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Papa a jovens: "Não, o amor não está morto"

25 set, 2018 - 12:06 • Aura Miguel na Estónia, com Filipe d'Avillez

Num encontro com jovens de diversas religiões, na Estónia, Francisco reconheceu as falhas da Igreja que justificam a desconfiança e a descrença, mas expressou vontade de derrubar os obstáculos que mantêm muitos jovens afastados de Jesus.

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Papa. Alguns jovens “sentem a presença da Igreja como algo irritante”
Papa. Alguns jovens “sentem a presença da Igreja como algo irritante”

O Papa Francisco encontrou-se esta terça-feira com milhares de jovens, de diversas confissões cristãs, ou de nenhuma, da Estónia e dos países vizinhos, deixando a promessa de que “o amor não está morto”.

Francisco dirigiu-se diretamente às preocupações e desconfianças da geração dos jovens, reconhecendo que grande parte desta se justifica, dado a falha da Igreja em cativar os mais novos.

“A vós, jovens, acontece muitas vezes que os adultos ao vosso redor não sabem o que querem ou esperam de vós; ou, quando vos veem muito felizes, ficam desconfiados; e, se vos veem angustiados, relativizam o sucedido”, disse o Papa, estendendo o problema à hierarquia cristã e reconhecendo que para esta “é mais fácil falar, aconselhar, propor a partir da nossa experiência, do que escutar, deixar-se interpelar e iluminar por aquilo que vós viveis.”

Sabendo que a Estónia é um país profundamente descristianizado, em que cerca de 70% dos jovens dizem que não têm fé, Francisco foi franco sobre a desconfiança que existe por parte dos mais novos em relação à religião. “Sabemos que muitos jovens não nos pedem nada, porque não nos consideram interlocutores significativos na sua existência. Antes, alguns pedem expressamente para serem deixados em paz, sentem a presença da Igreja como algo molesto e até irritante. Indignam-lhes os escândalos económicos e sexuais contra os quais não veem uma clara condenação, o não saber interpretar adequadamente a vida e a sensibilidade dos jovens por falta de preparação, ou o papel simplesmente passivo que lhes atribuímos”.

Ainda assim, ressalvou o Papa, muitos mantêm a fé. “Apesar da nossa falta de testemunho, continuais a descobrir Jesus dentro das nossas comunidades. Pois sabemos que, onde está Jesus, há sempre renovação, existe sempre a oportunidade de conversão, de deixar para trás tudo o que nos separa d’Ele e dos nossos irmãos. Onde está Jesus, a vida tem sempre sabor de Espírito Santo. Aqui, hoje, vós sois a atualização daquela maravilha de Jesus.”

Por todas estas razões, insiste Francisco, irá realizar-se já em outubro o sínodo sobre os jovens.

Mas o Papa não se ficou pelo apontar de dificuldades e justificações para a falta de fé. No final do seu discurso procurou passar uma mensagem de esperança. “Há cerca de dez anos, uma vossa cantora famosa dizia numa de suas canções: ‘O amor está morto, o amor foi-se embora, o amor já não mora aqui’. E muitos são os que fazem esta experiência: veem que acaba o amor dos seus pais, que se dissolve o amor de casais recém-casados; sentem uma íntima tristeza, quando a ninguém importa que tenham de emigrar à procura de trabalho ou quando se olha para eles com desconfiança porque são estrangeiros.”

“Dá a impressão que o amor esteja morto, mas sabemos que não é assim; e temos uma palavra a dizer, algo para anunciar, com poucas palavras e muitos gestos: é que vós sois a geração mais da imagem e da ação que da especulação, da teoria. E isto é do agrado de Jesus, porque Ele passou fazendo o bem e, na sua morte, preferiu o gesto forte da cruz às palavras”, acrescenta Francisco.

“O amor não está morto; chama-nos e envia-nos. Peçamos a força apostólica de levar o Evangelho aos outros e renunciar a fazer da nossa vida cristã um museu de recordações”, concluiu.

A viagem do Papa Francisco aos países bálticos continua esta terça-feira com mais dois eventos públicos na Estónia. Ao fim do dia o Papa regressa a Roma.



A jornalista da Renascença Aura Miguel acompanha o Papa Francisco na sua Viagem Apostólica à Lituânia, Letónia e Estónia com o apoio da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.


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