20 set, 2018 - 14:36 • Celso Paiva Sol
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Bombeiros e peritos sul-africanos, canadianos, espanhóis, australianos, neozelandeses, chilenos e norte-americanos estiveram nos últimos meses em Portugal a partilhar conhecimentos e experiências no combate a incêndios. Nos próximos meses ainda virão brasileiros, argentinos e mais norte-americanos. O líder da Estrutura de Missão do Sistema de Gestão Integrada de Fogos Rurais, Tiago Oliveira, faz um balanço muito positivo.
São bombeiros e sapadores com várias especialidades, peritos em coordenação aérea, comportamento do fogo, liderança de equipas de combate, especialistas em comunicação de risco, em operações com maquinaria, na gestão e recuperação de áreas ardidas e ainda meteorologistas.
Trazer a Portugal peritos estrangeiros foi uma das promessas para 2018 nesta área, mas o arranque da iniciativa não foi pacífico porque no sector dos bombeiros e da proteção civil houve quem achasse um autêntico atestado de incompetência passado às autoridades nacionais.
Trazem métodos, modelos, manuais e estratégias, que depois partilham em ações de formação, palestras, seminários, reuniões e ações práticas no terreno, que incluem combate direto a fogos ou a presença em postos de comando.
Ao todo já vieram 20 peritos estrangeiros que, somando todas as iniciativas, já tiveram contacto com mais de mil pessoas ligadas à prevenção e combate de incêndios em Portugal, de acordo com a agenda pré-definida pela Estrutura de Missão do Sistema de Gestão Integrada de Fogos Rurais.
Tiago Oliveira, o líder deste organismo, faz um balanço muito positivo destes primeiros sete meses de programa de intercâmbio.
A ideia era introduzir conhecimento e experiência no sistema português, e isso, segundo diz, está a ser conseguido.
Não só na gestão imediata das várias vertentes da atual época de incêndios, como também no contributo para a elaboração de futuros planos e diretivas.
“Os australianos, os sul-africanos e os chilenos deixaram cá os guias operacionais para o combate aéreo, os manuais e os procedimentos do programa ‘Fire Wise’ e os guiões da formação e protocolos de treino”, explica Tiago Oliveira.
Os peritos estrangeiros também aprenderam em Portugal. Os chilenos, por exemplo, estiveram no grande fogo de Monchique e verificaram a importância das faixas de segurança.
Tiago Oliveira repete aquilo que tem dito desde que foi escolhido pelo primeiro-ministro, António Costa, para redesenhar o modelo de prevenção e combate: as várias entidades nacionais têm que perceber que é preciso mudar, dando cada vez mais importância ao mérito e à avaliação do desempenho, sublinha.
“Melhorar a relação e a cooperação entre as entidades, para que elas executem uma função em vez de desempenharem um cargo. Cada vez mais, vamos ter que ter as funções descritas e as pessoas executarem essas funções com mérito, com seleção de recursos e com avaliação, no final.”
Sobre este tipo de partilha internacional, que prevê também o envio de duas dezenas de portugueses aos Estados Unidos e a Espanha, Tiago Oliveira diz que, agora, já é vista com normalidade. As críticas iniciais deixaram de se ouvir.
“O processo de mudança faz-se caminhando, com todos. Neste caso particular, da mudança com peritos internacionais, é sempre com grande humildade. Eles não vieram cá ensinar nada. Isto não é nenhuma ciência espacial, eles só vieram mostrar como fazem e nós, com bastante humildade e reconhecendo as algumas dificuldades que temos em cooperar, participar e apreender as coisas. Temos que caminhar para diante, ver o que de bom os outros trazem e aprender.”
Tiago Oliveira considera que este intercâmbio internacional é uma aposta ganha e não tem dúvidas de que terá reflexos nas políticas que vierem a ser definidas, por exemplo, já para o próximo ano.
Entre as duas dezenas de estrangeiros que vieram recentemente a Portugal está uma equipa de sete sapadores florestais chilenos.
Durante um mês partilharam experiências com quase 500 operacionais portugueses e estiveram mesmo várias vezes envolvidos no combate a incêndios.
À Renascença, estes sapadores chilenos dizem que Portugal tem de melhorar no combate estratégico.