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Universidade Católica contribuiu com 18 mil milhões de euros para a economia

11 out, 2018 - 11:08

É o que revela um estudo sobre o impacto da instituição em cinco décadas de existência. A reitora, Isabel Capeloa Gil, esteve na Manhã da Renascença para falar dos próximos projetos, que incluem uma faculdade de Medicina.

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Isabel Capeloa Gil, reitora da Universidade Católica, na Manhã RR (11/10/2018)

A Universidade Católica Portuguesa teve um impacto direto na economia portuguesa de cerca de 18 mil milhões de euros. As contas constam do estudo “Católica Impacto”, que é apresentado esta quinta-feira no âmbito do encerramento das comemorações dos 50 anos daquela instituição de ensino.

O estudo analisou os aspetos económico-financeiro, social, cultural e pastoral e revela ainda que, em 50 anos, saíram da Universidade Católica 48 mil diplomados, que criaram 6.500 empresas e 1.700 organizações não-governamentais.

Isabel Capeloa Gil, reitora da universidade, veio à Manhã da Renascença falar de todo o percurso da instituição e do próximo passo: a criação da faculdade de Medicina e mais alojamento para os estudantes.


Como chegaram a este número de impacto direto da católica na economia nacional?

Este estudo de impacto é o primeiro que se faz sobre uma instituição de ensino superior em Portugal e segue uma metodologia que foi desenvolvida pelo MIT, por Harvard, para avaliar e poder extrapolar a correlação entre a formação e o impacto real na economia.

A metodologia está explicada no estudo. Foi feita pelo centro de sondagens e opinião da Universidade Católica e é verdadeiramente avassalador – estamos a falar em 50 anos, claro, mas são valores muito representativos daquilo que foi e tem sido o impacto dos nossos licenciados, mestres, doutores na criação de emprego, na criação de empresas; portanto, um valor real do contributo para a economia portuguesa.

Foi avaliado em quatro dimensões: uma dimensão económica e financeira, mas não é só isso que uma universidade faz. Portanto, quisemos também avaliar o impacto social, o impacto cultural e o impacto pastoral, como universidade católica.

Considera que há o devido reconhecimento por parte do Estado e da sociedade portuguesa em geral sobre essa importância e impacto da Católica?

Acho que a sociedade portuguesa reconhece o impacto da Universidade Católica, que é uma verdadeira singularidade no sistema de ensino superior português.

Inclui o Estado?

Incluo o Estado, embora a Universidade Católica tenha um papel singular e muitas vezes essa singularidade não seja reconhecida pelo Estado. Porque somos uma instituição que foi criada de uma forma diferente das outras. Fomos a quarta universidade criada em Portugal, instituída através de um tratado de direito público entre a Santa Sé e o Estado português – a Concordata. E, portanto, somos uma instituição pública não estatal. Não somos uma instituição privada, no sentido estrito do termo.

Quando manifesta algumas reservas em relação ao reconhecimento por parte do Estado, ao que se refere?

Por exemplo, nós somos a única universidade católica europeia que não tem nenhum apoio do Estado. É uma singularidade também nisso. No fundo, os recursos com que a universidade se gere são, desde 2000, recursos da instituição.

Quando a universidade foi fundada e, sobretudo mais tarde, durante o governo de Mário Soares, foi entendido que o serviço público da instituição ao país fazia com que o Estado devesse reconhecer esse serviço, apoiando sobretudo na área social, dando apoio à operação da instituição – que não era muito relevante, era cerca de 10%,15%, mas era algum reconhecimento – e esse apoio foi retirado na altura da reitoria do professor Manuel Braga da Cruz, em 2001. Portanto, desde 2001, não há nenhum apoio.

E há contactos com o atual governo no sentido de reverter essa situação?

Sou muito pragmática e, perante a situação atual de falta de financiamento para o ensino superior, creio que é uma batalha perdida à partida e, portanto, temos outras coisas mais interessantes a desenvolver e a fazer.

Em 50 anos, o que mudou, o que destaca das transformações na Católica?

Em 50 anos, posso dizer que tivemos três fases e agora estamos numa quarta. Primeiro, uma fase de fundação: foi necessário instituir, estruturar, dar estatuto jurídico, alicerçar a universidade aí até final dos anos 80.

Depois, foi a fase do alargamento, o momento em que uma instituição que começou basicamente como uma universidade na área das ciências sociais e das humanidades – desde logo a filosofia, a teologia – se alargou para a economia e gestão. Fomos o primeiro curso em Portugal de gestão de empresas; economia já existia, mas gestão de empresas não. E depois direito.

A partir do final dos anos 80, alargámo-nos às ciências naturais, à biotecnologia, depois engenharia, portanto, temos uma fase de construção e alargamento.

Depois, como todas as fases de expansão, foi necessário focar e foi essa a terceira fase. Agora, estamos numa fase de transformação.

