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Perguntas e Respostas

O que diz, afinal, o relatório da OCDE sobre os salários dos professores?

14 set, 2018 - 14:39 • Inês Rocha

Sindicatos acusam a organização internacional de divulgar dados errados. Mas, afinal, o que diz exatamente o relatório sobre os salários dos professores?

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O relatório "Education at a Glance 2018", da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), divulgado na terça-feira, lançou a polémica. Dados erradamente divulgados pela imprensa fizeram crer que um professor em início de carreira ganha mais de dois mil euros brutos por mês.

A Fenprof acusou a organização de apresentar dados falsos, mas, afinal, o que diz exatamente o relatório?

O relatório da OCDE diz mesmo que os professores ganham 28.500 de salário anual bruto, em início de carreira?

Não. Os valores que constam no relatório da OCDE têm em conta o equivalente poder de compra em cada país no ano de 2017 (paridades de poder de compra), o que permite a comparação entre os dados dos diferentes países.

Logo, os 32.887 dólares americanos indicados como salário de um professor em início de carreira não equivalem a 28.366 euros, como inicialmente indicado numa notícia avançada pela agência Lusa e reproduzida nos órgãos de informação nacionais, incluindo na Renascença. A informação foi entretanto corrigida.

O que são paridades de poder de compra?

A Paridade de Poder de Compra Padrão, ou PPS (Purchasing Power Standard) é uma unidade monetária artificial. Em economia, é um método alternativo à taxa de câmbio para se calcular o poder de compra dos países.

Uma PPS assenta na divisão de um dado agregado económico de um país na moeda nacional pela respetiva Paridade de Poder de Compra (Purchasing Power Parities, PPP).

A PPP é necessária porque a comparação dos produtos internos brutos (PIB) numa moeda comum não descreve com precisão as diferenças em prosperidade material, ou seja, o poder de compra dos cidadãos nos diferentes países.

Teoricamente, uma PPS permite comprar a mesma quantidade de bens e serviços em todos os países. Contudo, as diferenças de preços entre os países fazem com que, para se comprar os mesmos produtos e serviços, sejam necessárias em cada país diferentes quantidades de moeda nacional.

Nos seus relatórios, a OCDE usa este método de conversão para poder comparar países – por isso, não podemos fazer uma conversão direta entre os dólares americanos apresentados no relatório para euros.

Com quem é que o relatório compara os professores, em termos de rendimento?

O relatório da OCDE faz uma comparação entre os rendimentos dos professores e diretores das escolas com a média dos rendimentos de outros trabalhadores com formação superior, com idades compreendidas entre os 25 e os 64 anos. Este estudo não faz distinção entre trabalhadores do estado e trabalhadores no privado, pelo que aqui estão englobados todos os trabalhadores que têm um grau de formação superior.

O relatório diz que os professores ganham, em média, mais 35 a 50% quando comparados com outros trabalhadores com iguais qualificações. A maior diferença nota-se nos professores do pré-escolar, uma vez que, segundo o relatório, em Portugal, os docentes recebem o mesmo salário, independentemente de estarem numa sala da pré-primária ou com alunos do secundário.

Uma realidade diferente da de muitos países da OCDE, como República Checa, Dinamarca, Finlândia e Suíça, onde a média dos vencimentos vai aumentando consoante se o professor está responsável por ensinar uma turma de alunos mais velhos.

Os números do relatório mostram que no pré-escolar os professores da OCDE ganham, em média, menos do que os portugueses, mas no secundário já têm um ordenado superior.

Quais são, afinal, os salários dos professores?

Segundo a tabela de remunerações publicada pelo Sindicato dos Professores da Grande Lisboa, a remuneração base de um professor contratado licenciado e profissionalizado é de 1.373,13 euros. Em termos líquidos, o valor pode oscilar entre os 942,03 euros mensais e os 1.003,03 euros, conforme o estado civil e o número de filhos.

Um professor no 1º escalão ganha 1.518,63 euros de ordenado bruto. O ordenado líquido varia entre os 1.025,43 euros e os 1.093,43 euros.

Já um professor no 10º escalão – que esteve vazio até este ano, devido ao congelamento da carreira dos professores – ganha 3.364,29 euros de ordenado bruto. O ordenado líquido varia entre os 1884,47 euros e os 1982,47 euros.

Como é que a OCDE caracteriza a classe dos professores portugueses?

