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​Morreu Arthur Mitchell, primeira estrela negra do bailado

20 set, 2018 - 17:38

Natural do bairro de Harlem, em Nova Iorque, o autointitulado "Avô da diversidade" tinha 84 anos.

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O norte-americano Arthur Mitchell, um dos primeiros bailarinos afroamericanos, que se intitulava "o avô da diversidade", faleceu na quarta-feira, em Nova Iorque, aos 84 anos.

Um comunicado do Teatro de Dança de Harlem, fundado pelo bailarino, publicado nas redes socias lamentava: "Com profunda tristeza, partilhamos a notícia de que o nosso diretor artístico e fundador, o grande Arthur Mitchell, faleceu. O seu legado e paixão, poder e perfeição sobreviverão através de todas e cada uma das pessoas que tocou na sua vida".

Mitchell nasceu no bairro de Harlem, em Nova Iorque, a 27 de março de 1934, como o segundo de seis filhos.

Na escola primária, um conselheiro escolar animou-o a fazer audições para a Escola Superior de Artes Cénicas, e conseguiu depois uma bolsa para a Escola de Ballet Americano, a escola oficial do Ballet de Nova Iorque.

Durante os seus estudos, o bailarino chamou a atenção do mestre coreógrafo russo George Balanchine, considerado o fundador da dança clássica norte-americana, que o convidou a entrar no City Ballet, em 1955.

Numa decisão audaz para a época, Balanchine escolheu Mitchell para protagonizar uma coreografia com uma bailarina branca, Diana Adams, no revolucionário bailado modernista "Agon" (1967), sobre música de Igor Stravinsky.

"Podem imaginar a audácia de convidar um afroamericano a dançar com Diana Adams, que era vista como a essência e a pureza da dança do Cáucaso", disse Mitchell numa entrevista ao jornal The New York Times, em janeiro deste ano.

"Toda a gente estava contra ele. Ele sabia contra o que estava a lutar e disse-me: 'Tu sabes que isto tem de ser perfeito'", relatou.

Balanchine criou ainda para ele papéis nos bailados "Sonho de uma Noite de Verão" (1962), a partir da obra de Mendelssohn (e Shakespeare), e "Metastaseis & Pithoprakta "(1968), com música de Xenakis.

Também lhe foram entregues primeiros papéis nas criações "Ebony Concerto" (1960), de John Taras, e "The Uniconrn, the Gorgon and the Manticore" (1963), de John Butler.

Arthur Mitchell decidiu criar o Teatro de Dança de Harlem, após o assassinato do líder negro, ativista dos direitos civis, Martin Luther King Jr., em 1968.

O Teatro de Dança de Harlem, que se mantém ativo, afirmou-se entre as principais companhias de Nova Iorque, à semelhança das de Martha Graham, Trisha Brown e Merce Cunningham.

Antes, em 1966, Arthur Mitchell também criou uma companhia que durou pouco tempo - a American Negro Dance Company -- e, depois, com o apoio do governo norte-americano, viajou para o Brasil para fundar o Ballet Nacional, com claros propósitos de integração racial que se refletiram depois na composição das companhias de dança de São Paulo e do Rio de Janeiro.

Deixou igualmente criações no repertório da Companhia Brasileira de Ballet.

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