Netflix, agora a Apple e a Disney preparam o lançamento de plataformas com conteúdos próprios também. Como é que a Netflix olha para estes novos "players" de peso no mercado?

Sejam grandes competidores internacionais, como os que mencionou, ou competidores locais, não achamos que as pessoas vão consumir o seu entretenimento apenas de um serviço. Achamos que isso é irrealista.

Portanto, achamos que mais concorrência significa mais opções para o consumidor, o que é ótimo. Provavelmente mais opções para os criadores também, o que é ótimo para eles.

Nós focamo-nos em como criamos um grande valor, todos os meses, para que deixemos os nossos clientes satisfeitos e eles decidam continuar a ser clientes.

Mas o aparecimento da Disney neste mercado irá fazer com que a Netflix perca alguns títulos de peso, como “Star Wars” ou filmes da Marvel e da Pixar. Como vão enfrentar essas perdas? Sei que estão a fazer um grande investimento nos conteúdos para crianças.

Geralmente estamos a aumentar a nossa produção em todos os géneros, mas definitivamente para as crianças também. Mas acho que é relevante perceber que não tínhamos conteúdo da Disney na maioria dos mercados que servimos. Portanto neste momento já não temos esse conteúdo que estamos a perder.

Mas queremos aumentar a oferta em geral, para termos bom conteúdo familiar, para as crianças, para os adultos. Em todos os géneros.

Em agosto, surgiu a notícia de que a Amazon estará a preparar um serviço de “streaming” grátis, baseado em anúncios. A Netflix planeia seguir o mesmo caminho ou irá manter-se no modelo pago pelos clientes?

Não sei se a Amazon vai fazer isso, vamos ver. Acho que eles negaram esse rumor, foi o que ouvi. Nós não temos planos de lançar um plano baseado em anúncios. Achamos que o modelo que temos, em que temos uma relação direta com os nossos membros, é o modelo que funciona para nós e para eles. Portanto vamos continuar focados nesse modelo, simplesmente em satisfazê-los todos os meses.

Há dias, anunciaram que estão a analisar uma mudança de preços em alguns países, como a Índia, para conseguirem chegar a mais pessoas. Portugal será um desses países?

Não anunciamos uma mudança de preços. Estamos a experimentar diferentes modelos que tenham um preço mais baixo, que nos permitam aumentar o acesso à Netflix. Definitivamente estamos a experimentar isso. Não sabemos ainda exatamente como o faremos, o que estará incluído nesses planos, qual preço terão e em que países estarão disponíveis. É ainda um trabalho em desenvolvimento.

Disse na sua intervenção aqui na Web Summit que querem diversificar os vossos conteúdos, já que apenas 5% do mundo fala inglês como língua nativa. É essa a grande aposta da Netflix, chegar a públicos diferentes?

Absolutamente. Achamos que há uma oportunidade tremenda para aceder a histórias que são contadas por pessoas fora dos Estados Unidos ou do Reino Unido, pessoas que não falam inglês como língua nativa. Queremos contar essas histórias de uma forma interessante, dar-lhes todas as ferramentas técnicas e a plataforma de que precisam para contar essas histórias. E depois ligar essas histórias a pessoas em todo o mundo, seja em que língua for.

Queremos fazer isso com boa legendagem, boa dobragem para que o público perceba a história. Por exemplo, se for uma história de Espanha. Provavelmente muitas das pessoas que estão a ver conteúdos espanhóis na Netflix nunca tinham visto um programa espanhol antes nas suas vidas. Eles não pensariam "bem, agora vou ver um programa espanhol". Não é assim que as pessoas pensam no entretenimento.

Mas se conseguirmos perceber o que é incrível num conteúdo... por exemplo, "La Casa de Papel". É um thriller criminal um pouco subversivo - nós ligamos o que é espetacular nessa história com alguém que sabemos que vai gostar dessa história. E de repente, as pessoas estão a assistir a uma série espanhola maravilhosa e nunca iriam vê-la de outra forma. Essa é a oportunidade que queremos dar às pessoas.

Acha que um norte-americano, por exemplo, irá ver uma série portuguesa?

Tenho a certeza. Não estamos a tentar mudar o entretenimento que as pessoas querem, mas alargar o espectro de conteúdos que as pessoas podem ver. Eu acho que aquilo a que estamos a assistir é que, através de boa dobragem em inglês, conseguimos levar séries que não são em língua inglesa para uma audiência que fale inglês e que antes diria "não, não vejo programas que não sejam em inglês". E agora estão a ver. Acho que isso é ótimo.

A União Europeia quer que a Netflix e outras plataformas de “streaming” tenham, no mínimo, 30% de produção de conteúdos europeus. Se a lei que está a ser discutida passar, como se vão adaptar?

Nós já estamos a investir muito em produção de conteúdo europeu, queremos aumentar esse investimento, estamos a ir nessa direção. A quota de 30% de títulos - achamos que essa não é a melhor maneira de lidar com esta questão, mas claramente se a regulação passar, vamos apoiá-la e trabalhar arduamente para estar de acordo com ela.

Num futuro próximo, podemos esperar conteúdo português na Netflix?

Achamos que uma grande história pode acontecer em qualquer lado, incluindo em Portugal, obviamente. Estamos sempre à procura de boas histórias. Não há nada que possamos anunciar neste momento, mas tenho a certeza que vai haver alguma coisa eventualmente.

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