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Pediatria oncológica do S. João. Pais dizem que novo anúncio da obra é "uma mão cheia de mentiras"

24 out, 2018 - 17:00 • Henrique Cunha

O porta-voz dos pais de crianças internadas na Oncologia do São João, no Porto, acusa o Governo de "manipulação" e não poupa também às críticas o presidente da Câmara do Porto.

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"Mais do mesmo. Uma mão cheia de mentiras, uma mão cheia de nada". Os pais de crianças internadas com doença oncológica no Hospital de S. João, do Porto, reagem com indignação ao anúncio, sem data, do lançamento do concurso para a nova ala pediátrica.

O primeiro-ministro disse, esta quarta-feira, que o reforço do orçamento da Saúde vai permitir o lançamento do concurso, nas sem, contudo, se comprometer com datas.

Na reação, o porta-voz dos pais de crianças internadas na Oncologia do São João, Jorge Pires, acusa o Governo de "manipulação" e não poupa também às críticas o presidente da Câmara do Porto. "Não vemos o presidente da Câmara a ter uma atitude digna. Não veio fazer uma declaração", lamenta.

Para os pais, só há uma solução para que a obra avance rapidamente: um ajuste direto.

Como encara este anúncio feito pelo primeiro-ministro, esta quarta-feira?

É mais do mesmo. Uma mão cheia de mentiras, uma mão cheia de nada. Já estamos habituados a que o Governo diga uma coisa hoje e amanhã outra. Repare: o primeiro-ministro desafiou a oposição para abrir um regime de exceção. Houve uma proposta nesse sentido e foi chumbada pelo PS, BE e Partido Comunista.

A nova ministra assinou um memorando em 1 de junho de 2017 com a administração do hospital e a Administração Regional de Saúde do Norte, sendo ela presidente da Administração Central do Sistema de Saúde, a dizer que a obra do São João era urgente e tinha de andar para a frente, tinha de se começar a obra. Nada foi feito. Nada foi feito e nada se falava se não viessem os pais, em abril, falar sobre este assunto.

Não acredita que a obra avance em janeiro, como disse o deputado Fernando Jesus disse, na passada semana, no parlamento?

O dr. Fernando Jesus está na linha do Governo: é mais uma mentira. O que ele disse no cordão humano? "Vão começar a obra em janeiro”. Como, se o projeto não está ajustado em janeiro? Como é que é preciso ter lata de vir dizer que vão começar uma obra em janeiro sem nenhum projeto?

Mas acredita que a obra possa começar no próximo ano?

Eu acho que a opinião pública tem de fazer pressão para que ela comece mesmo. Porque isto é uma causa, uma questão de saúde pública do Porto e do Norte, em geral. Este hospital recebe crianças do Norte. Temos um depoimento do Dr. Josué, que é neurocirurgião pediatra do Hospital S. João e convive com a realidade. Ele diz que se coloca em risco a saúde das crianças ao andarem de um lado para o outro, nos contentores para o hospital.

Temos de fazer com que o Governo faça aquilo que o primeiro-ministro desafiou: o regime exceção. Ajustar o projeto, sim, e, a seguir, fazer um regime de exceção para um ajuste direto, porque, caso contrário, vão morrer crianças que não têm culpa nenhuma. Nós não podemos deixar que a opinião pública seja manipulada pelo Governo a dizer que vão começar a obra só para calar o assunto durante uns meses.

Acha que estas declarações de hoje são manipulação por parte do Governo?

São. É um empurrar para a frente, tipo "vamos fazer, só não sabemos é quando". Há uma semana, nem tanto, um representante do mesmo partido da governação, o PS, veio dizer que a obra ia começar seguramente em janeiro.

Como é que avalia o comportamento das autoridades do Porto?

É uma tristeza completa. Isto é um assusto da cidade do Porto e da região Norte, mas da cidade do Porto, principalmente. É o maior hospital do Porto. E não vemos o presidente da Câmara a ter uma atitude digna, de reclamar ao poder central que isto é para andar para a frente. Não veio fazer uma declaração. Zero. Só, outro dia, veio dizer que ficou contente aquando o despacho da resolução do procedimento do concurso do Governo. isso não é declaração para um presidente da Câmara que tem um assusto destes em mãos e não ajuda a pressionar o Governo para que isto se resolva de uma vez por todas.

Tem sido muito infeliz o presidente da Câmara tal como as figuras públicas que têm tempo de antena na comunicação social, que podiam falar sobre este assunto e não falam. É um assusto conflituoso com o Governo, é um assunto frustrante, é sensível. Nós temos que pressionar o Governo e a ministra da Saúde, que conhece bem o assunto, a mandar executar a obra o mais rapidamente possível.

Iniciativas como a do último sábado, com o cordão humano, podem voltar por parte da associação?

Com certeza, já temos em mente várias ideias. Vamos ver é no que isto vai dar porque queria uma resposta mais satisfatória. Foi a primeira vez que eles se manifestaram, depois de a nova ministra ter tomado posse. Foi uma resposta que não cabe na cabeça de ninguém. É mais do mesmo: mais mentiras. Se o projeto tiver ajustado em abril, se lançarem concurso público, pode demorar uns meses, um ano ou um ano e tal, se ninguém contestar.

Se não se tivesse mexido naquilo que era o projeto anterior, que o atual Governo optou por não seguir, acha que a ala pediátrica já estaria concluída?

Estaria a ficar pronta agora. A obra começou por uma identidade privada que foi constituída: uma associação que integrava a administração do hospital. Depois, a administração saiu. Foram pedir a uma pessoa para fazer a obra com dinheiros privados e pararam a obra porque queriam fazer com dinheiros públicos. Tudo bem, mas a obra parou vários anos e nada, nada foi feito. Nem um ajuste foi feito do projeto, nada. Fala-se, agora, em começar a fazer porque os pais vieram para a comunicação social falar disto e reclamar uma coisa que é um direito básico das crianças do porto e do Norte.

Só a adjudicação direta é que permitirá que a obra avance rapidamente?

Sim, só a adjudicação direta. Se se repete o temporal que tivemos no outro dia, se o temporal com aqueles ventos que passaram em Coimbra ou na Figueira da Foz tivesse vindo para o Porto, os contentores tinham voado. O que acontecia as crianças? Morriam? Depois, era "podíamos ter feitos alguma coisa"... Uma árvore que ali está ao lado dos contentores pode cair a qualquer momento. E depois? Não há vontade política de continuar com a obra ou mandá-la avançar rapidamente.

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