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​Confiança dos portugueses nas notícias está a diminuir (mas ainda é alta)

26 set, 2018 - 06:40 • Inês Rocha

Portugal continua a liderar os índices de confiança da população nas notícias, quando comparado com outros 36 países mundiais. Mas isso está a mudar. Portugueses preocupam-se com as “fake news”, mas as marcas em que mais confiam não são as mais consumidas.

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Portugal é, de acordo com os dados do Reuters Digital News Report 2018, a par da Finlândia, o país onde mais se confia em notícias, entre os 37 países em análise. No ano passado, Portugal surgia em terceiro lugar, atrás de Finlândia e Brasil.

A versão portuguesa do relatório anual do Reuters Institute for the Study of Journalism, elaborada pela OberCom - Observatório da Comunicação, é divulgada esta quarta-feira. O estudo teve por base um inquérito “online” aplicado a mais de 74 mil indivíduos, em 37 países. Em cada país, a amostra é constituída por cerca de 2.000 indivíduos com acesso à internet. A amostra portuguesa é constituída por 2.008 indivíduos.

Em Portugal, 62% dos respondentes diz confiar nas notícias. No entanto, apesar dos elevados níveis de confiança, observa-se, entre 2015 e 2018, uma quebra significativa da confiança: a confiança nas notícias em geral cai 3,5 pontos percentuais (dos 65,6% para os 62,1%) e a confiança nos conteúdos consumidos cai 9 pontos percentuais, dos 71,3% em 2015 para os 62,3% em 2018.

As tendências observadas sublinham a complexidade da relação dos portugueses com os conteúdos noticiosos em termos de confiança, num contexto que apresenta índices estruturalmente altos, mas em tendência decrescente.

No entanto, entre a confiança em notícias em geral e a confiança em marcas específicas de comunicação social, existem diferenças significativas.

Observando o grau de confiança atribuído a dez marcas de imprensa, por exemplo, o título de imprensa escrita mais consumido, o Correio da Manhã, é, simultaneamente, aquele em que os inquiridos menos confiam (aqueles que conhecem a marca dão-lhe 4.96 pontos de confiança e os utilizadores atribuem-lhe 6.01, numa escala de 0 a 10, em que 0 marca um nível de confiança mínimo e 10 o máximo).

Já a Renascença é a marca mais merecedora da confiança dos seus utilizadores (7.95 pontos), ficando em primeiro lugar entre as 12 englobadas no inquérito. Aqueles que conhecem a marca mas não a utilizam habitualmente atribuem-lhe, ainda assim, uma pontuação alta (7.11). No entanto, não figura entre as marcas mais consumidas pelos portugueses.

Nível de confiança, de 0 a 10, em 12 dos órgãos de informação nacionais. Do lado esquerdo, o nível de confiança daqueles que apenas conhecem a marca; do lado direito, o nível de confiança dos utilizadores da mesma. Gráfico: Reuters Digital News Report 2018

Ainda no que respeita à confiança, quase três quartos dos portugueses dizem preocupar-se com o que é real e falso na Internet. Em comparação com os restantes países em análise, Portugal surge em segundo lugar em termos de preocupação com a legitimidade de conteúdos na Internet, sendo ultrapassado apenas pelo Brasil.

48,2% dos portugueses diz confiar em notícias consultadas como resultado de pesquisas através de motores de busca, enquanto que apenas 28,9% diz confiar em notícias com as quais têm contacto através das redes sociais. O que é um paradoxo interessante, na medida em que as redes sociais são uma fonte fundamental de notícias para os portugueses.

Relativamente a conteúdos duvidosos e “fake news”, 48,7% dos inquiridos diz ter-se deparado, na semana anterior à da resposta ao inquérito, com peças jornalísticas de má qualidade (erros factuais, histórias cobertas de forma simplista, títulos enganadores); 41,6% diz ter encontrado títulos que parecem de notícias, mas que na realidade são anúncios e 37,7% diz ter visto notícias em que os factos foram manipulados para servir uma agenda específica.

Cerca de um quarto dos portugueses diz ter testemunhado a utilização do termo “fake news” para desacreditar media noticiosos com opiniões opostas.

Maioria dos portugueses não paga por notícias “online”

No pagamento por notícias online, em formato digital, os portugueses continuam, em 2018, a apresentar índices muito baixos de adesão a esta prática. De acordo com os dados de 2018, apenas 8,6% dos inquiridos pagaram por notícias online no ano anterior, menos 0,9% do que em 2017.

Face aos restantes 36 países em análise, Portugal situa-se entre os países onde menos se paga por notícias em formato digital, equiparado com Canadá e Chile, num quadro de análise em que a média é de 12%. Os compradores de notícias em formato digital tendem a ser do género masculino e mais velhos.

Proporção da população que pagou por notícias "online" no último ano, nos 37 países em análise. Gráfico: Reuters Digital News Report 2018


O crescente uso de software de "adblocking" (bloqueadores de anúncios "online") é um fator preocupante na relação dos portugueses com os conteúdos online, em particular com as notícias. Entre 2016 e 2018 a utilização de software de "adblocking" aumentou mais de 5%, atingindo os 31,1% em 2018. O que coloca Portugal entre os 9 países com os mais elevados índices de utilização de bloqueio de publicidade.

Mas se a maioria das pessoas não paga para consumir notícias “online”, os portugueses compram também cada vez menos jornais. A compra de algum título de imprensa escrita na semana anterior à resposta ao inquérito tem estado em lenta, mas consistente queda entre 2016 e 2018, de cerca de 40% para 31%.

Televisão é a principal fonte notícias

Em Portugal, a televisão continua a ser o meio mais utilizado para aceder a notícias, sendo utilizada por mais de 55% dos inquiridos. Em segundo lugar está a internet, incluindo redes sociais (34%). A imprensa e a rádio, apesar de serem bastante utilizadas em geral, têm índices de utilização diminutos enquanto fontes principais de notícias.

No universo online, as principais formas com que os portugueses mais se deparam com notícias continuam a ser o acesso direto a websites de notícias, os motores de busca e as redes sociais (cada uma referida por cerca de um quarto dos inquiridos).

Apesar de computador ser ainda o dispositivo mais utilizado enquanto principal plataforma de consumo de notícias online, o smartphone destaca-se ao ser utilizado em geral por 77,8% dos inquiridos face a 80,7% que utilizaram computador na semana anterior.
Mas se considerarmos os dispositivos móveis em conjunto, observa-se que três quintos dos portugueses utilizaram smartphone e tablet para acesso a notícias na semana anterior à da resposta ao inquérito. Pela primeira vez (2018), há mais portugueses a utilizar dois aparelhos para aceder a notícias na Internet do que a utilizar um só dispositivo.

O formato preferido para consumo de notícias continua a ser o texto, em detrimento do vídeo, sendo que a maioria dos inquiridos está satisfeita com a quantidade de vídeos noticiosos que existe hoje em dia. Os portugueses tendem a ver mais vídeos noticiosos no Facebook e nos websites de marcas de notícias do que no Youtube. No que respeita o consumo geral de vídeos noticiosos, e comparado com os restantes 36 países, Portugal surge bastante próximo da média: 61% dos portugueses dizem ter utilizado vídeos noticiosos na semana anterior, face a uma média 62% dos inquiridos nos restantes países.

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  • Anónimo
    05 out, 2018 21:30
    A Rádio Renascença por vezes faz "fake news" para defender os interesses da Igreja Católica.

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