Uma das razões, segundo o relatório, que pode explicar a grande diferença entre os rendimentos médios dos professores e os restantes trabalhadores qualificados é que, em Portugal, a classe dos professores é uma das mais envelhecidas da Europa.

A percentagem de professores com 50 ou mais anos de idade aumentou em 15% entre 2005 e 2016. Já nos restantes países da OCDE, o envelhecimento foi, em média, de apenas 3%.

Em 2016, apenas 1% de todos os professores portugueses tinha menos de 30 anos, enquanto que na média dos outros países da OCDE, 11% dos professores estavam nesta faixa etária.

O que explica o envelhecimento da classe dos professores portugueses?

O relatório da OCDE aponta uma razão para a diminuição de professores jovens: devido às reformas na educação dos últimos anos, o governo português tem contratado menos.

Segundo o relatório, entre 2005 e 2016, o número de alunos por turma nas escolas do 1º ciclo do ensino básico aumentou em 16%, o segundo maior aumento em todos os países da OCDE, que na sua maioria diminuíram o número de alunos por turma. Isto significa que o rácio alunos-professores aumentou entre estes anos.

Este aumento foi contrariado este ano, na sequência de um acordo entre Governo e PEV.

No ano letivo 2018/2019, as turmas de 1.º ciclo passam a ter no máximo 24 alunos e as de 2.º e 3.º ciclos poderão ir até aos 28.

