18 set, 2018 - 11:37
O regime sírio abateu inadvertidamente um avião de patrulha russo, na segunda-feira à noite, matando os 15 tripulantes. Os sírios respondiam a Israel, que tinha atingido posições rebeldes na fronteira síria com o Irão, mas os russos acabaram por ser apanhados no fogo cruzado
A confusão diplomática acentua-se na Síria, à medida que o regime se esforça para recuperar a cidade de Idlib, o último bastião dos rebeldes anti-regime, que em 2011 arrancaram com a revolução e a guerra.
O conflito dura há sete anos e o governo da Síria, liderado por Bashar al-Assad, voltou a ganhar controlo do país com a ajuda da Rússia. Os rebeldes, apoiados pela Turquia e pelos Estados Unidos, chegaram a controlar Aleppo, a maior cidade do país, mas voltaram a perdê-la para o regime em 2016. O Estado Islâmico também controlou parte do país, mas a queda da sua “capital”, Raqqa, precipitou a perda de território por parte dos extremistas.
O governo de Bashar al-Assad espera acabar com a guerra durante os próximos meses, à medida que tenta tomar Idlib. A ofensiva tem trazido muita controvérsia na cena internacional: tanto a ONU como a UNICEF pediram uma resolução pacífica do conflito, pois em Idlib encontram-se 2,5 milhões de habitantes (entre as quais um milhão de crianças) e os Estados Unidos já avisaram que as forças de Assad poderão usar armas químicas.
Tentar explicar a atual situação na Síria torna-se complexo, devido à multiplicação de nações e fações que se encontram na discussão do conflito. Os americanos têm forças “estacionadas” na Síria, a defender os rebeldes curdos da Turquia, que os considera como os maiores inimigos ao governo de Tayyip Erdogan. Os russos procuram defender o território sírio da entrada de Israel, que tem nos EUA o seu maior aliado. E Israel defende os seus ataques a forças rebeldes dentro do país devido a esses rebeldes serem apoiados pelo Irão.
Foi neste último contexto que ocorreu o ataque da noite de segunda-feira. Russos e israelitas têm procurado manter-se afastados para evitar conflitos diplomáticos maiores. Em novembro de 2015, a paz fora da Síria já se encontrava por um fio, quando a Turquia atacou um avião russo e a Rússia respondeu com retaliação económica.
No início desta terça-feira, o ministério da Defesa russo começou por dizer, através dos media estatais, que 15 pessoas morreram a bordo de um avião Ilyushin Il-20 a 35 quilómetros do Mar Mediterrâneo e que a culpa seria de Israel. O ministro chegou a avisar que a Rússia poderia responder às ações “hostis” de Israel e que a Rússia se reservava a uma "resposta adequada". No entanto, o presidente russo Vladimir Putin reduziu a tensão no ar e, em conferência de imprensa esta terça-feira, disse que a queda do avião foi "o resultado de uma cadeia de erros trágicos". Respondendo à agência de notícias russa TASS, Putin disse que falará ao telefone com o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, sobre o incidente, no mesmo dia.
O curioso aspeto da situação é que os misseis que abateram o avião russo foram lançados pelos seus aliados sírios. A defesa anti-aérea do regime estava a responder a um ataque aéreo israelita a rebeldes na fronteira, mas acabou por atingir um avião de patrulha marítima.
Os 15 russos são as maiores baixas devido a “fogo amigável” desde que a Rússia entrou na guerra, em 2015, do lado do regime de Bashar al-Assad.