Os projetos que tem é a abertura de uma faculdade de Medicina. Em que ponto é que se encontra esse projeto?

Encontra-se em fase muito adiantada, vai passar a processo de acreditação e, portanto, vamos agora iniciar esse processo.

Quando é que estima que possa estar a funcionar?

Nunca dei prazos para o funcionamento da faculdade de Medicina, porque sabemos que é um dossier bastante complexo. Sabemos que será uma novidade em Portugal, porque é a única área do ensino superior que não funciona em universidades não estatais.

Mas é um projeto de curto prazo?

É. Digamos que o planeamento tem, na universidade, cerca de 30 anos. Tivemos três fases, chegámos agora a uma fase em que estamos, de facto, certos e temos as condições necessárias para avançar com um projeto robusto, alternativo àquilo que é o modelo que está a ser desenvolvido em Portugal, em parceria com uma instituição internacional – com a Universidade de Maastricht.

Portanto, é um curso que vai ser todo lecionado em inglês, segundo a metodologia de PBL [aprendizagem baseada em problemas] e devo dizer que a Católica não será a única a ter PBL – a Universidade do Minho, por exemplo, utiliza. Agora, há várias formas de aplicar PBL e esta parceria com Maasstricht é que será singular.

Podemos imaginar que daqui a dois, três anos estará a funcionar?

Eu gostaria. Não me vou comprometer com prazos, porque estes processos são complexos, mas gostaria que sim.

Sendo que em Portugal já não há capacidade formativa nos hospitais, considera que o país precisa de mais uma faculdade de Medicina?

Evidentemente que sim. Num momento em que sabemos, por dados oficiais, que há um conjunto muito alargado de estudantes portugueses que vão estudar medicina para República Checa, Espanha, Inglaterra e são às centenas; quando sabemos que no interior temos médicos cubanos, espanhóis, de variadíssimas nacionalidades, temos uma hiperconcentração dos médicos na faixa litoral – isso está estudado abundantemente – que temos uma falta de médicos no interior e ainda que uma das questões que tem sido muito discutida recentemente, que é sobretudo a falta de vagas para a especialidade, não é com a não criação de uma faculdade de Medicina que se impede esses problemas.

Mas a falta de capacidade dos hospitais para formá-los, como vai resolver essa parte?

Não falta propriamente capacidade nos hospitais para os formar. Tem que haver é uma reconfiguração da rede e da estrutura que permita essa formação. O nosso parceiro hospitalar, que é a Luz Saúde, tem feito essa formação e tem capacidade para alargar a formação de especialistas, portanto, digamos que as possibilidade de alargar o modelo de formação – e quem diz a Luz Saúde diz outros privados – existe. Tem que haver é vontade política de reestruturar a rede.

Queria só terminar o que dizia há pouco relativamente aos estudantes portugueses que vão para fora. Não criar capacidade em Portugal é estar a reforçar aquilo que é a capacidade de outros países, porque os estudantes que vão para fora voltam para fazer a especialidade. Portanto, nós estamos a falar de uma falsa equação.

Vamos criar novas vagas de medicina em Portugal, num modelo alternativo que é um modelo não comparticipado pelo Estado – vamos pedir zero euros ao Estado para criar a faculdade de Medicina. É um projeto meramente feito com os recursos da Universidade Católica, portanto, é de novo um contributo para o país em serviço público e, não só para o país em termos de formação, mas também para o Serviço Nacional de Saúde.

Gostava ainda de ouvi-la sobre um dos problemas com que se debate atualmente o ensino superior, que é a questão da falta de alojamento. Como é que a Católica contorna esta questão?

Temos uma residência que é manifestamente insuficiente. E, portanto, um dos projetos que está em curso neste momento é o desenvolvimento do campus inovação, na zona norte da universidade. Vamos criar uma nova ecologia de edifícios, porque não temos espaço, temos crescido bastante nos últimos anos e não temos espaço para acolher os alunos.

Por isso, uma das coisas que vamos fazer é construir uma residência universitária com cerca de 250 camas. Há, de facto, uma necessidade enorme de criar alojamento para estudantes universitários e sentimos isso de uma forma muito premente. Sobretudo, para os alunos internacionais, porque Portugal tem uma situação cultural muito interessante, em que os estudantes têm muito pouca mobilidade geográfica. os estudantes de Lisboa prioritariamente querem ficar em Lisboa, apesar de o país ser mínimo. Há estudos que demonstram que cerca de 90% dos estudantes de Lisboa querem ficar a estudar no ensino superior em Lisboa, 84% dos do Porto querem ficar no Porto e, em Coimbra, o mesmo valor.

Nós precisamos de incentivar a mobilidade. Aliás, uma das questões relativas à fixação de conhecimento no interior tem a ver com isso, com a necessidade de incentivarmos a mobilidade.

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