Comentários
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  • INFELIZSECXXI
    03 out, 2018 16:30
    Coitadinho, não consegue ter poder de compra para viver em Portugal. Desculpe, mas quando refiro progressão na carreira é referente à tabela dos docentes ou equiparada. Sr. SECXXI não tenho, nem vislumbro ter, qualquer problema de sobrevivência, pelo contrário, estou apto para inúmeras funções, A minha formação é contínua. Não nasci rico, mas aos poucos fui conquistando o meu espaço, sem xular ou sugar, outros à minha volta. Comecei com 13 anos por trolha, depois pedreiro, aprendiz na metalomecânica, Operador soldador, fui estudar aos 30 anos e sem ajuda dos professores, fiz o 3º ciclo, secundário, e licenciatura em contabilidade, seguidamente passei por controlador, técnico de Ambiente, técnico de Qualidade, Diretor da Qualidade e atualmente CEO de uma empresa. E ainda sou formador, Ya também dou aulas. Mais, estou habilitado a professor de Matemática, de Economia e Contabilidade. Atualmente a Venezuela está como está, tal como ficará Portugal com gente como o Senhor Éss. É. Cê Xis Xis i. Para saber o que é um parasita vá à Wikipédia. Se acham que estão mal procurem outra profissão. Não estou contra os professores, mas sim contra as exigências destes e contra a desigualdade. Alguns professores são excelentes profissionais, outros só mesmo parasitas. Sou testemunha, pois conheço o trabalho de muitos. Se quiser umas aulas de economia, apite!
  • secxxi dsl
    24 set, 2018 12:54
    O que é o parasitismo para ti? Um professor é um parasita? Como é que chegaste ao ponto de escreveres uma frase e meia com tanta asneira? Foi com o parasitismo dos professores? Depois falas em mérito, mas dizes que trabalhas há 36 anos sem nenhuma progressão. Mais um tolo feliz que aceita tudo e ainda se orgulha por isto. É claro que não estou aqui só para defender professores, mas acho que estes lutam pelos seus direitos, coisa que todos os outros deveriam fazer. O problema é que há muitos tolos que se contentam com tudo mas ainda pensam que são os salvadores da terra. Não são. Apenas causam danos aos outros demais. Por isso é que este país está como está. Um país com um nível de vida caros como os países ricos, mas com salários e poder de compra como os países do terceiro mundo. Gente como tu merece é viver como muitos da venezuela. e acabo por aqui.
  • DSL
    21 set, 2018 VLC 13:22
    Progressão na carreira, o que é? Trabalho à 36 anos e não sei o que é isso. Apoio a remuneração por mérito, não por parasitismo. Muito dinheiro é desperdiçado sem a devida compensação.
  • FERNANDO MACHADO
    19 set, 2018 PORTO 15:23
    LAMENTO QUE ALGUÉM QUE SE IDENTIFICA(?) COMO "CAMINHA-SE PARA LÁ", COMENTE OU FAÇA JUÍZOS DE VALOR SOBRE UM COMENTADOR DEVIDAMENTE IDENTIFICADO. O "CAMINHA-SE PARA LÁ", PODIA SER UM POUCO MAIS EDUCADO, A NÃO SER QUE NÃO SEJA HOMEM, MULHER OU TRAVESTI. TALVEZ SEJA UM ANIMAL IRRACIONAL
  • Caminha-se para lá..
    19 set, 2018 10:51
    Oh fernando machado, este seu comentário não tem por onde se pegue, é irracional, estupido e sem qualquer lógica. "SENHORES PROFESSORES, TAL COMO OUTRA PROFISSÃO QUALQUER, CASO NÃO CONCORDEM COM O QUE GANHAM, MUDEM DE PROFISSÃO..." Bom, então terias que perguntar a todos os precários se não gostavam de ganhar um salário digno e mudar de profissão (???) Era bom que todos achassem trabalho na porta ao lado...Ou acha que todos os que ganham o salário minimo e que muitas vezes até trabalham horas a mais estão todos felizes da vida??? O que propõe? que os professores passem ao privado para o salário minimo?Você de certeza é daqueles que tira um bom salário por mês, quem sabe patrão? Só pode ser. A não ser um tolo feliz que se contenta com tudo... Este país está condenado à desgraça. Qualquer dia isto passa a ser igual à Venezuela. Aliás, já deverá haver muitos a viver à venezuelana....O que é revoltante é ver constantemente gente que se encontra melhor que muitos outros a vir para aqui falar em benefícios de trabalhadores, quando todos, incluindo públicos e privados, estão sempre de mal a pior, mais pobres com carreiras e salários congelados e face a um nível de vida caro com uma moeda unica que desde que entrou, em 2002, passou a valer metade do escudo e a comprar pela metade do que se comprava pelo escudo, ou será que iluminados como tu têm a memória curta ou precisam de um desenho? Depois é sempre o mesmo: os privados contra os trabalhadores públicos. É tanta estupidez....
  • FERNANDO MACHADO
    18 set, 2018 PORTO 10:29
    O ESQUEMA DE ENSINO QUE VIGORA EM PORTUGAL, FOI FEITO PARA SUSTENTAR SALÁRIOS DOS PROFESSORES BAIXOS OU ALTOS, NÃO SE DISCUTE. O QUE SE VERIFICA É QUE 85% DOS ORÇAMENTOS, DESTINAM-SE A PAGAR SALÁRIOS AOS PROFESSORES. OS RESTANTES 15% DESTINAM-SE A DESENVOLVER E APLICAR PROGRAMAS. OS SENHORES PROFESSORES, TAL COMO OUTRA PROFISSÃO QUALQUER, CASO NÃO CONCORDEM COM O QUE GANHAM, MUDEM DE PROFISSÃO...
  • Luna
    16 set, 2018 19:21
    Deviam analisar a tabela de remunerações do ensino particular e cooperativo e comparar primeiro com a tabela do ensino público e depois com as dos restantes países. É que em Portugal os professores não têm todos o mesmo vencimento, pelo contrário, o ensino privado paga menos que o público.
  • Anónimo
    16 set, 2018 16:49
    A Rádio Renascença não tem moral para falar pois também destilou ódio contra os professores.
  • Peircles
    15 set, 2018 lisboa 15:32
    Conclusao professores velhos remuneração media superior?Para sobreviver no inicio carreira,900,00 líquidos,deslocado tem q viver em comunas e nao ter filhos.Esta situação ou pior é transversal a varias profissões daí a queda brutal demográfica emigração.A economia tem regras restritivas não amigas não há investimento externo e tudo vai piorar.
  • professor
    15 set, 2018 me 14:05
    Ou seja, primeiro vamos à "queima" para incendiar a opinião pública, agora que os professores não desistiram das reivindicações e convém mostrá-los como uma cambada de privilegiados malandros, que só querem mais e mais ... Como o pessoal já não é tão crédulo e começaram a consultar a NET que por enquanto o governo ainda não controla - não é como alguns canais de TV cujos "comentaristas" são tão parciais a favor de quem lhes paga (governo) que metem nojo - e a patranha foi desmascarada, agora já vêem dizer "ah e tal, e quantos e não é bem assim .. e tal e quantos" . O costume ...

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