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Crime deixa comunidade sem igreja em Moçambique

21 set, 2018 - 14:12 • Filipe d'Avillez

A comunidade católica de Zavala, na diocese de Inhambane, suspeita de que o fogo-posto na Igreja de Zavala pode ter tido origem numa disputa de terreno.

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Igreja de Santa Teresinha do Menino Jesus, em Zavala, Moçambique, antes e depois do incêndio (deslizar a linha vertical para ver as diferenças)

A comunidade católica de Dunhe, em Zavala, na diocese de Inhambane, Moçambique, ficou sem igreja depois de a única que existia na zona ter ardido por completo, na noite de 17 de setembro.

A paróquia desconfia de fogo-posto, e lamenta a destruição da igreja de Santa Teresinha do Menino Jesus, que levará a que a missa de domingo seja celebrada ao ar livre, debaixo de uma árvore, explica o padre Vineesh Thomas, um missionário indiano que está na região.

Segundo o sacerdote, a comunidade tem a certeza que se tratou de crime, até porque o incêndio deflagrou à noite e a água foi cortada, e desconfia que na raiz está uma disputa de terreno.

“Temos a certeza que foi crime porque havia um conflito sobre o terreno onde a Igreja foi construída. Ela foi construída pela família Malalane. O caso de conflito sobre o terreno foi a tribunal e a família Malalane ganhou.”

O advogado Adriano Malalane, que vive em Lisboa, confirma que a Igreja foi mandada construir pela sua família, e o terreno cedido à comunidade. “Durante a guerra houve um homem que ocupou o terreno que pertencia ao meu pai. Quando o meu pai voltou da cidade e começou a tratar do seu terreno, esse homem levou-o a tribunal. Uma vez que existe o reconhecimento do usucapião o tribunal decidiu delimitar o terreno e aquele homem ficou com uma parte e o resto ficou para a nossa família”, explica.

“Quando o meu pai morreu a minha mãe decidiu que a nossa parte não tinha utilidade para nós, e por isso decidiu doar à diocese, mandando construir uma capela, em memória do meu pai. Mas como o acesso à estrada nacional se fazia pelo terreno que tinha ficado para o outro senhor nós conversámos com ele e ele aceitou abrir um caminho de menos de 80 metros até à estrada”.

Ao longo dos últimos anos, contudo, “cada vez que ele semeava o seu terreno, aproximava-se um pouco mais do terreno da igreja”, diz o advogado moçambicano. “Até que este ano a senhora que cuida da igreja decidiu plantar umas mandioqueiras no limite do terreno da igreja”.

A comunidade desconfia que por essa razão o dono do outro terreno terá decidido tomar medidas, tendo contratado um ex-recluso para pôr fogo à capela. O padre Vineesh aponta para um criminoso em particular. “Ele saiu recentemente e este homem tinha um modus operandi muito particular. Onde ele cometia um crime, deixava sempre coisas escritas, símbolos. Quando fomos à Igreja ardida encontrámos também estes sinais perto da Igreja.”

“Ele não tem nada a ver com o terreno nem com a família Malalane. Estamos a deduzir que foi contratado pela pessoa que tem o desentendimento com a família Malalane. Claro que não temos a certeza, mas deduzimos e a comunidade também pensa que pode ter sido ele e que foi contratado para isso.”

Apesar das suspeitas, o sacerdote diz que a comunidade católica vai deixar toda a investigação nas mãos da polícia, e de Deus. “Foi um crime, mas estamos a deixar o trabalho de investigação para a polícia e confiámos na polícia, que vai descobrir os culpados. Também confiamos em Deus.”

Comentários
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  • Angelo
    23 set, 2018 Camarate 08:49
    Tem certeza que isto aconteceu em Zavala? De acordo com vários amigos de Zavala, desconhecem essa capelinha. Será para os lados de Panda ou de Homoíne?
  • Aurelio Malalane
    23 set, 2018 Toronto 05:18

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