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Vindimas 2018. Menos vinho em todas as regiões, mas o Alentejo pode ser exceção

20 set, 2018 - 13:00 • Isabel Pacheco , Liliana Carona , Olímpia Mairos , Rosário Silva

A Renascença fez uma ronda por quatro das regiões vitivinícolas do país. A alegria sempre ligada à época das vindimas é contida, porque o ano vai ser mau. Pelo menos, em quantidade.

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O Douro vai produzir menos vinho este ano. Ninguém tem dúvidas. A chuva dos meses de junho e julho criaram condições para a propagação do míldio e às doenças juntou-se o granizo e, já no início de agosto, um "escaldão", provocado pelo calor, que secou o fruto.

Os vitivinicultores estão desolados e falam num ano “verdadeiramente atípico e para esquecer”. Carlos Silva, produtor no concelho do Peso da Régua, já colheu todas as uvas brancas. Fez a vindima “em dois dias, quando o normal seria demorar uma semana”.

“Foi passar e andar, porque eram mais as uvas secas do que as boas e quisemos despachar, porque, depois, vamos voltar para tirar as secas que não podem ficar para o ano na videira”, conta.

"Só para ter uma ideia, uma vinha que dava cinco mil quilos de uvas, este ano deu mil”, acrescenta.

“Nem vale a pena pagar para vindimar. O míldio afetou as videiras e, apesar dos tratamentos, não produziram efeito. Depois veio a chuva e, mais tarde, o escaldão que queimou tudo”, lamenta, José António, outro vitivinicultor.

As queixas estendem-se a outros concelhos da Região Demarcada do Douro. Filinto Silva, produtor em Santa Marta de Penaguião, conta que "está tudo seco, pouco se aproveita".

"O escaldão deu cabo do que restava. Vai ser difícil enfrentar o ano sem o único rendimento de sustento”, acrescenta.

Daniel Lombas, vitivinicultor no concelho de Murça, revela à Renascença que “as uvas, principalmente as brancas, estão secas, devido ao escaldão”, e que “nem vale a pena vindimar”. Em anos anteriores, o vitivinicultor produzia entre 40 a 50 pipas de vinho do Porto. "Este ano, se conseguir 15, já me dou por contente".

Os dados mais recentes apontam para uma colheita no Douro idêntica à de 2016, que foi de 211 mil pipas.

A diretora-geral da Associação de Desenvolvimento da Viticultura Duriense (ADVID), Rosa Amador justifica a quebra de produção prevista “essencialmente com a continuação do míldio da videira e com o escaldão que houve”.

A situação é, no entanto, muito heterogénea na região demarcada do Douro, até porque a exposição das vinhas e das diversas sub-regiões é muito diferente. Nuns locais, as queixas vão mais para o granizo, noutros mais para as doenças, como o míldio, o oídio ou a podridão negra, e, a tudo isto, junta-se ainda o escaldão provocado pelo calor intenso do início de agosto.

"Quebra considerável" no Dão

Na Região do Dão, prevê-se uma quebra de produção na ordem dos 25%. “Vamos ter uma quebra considerável talvez na casa dos 25%, porque juntam-se dois efeitos: a primavera muito chuvosa, que fez com que houvesse muita flor que não se converteu em fruto, e, depois, a alternância entre chuva e calor, que propiciou bastantes doenças, como o míldio, e o escaldão da primeira semana de agosto. Perdemos muita produção”, explica o presidente da Comissão Vitivinícola Regional do Dão, Arlindo Cunha.

O antigo ministro da Agricultura sublinha, contudo, que o Dão vive um bom momento e, nos últimos quatro anos, as vendas cresceram 45%.

As vindimas no Dão ainda estão em curso. “São vindimas bastante tardias, em relação ao ano passado", porque "houve um desenvolvimento mais tardio das videiras".

"Estão agora a começar as vindimas das uvas brancas e prolongar-se-ão nos tintos até ao final do mês, altura em que estará concluída a maior parte das vindimas. Não é de excluir que em uvas de maturação tardia, possa ser feita a vindima por outubro adentro”, aponta Cunha.

Menos, mas bom verde

A vindima vai ser “mais curta”, este ano, na zona dos vinhos verdes, onde é esperada uma quebra na produção na ordem dos 20%. São menos “14 a 15 milhões de litros” de vinho do que em 2017, antevê o presidente da Comissão Vitivinícola da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV), Manuel Pinheiro, adiantando, ainda, que a redução vai refletir-se mais no vinho tinto do que no branco.

“Tivemos dois efeitos que tornaram difícil a vida dos agricultores: por um lado, o míldio, provocado pelas chuvas ao longo do ano, e, por outro lado, o escaldão provocado pelo calor dos últimos dias de julho", explica.

A menor quantidade vai refletir-se no preço, que vai subir, e na remuneração dos produtores. “As primeiras adegas estão a abrir e estão a propor preços ligeiramente superiores aos do ano passado. Se, assim for, haverá alguma compensação para os agricultores”, confirma Pinheiro.

Quantidade e qualidade não andam necessariamente a par e, se a produção vai cair, o presidente da CVRVV acredita que este "pode ser um bom ano de vinho”.

Dúvidas no Alentejo, onde "há uvas boas a entrar nas adegas"

Na região do Alentejo, a vindima começou mais tarde e vai entrar pelo mês de outubro e, a meio do caminho, ainda se mantêm algumas interrogações.

“Em termos de qualidade, as uvas estão sãs, é um ano com qualidade boa, mas em termos de quantidade é prematuro estarmos a falar disso”, adianta à Renascença, o presidente da Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA), Francisco Mateus.

Até finais de julho, a CVRA esperava que a produção de vinho no Alentejo aumentasse 15% este ano, mas a onda de calor do inicio de agosto,provocou um “escaldão generalizado”, comprometendo essa meta.

Ainda assim, "há uvas boas a entrar nas adegas, de boa qualidade e isso é importante para que os vinhos do Alentejo cheguem ao mercado na forma e com a qualidade a que habituamos os nossos consumidores”.

De acordo com Francisco Mateus, “dois terços dos viticultores” participaram sinistros às companhias de seguros. “Estamos a falar de uma mancha muito grande e neste momento estamos focados nas vinhas que não foram afetadas pelo escaldão, pois são as que podem compensar uma eventual quebra na produção”, sublinha.

Francisco Mateus mantém dúvidas quanto a uma eventual quebra na produção, comparativamente com o ano passado, que teve "92 milhões de litros produzidos", em resultado de três anos consecutivos de quebra de produção. Ou seja, depois de um ano muito fraco, 2018 até pode trazer um aumento.

Com uma quota de mercado na ordem dos 40%, o Alentejo tem nos vinhos uma atividade económica de grande impacto. “Por cada dez garrafas de vinho com indicação de origem vendidas em Portugal, quatro são do Alentejo e isso é uma quota de mercado muito confortável."

Comentários
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  • VICTOR MARQUES
    27 set, 2018 Matosinhos 12:08
    Mas, o Compadri Alentejano nã tá p´ra brincadêras! Bebi do que houveri, da região que fori!!!...

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